Ao diminuir expectativas suas decepções diminuem
Por Rosemeire Zago
06/03/2010

"Pense sobre suas expectativas, em que áreas elas aparecem mais? O que você tem feito para que se realizem? Se quiser se aprofundar mais, escreva sobre cada uma de suas expectativas não realizadas e veja se eram coerentes com a realidade" É muito comum criarmos expectativas sempre que estamos em um projeto ou querendo obter algum resultado de algo que esperamos. A espera do resultado, do que quer que seja, sempre gera ansiedade e expectativa. A maioria de nós sempre espera que certas coisas aconteçam de certa maneira.

O que dizer quando estamos dentro de um relacionamento e ficamos sempre esperando um telefonema, a presença constante, uma atitude?

As expectativas são o que pensamos que deve acontecer como resultado do que fazemos, dizemos ou planejamos. E a decepção é inevitável quando as coisas não saem como planejamos.

Você espera pelo aumento que acredita merecer, espera que seu relacionamento dure para sempre, deseja nunca mais ficar só, espera que seus amigos o compreendam quando mais precisa deles, espera não ser julgado nem criticado quando algo não dá certo, espera pelo reconhecimento, enfim, estamos sempre a espera que algo aconteça.

Quando somos frustrados em nossas expectativas, nossos medos mais secretos podem surgir, como o medo de não mais ser amado, ser abandonado, rejeitado, não reconhecido pelo que faz, não correspondido no amor que sente. A sensação de que não temos valor, que não valeu à pena a espera, que já sofremos tanto, por que de novo, por que comigo, são alguns dos pensamentos que tomam conta de nossa mente.

Suas expectativas são coerentes com a realidade?

Esperamos sem nada fazer quando acreditamos no pensamento mágico, em nossas fantasias e desprezamos os dados de realidade. Você já se perguntou se suas expectativas são coerentes com a realidade? Talvez seja uma pergunta importante para explorar. Muitas vezes a realidade está muito distante de nossas expectativas, mas a ignoramos. A expectativa consome nossa paciência, harmonia e equilíbrio interno. Parece que quanto mais esperamos mais difícil se torna chegar ao resultado. E nesse compasso de espera, como nem sempre temos controle de tudo, nos decepcionamos.

Nesse momento é muito comum a busca por culpados. Costumamos culpar alguém por quase tudo. Essa é uma maneira sutil de não enfrentar os próprios desejos, que em geral ficam ocultos. As expectativas não realizadas geram raiva, autopiedade, e nos colocamos no papel de vítima. Pensamos o quanto o outro foi injusto. Pode até ser que tenha sido mesmo, mas será que não recebemos sinais de que isso poderia acontecer e os desprezamos? Será que é a outra pessoa que nos decepciona ou nós que esperamos algo que nem sempre podem nos dar? Claro que depende de cada caso, como uma situação no trabalho que alguém te prejudicou seriamente.

Outro conflito muito comum gerado pela expectativa, é quando esperamos alguma atitude de alguém e não expressamos o que queremos, como se o outro tivesse a capacidade de ler nossos pensamentos. Um exemplo muito comum é o marido que chega em casa depois de um dia estressante de trabalho, desejando apenas descansar e receber um forte abraço da esposa, mas ao vê-la preparando o jantar, pensa que ela deve estar envolvida com o que está fazendo e para não atrapalhar, a cumprimenta rapidamente com algumas palavras e se retira; ela por sua vez, espera que o marido lhe dê um abraço, conte como foi seu dia, se interesse pelo que ela fez, o que terá para o jantar. Conclusão: os dois acabam frustrados, ela só na cozinha e ele só assistindo TV. Os dois queriam receber um abraço, mas como reagiram de acordo com os próprios pensamentos, imaginando o que o outro estaria pensando, ambos acabam se frustrando.

Identifique suas expectativas

Nem sempre as pessoas sabem exatamente como nos sentimos. Por isso o mais indicado é identificar suas expectativas. Ao dizer: “você me ignora toda noite ao ficar assistindo televisão” é muito diferente de dizer: “eu me sinto ignorada quando você fica assistindo TV”. Quando as expectativas não são expressas tendemos a fazer um julgamento impulsivo diante do comportamento do outro e que nem sempre corresponde ao que o outro desejava demonstrar. Verbalizar suas expectativas é importante em qualquer relação.

Pactos de silêncio acontecem muitas vezes sem que percebamos e geram muitos conflitos. Todos nós queremos que as coisas aconteçam de um certo modo, mas quando este desejo não se realiza ficamos irados e sequer conseguimos pensar. As expectativas em geral nos deixam com uma venda nos olhos, não conseguimos enxergar a situação em sua totalidade e podem impedir nosso crescimento e a capacidade de manter relações saudáveis.

Quando foi a última vez que você se sentiu frustrado porque alguém não agiu como esperava? Você culpou a outra pessoa mesmo ela não sabendo o que você esperava dela? Geralmente quando culpamos alguém é porque tínhamos expectativas de que aquela pessoa “deveria” ter agido de maneira diferente do que fez. As expectativas sempre nos deixam fora de controle. Quando compreender que não é responsabilidade de ninguém “adivinhar” o que você quer, seus conflitos podem diminuir.

Quando nossas expectativas são um fator primário na maneira em que pensamos, ouvimos, falamos, a decepção se torna uma constante. E quando as expectativas de nossos próprios comportamentos são frustradas? É muito doloroso manter a expectativa enquanto percebe que o tempo passa e que seu desejo está longe de ser alcançado.Você aguarda e aguarda, até desistir. Mas o que tem feito para alcançar efetivamente o que deseja? Muitas pessoas simplesmente ficam em compasso de espera, acomodadas no velho e conhecido padrão antigo de comportamento, em sua zona de conforto, como se não dependessem delas para que as coisas aconteçam como deseja.

É certo que há situações que somos impotentes ou quando esperamos a atitude de alguém, mas ainda assim, se criar expectativas em relação ao comportamento de outra pessoa, estará no caminho mais seguro para se decepcionar e se frustrar. As expectativas podem nos mover, motivar, mas também nos destruir internamente, pois quanto mais expectativas criamos, mais estamos propensos a nos decepcionar.

Pense sobre suas expectativas, em que áreas elas aparecem mais? O que você tem feito para que se realizem? Se quiser se aprofundar mais, escreva sobre cada uma de suas expectativas não realizadas e veja se eram coerentes com a realidade. Talvez você descubra coisas novas sobre si mesmo. Talvez aprenda a aceitar o que realmente está acontecendo e como lidar com a situação. Nem sempre as coisas acontecerão da maneira como desejamos, mas nem por isso devemos parar de lutar, talvez apenas seja um sinal de que o mais indicado é mudar o caminho e não seu destino em chegar aonde deseja.

Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior. Email: r.zago@uol.com.br