A Arte de Gerir Pessoas
Por Rogerio Martins
18/01/2008
A atual era da informação e da tecnologia nos coloca uma questão
inquietante: como gerir e aproximar pessoas em um tempo onde os
indivíduos estão cada vez mais individualistas e focados no ganho
pessoal? Durante anos a máxima foi: cobre resultados e exija o
máximo de seus subordinados.
Hoje sabemos que mais do que simplesmente cobrar resultados é
preciso criar um ambiente saudável e estimulante para que as pessoas
produzam mais e melhor. Esta função passa diretamente pela
capacidade que o gestor deve possuir de estabelecer relações
positivas com seus subordinados, e estimular o espírito de equipe.
A tarefa não é fácil, até porque a maior parte dos atuais líderes
das organizações são pessoas que foram formadas tecnicamente para
agir em suas áreas de especialização. Quantos gestores atuais
tiveram formação em comportamento humano nos bancos de suas
universidades? Quantos buscaram por conta própria este conhecimento?
Quais empresas têm investido continuamente em seu grupo de gestores
para torná-los mais “humanos” no relacionamento com seu pessoal?
Certamente que as respostas tendem a um crescimento na humanização
do gerenciamento de pessoas. Há mais universidades ensinando além do
currículo formal, mas ainda é pouco. Também sabemos de profissionais
que investem não somente em cursos de MBA, mas também em sua
formação como gestor de pessoas. O fato é que este processo é lento
e requer muito mais do que conhecimento teórico. É preciso atitude.
Vou ilustrar este pensamento através da história de Wilson.
Profissional dedicado, trabalhava há mais de dez anos em uma empresa
de pequeno porte, sempre em áreas relacionadas com a produção. Até o
dia que teve a grande chance: foi promovido a chefe de pessoal.
No início veio um misto de euforia, contentamento e desespero. “Será
que conseguirei dar conta do recado?”, pensou. A questão é que
Wilson não foi devidamente preparado, e muito menos se preparou,
para gerenciar um grupo de pessoas. Sua experiência era
eminentemente técnica.
Até então ele era um dos membros deste grupo, e agora estava à
frente de seus colegas. Os primeiros meses foram difíceis. Os até
então colegas, passaram a vê-lo como uma pessoa autoritária e
distante. Com isso, começou a se afastar do grupo. Logo vieram as
primeiras reclamações sobre seu comportamento. As pessoas diziam que
ele havia mudado, tinha perdido a alegria e eficiência de sempre. E
isso era verdade.
Wilson começou a agir de modo isolado, sempre reativo e nervoso. Em
pouco tempo já dava sinais de estresse. O ponto alto de seu
descontrole foi quando reagiu aos gritos, no meio da fábrica, por
causa de um problema irrelevante. Foi aí que seu superior interveio.
Demorou para fazê-lo, mas sua atitude foi educativa.
- Wilson – disse o gerente Gérson - uma das virtudes dos grandes
líderes é o autocontrole.
Gérson ainda comentou que o líder é como um espelho. Suas atitudes
refletem nos subordinados ações positivas ou negativas. Falou,
ainda, que se o líder não tiver autocontrole ele irá gerar um
ambiente de cobrança, tensão e má qualidade. Oposto a isso, quando o
líder consegue manter seu equilíbrio emocional, ele conquista dos
seus funcionários a melhor produtividade, pois as pessoas irão
valorizar o ambiente onde os erros são vistos como forma de melhoria
e aprendizado.
Wilson refletiu sobre o que seu superior havia comentado, mas não
sabia como colocar isso em prática. Afinal, aprendeu com antigos
gestores esta mesma forma de agir. Porém, colocou para si mesmo o
desafio de prestar atenção a tudo o que o tirava do sério, o que o
deixava tenso e nervoso.
Nos primeiros dias percebeu e anotou algumas situações que
aconteceram e fizeram com que tivesse o pensamento e algumas
atitudes de descontrole. À medida que foi anotando e revendo o que
havia escrito percebeu um padrão nos acontecimentos. Na maior parte
das vezes o que o fazia perder o controle emocional estava
relacionado a falta de treinamento do seu pessoal. Como sempre
reagia de forma intempestiva as pessoas tinham receio de perguntar e
cometiam erros. Estes erros o tornavam mais nervoso e assim se
formava uma cadeia de desequilíbrio emocional e ambiente tenso.
Aconselhado por seu superior passou a observar mais seu pessoal,
conhecer melhor suas fraquezas e limitações. Com isso, pôde
assertivamente treinar sua equipe, diminuir os erros que eram
freqüentes e tornar-se mais próximo de sua equipe. Assim, Wilson foi
corrigindo sua postura como líder e se preparando melhor para
gerenciar pessoas.
Então, quando tratamos de gerenciamento de pessoas é preciso ficar
atento alguns fatores importantes:
1. O líder é o espelho de sua equipe. As pessoas vêem nele uma
referência. Por isso, o líder deve ser o primeiro a perceber suas
atitudes positivas e negativas. Esta auto-análise passa por um
profundo conhecimento de suas atitudes no dia-a-dia. Faça uma lista
do que gera tensão, irritação, alegria, satisfação e outros
sentimentos no seu ambiente de trabalho. Esta lista irá ajudar sobre
como agir em cada situação.
2. Ter autocontrole das emoções é uma obrigação da liderança. No
mundo moderno não há mais espaço para o líder que cria ambiente de
medo. As pessoas querem, antes de tudo, trabalhar em um ambiente
saudável em termos físicos e emocionais. Peça feedback para as
pessoas que poderão ajudar no seu processo de desenvolvimento
pessoal.
3. Busque o aprimoramento pessoal através de cursos, livros,
seminários, palestras, vídeos e também no contato com outros
profissionais. Participe de grupos de estudos e discussão sobre
liderança. O processo de aprendizado deve ser contínuo e para
sempre. Gerir pessoas é um processo dinâmico e requer constante
desenvolvimento.
Lembre-se que gerir pessoas é uma arte e o artista não nasce pronto.
É preciso muita técnica, prática e atualização. Sucesso!
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria & Eventos. Autor do livro "Reflexões do Mundo
Corporativo". Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).
Contato: artigos@personaconsultoria.com.br /
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