Após a Separação... O Difícil Encontro Consigo Mesmo
Por Rosemeire Zago
06/03/2010
Quando passamos por um momento de perda, pelo fato de ter havido uma
separação, o mais indicado para uma recuperação é a consciência do
que ocorreu e do que está sentindo. É um momento marcado por muita
confusão, dúvidas, com a única certeza do desejo de querer paz e ser
valorizado por tudo aquilo que se tem de melhor. Durante o período
da saudade, vive-se uma alternância de raiva e tristeza. Raiva pelo
que aconteceu e da forma que aconteceu e tristeza por tudo de bom
que se viveu e não vive mais. A saudade é pelos momentos bons
vividos, esquecendo-se muitas vezes do real motivo que motivou a
separação.
Conseguir examinar a relação passada com objetividade e serenidade
não é uma tarefa simples, principalmente para quem não está
acostumado a refletir e analisar suas próprias emoções e
sentimentos. Mas é o caminho que poderá aumentar a consciência de
si, dos próprios limites, e evitar buscar culpados, como algumas
pessoas tendem no final de um relacionamento, sem jamais chegar de
fato às causas dos problemas que aos poucos foram se instalando.
É preciso analisar com o maior distanciamento possível a relação
passada e avaliar os fatores que influenciaram essa decisão,
compreendendo o passado, tudo que ocorreu, lembrar de fatos e o que
levou cada um a tomar as atitudes que foram tomadas e analisar
principalmente, em que ponto seu próprio crescimento foi
interrompido. Algumas pessoas se separam com muita certeza do que
querem; mas outras, no entanto, fazem por pura impulsividade, num
momento de nervoso, e muitas vezes apenas com o intuito de fazer o
outro levar um susto, e sem pensar muito em como irão se sentir com
essa decisão e quando percebem já estão separadas e sentindo muita
dor.
Umas das características da separação é deparar-se com a solidão,
como também muitas pessoas evitam a separação por medo de
sentirem-se sós. Ainda que existam filhos, há a solidão de estar
sozinho com os próprios sentimentos, medos e tudo mais que a
separação provoca. Esse é um dos motivos que podem fazer uma pessoa
envolver-se com outra logo após uma separação: o medo de ficar só. O
mais aconselhável é dar um tempo para si mesmo, pois só estará
efetivamente aberto para uma nova relação a dois quando for capaz de
enfrentar a vida sozinho, a menos que já tenha a certeza de que a
relação passada não deixou nenhum vestígio, o que raramente
acontece.
Envolvendo-se muito rápido num novo relacionamento, corre-se o risco
de levar consigo todos os comportamentos negativos da relação
passada. É como se a falta de vínculo criasse um vazio enorme, onde
a vida parece sem sentido e nada vale a pena, sentindo que só
voltará a viver se tiver outro relacionamento. Enquanto estão
sozinhas, muitas pessoas recorrem ao uso de álcool, drogas, comida
em excesso ou deixando de alimentar-se como uma fuga, ainda que
muitas vezes inconsciente, de uma realidade dolorosa. Mas com
certeza, não é negando e nem fugindo do que se sente, é que será o
melhor caminho para se livrar de toda a dor. Pois nessa fuga
incessante de si mesmo, não se permitindo refletir sobre seus
sentimentos e sua realidade, irá manter cada vez mais seu sofrimento
e adiar a tão sonhada paz.
O sentimento de solidão na maioria das vezes provoca muita angústia
e traz um forte sentimento de autodepreciação e insegurança, com
pensamentos freqüentes de que nada vale, e que ninguém o ama. O que
não é verdade. É preciso se lembrar de quando a relação começou.
Havia sonhos, desejos, ilusões, e que por alguns motivos, deixaram
de existir.
Solidão
A característica da solidão ainda consiste em nunca ter prazer em
ficar só consigo mesmo. Como ficar com alguém que é tão mau,
constantemente abandonado, rejeitado, desprezado? Por isso tende a
fugir desses sentimentos tão devastadores, e ao invés de eliminar a
angústia, alimenta-a ainda mais. É preciso ter consciência que nada
adianta manter esses pensamentos de si mesmo, pois com certeza eles
não refletem a realidade. Nem se trancar em casa e fechando-se,
deixando que o desespero e as lágrimas tomem conta. Como também não
irá melhorar ficar sem comer, ou comer em excesso, ou ocupar-se com
a vida de outras pessoas, tudo isso só irá agravar esse momento tão
delicado.
Essa fuga de nada adianta pelo simples fato de que se pode fugir de
tudo, menos de si mesmo e do que está sentindo. É claro que nem
todas as pessoas se dão conta de que estão fugindo, pois justificam
para si próprias a necessidade de agirem de tal forma.
É essencial se convencer de que ficar sozinho pode ter muitas
conquistas importantes, como permitir a introspecção, a reflexão dos
fatos, e principalmente, um maior encontro com seu verdadeiro eu.
Viver sozinho não significa necessariamente sentir-se só. Afinal,
quantas vezes não se sentiu sozinho, mesmo quando estava com a
ex-companheira? Ou com amigos e familiares? Não confunda a solidão
física com a emocional, pois só se sente só quem abandona a si
mesmo. A solidão nasce dentro da própria pessoa, quando ela perde o
contato com seu eu interior ou quando procura fugir de um problema,
sentimento ou pensamento que a incomoda.
Pense em quantas coisas você deixou de fazer porque o ex não gostava
ou por falta de tempo? Quando há uma separação é comum no começo a
disponibilidade de tempo assustar e fazer com que se sinta
imobilizado, mas passado o período de adaptação, poderá descobrir as
inúmeras coisas que poderá fazer por si mesmo. Ao se separar, irá
ter muito mais tempo para fazer coisas que gosta e que nem se lembra
mais. Por que não visitar uns amigos, ler aqueles livros que comprou
e sequer os abriu, dedicar-se a um hobby, fazer um trabalho
voluntário? São pequenas coisas que poderão aos poucos lhe trazer de
novo o prazer de viver.
De fato, os momentos de saudade e tristeza pelas lembranças do
passado são inevitáveis, mas é importante vivê-los consciente de
todo o aprendizado, e dar ao passado o direito de existir sem que
para isso precise se destruir. Ninguém pode evitar a sensação de
abandono e a falta de quem se foi faz em sua vida, mas também
ninguém pode te privar de que sinta uma força interior que aos
poucos irá adquirir ao se permitir estar em paz consigo mesmo. E
isso não tem preço!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br