Adolescência e Depressão
Por Dr. Wagner Paulon
18/05/2008

Celebrar que uma pessoa está "deprimida" é informar muito pouco. As condições depressivas podem variar desde estados temporários de melancolia, relativamente inofensivos embora agudos, que ocorrem em resposta-a alguma perda genuína (digamos, da pessoa amada, ou de um relacionamento estável) até condições de séria perturbação psicótica que envolve tanto dano mental como emocional. Estas desordens depressivas psicóticas são raras na adolescência, embora sejam comuns os sentimentos depressivos em escala menos alarmante. Aliás, como afirmou Irene Josselyn, autoridade no tratamento de adolescentes: "Se existe algum estado emocional universal neste grupo de idade, é a depressão”.

Dentre grande parte dos adolescentes, tais sentimentos são transitórios, apenas um aspecto dos altos e baixos afetivos comuns aos adolescentes. Já para outros, a depressão ou melancolia pode se tornar o estado de humor predominante; e é a essa altura que assume as proporções de verdadeiro distúrbio clinico, exigindo ajuda profissional. Sem tratamento, tal depressão pode se tornar crônica e até levar ao suicídio.

Nos adolescentes, a depressão em geral se manifesta de forma diversa daquela por que é comumente manifestada entre os adultos. Os adolescentes podem mostrar pouca vontade de falar a respeito dos próprios sentimentos e também podem exibir "equivalentes depressivos" como tédio ou agitação que confundem o quadro. A incapacidade de ficar sozinho ou a procura constante de novas atividades, uso de drogas, promiscuidade sexual, delinqüência, correr riscos desnecessários (inclusive, comumente, dirigir sem cuidado), tudo isso pode muito bem indicar uma depressão oculta embora, claro está, também possa resultar de outros problemas.

Nos adolescentes, a depressão em geral, costuma assumir uma dentre duas formas possíveis. Na primeira, o jovem pode se queixar de falta de sentimentos e de uma sensação de vazio. Esse tipo de depressão assemelha-se ao luto: “Os adolescentes desse grupo estão em luto pela perda de sua identidade infantil, e não conseguem achar uma identidade adulta em que possam se enquadrar”. O problema se caracteriza menos pelo fato de os adolescentes não terem sentimentos do que pelo fato de infelizmente serem incapazes de se haver com os que têm, ou de exprimi--los.

Existe um segundo tipo de depressão no adolescente que costuma ser mais difícil de resolver. Baseia-se em experiências repetidas e bem estabelecidas de derrota ou de fracasso. Grande parte das tentativas de suicídio cometidas por adolescentes, de fato, não é resultado de impulso momentâneo, mas o fim de uma longa série de tentativas malogradas de encontrar soluções alternativas para as próprias dificuldades. A gota que faz o copo transbordar, neste tipo de depressão, é, com freqüência, a perda de um relacionamento desejado, quer com algum dos pais, quer com amigos.


Dr. Wagner Paulon - Formação em psicanálise (Escola Paulista), mestre em psicopatologia (Escola Paulista), psicologia (Saint Meinrad College) USA, pedagogia (FEC ABC), MBA (University Abet) USA, curso de especialização em entorpecentes (USP), psicanalista por muitos anos de vários hospitais de São Paulo.