Assédio Moral
Por Maria Inês Felippe
21/09/2007
Em meio a um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, em que
garantir a empregabilidade é uma das atitudes mais condizentes,
surge uma pergunta bastante comum na esfera empresarial: “Quais são
os sacrifícios válidos para se garantir o emprego?” Em alguns casos,
não é percebido pelo assediado, deixando para lá, para não criar
confusão.
A resposta é consenso geral quando tratada pelos especialistas de
RH: nenhum. Por definição, sacrificar-se é privar-se em benefício de
outrem. Uma coisa é o esforço, o desafio; a outra, é o sacrifício, o
sofrimento. Em se tratando de relações trabalhistas, sofrer não deve
ser condição, nem muito menos conseqüência, ainda mais quando é
resultado de situações de humilhação, constrangimento e submissão.
Situações estas que caracterizam o assédio moral.
O conceito, bem como a idéia, não é tão recente assim. O assédio
moral no trabalho é um fenômeno antigo, mas que vem recebendo
destaque pela mídia nos últimos tempos devido à tendência de tornar
as relações de trabalho mais transparentes e justas. É um fenômeno
mundial, que consiste em degradar as condições de trabalho por meio
de ofensas, pressão e críticas excessivas das autoridades sobre seus
subordinados.
O assédio moral acontece devido ao abuso do poder, provocando um
cenário de discriminação dentro da empresa. As fases são:
isolamento, desqualificação.
O medo do desemprego é uma das principais causas desse fenômeno.
Para garantir seu emprego, o funcionário sujeita-se a atitudes
antiprofissionais; o chefe, por seu lado, transfere toda a
insegurança para sua equipe mediante atitudes autoritárias. "Quando
o funcionário está com a auto-estima rebaixada, ele não se reconhece
como profissional, ficando predisposto a qualquer tipo de assédio".
Mas essa situação só prolifera quando favorecida por ambas as
partes: chefes autoritários buscam funcionários submissos e
vice-versa. A situação só irá perpetuar-se se o funcionário
permitir”.
Investir em uma cultura estratégica de desenvolvimento humano como
forma de substituir a competitividade de negócios diminui as chances
de surgirem comportamentos negativos isolados, que tanto propiciam o
assédio moral. Outro aspecto que devemos introduzir é a cultura de
aprendizado, no lugar da punição, e a desmistificação das relações
de poder, como soluções para o problema.
Enquanto não existir a gestão participativa, cooperativa, o cenário
estará mais favorável à gestão pelo medo, propiciando atitudes
típicas do assédio moral.
Em empresas onde o profissionalismo é ação prioritária, cria-se uma
resistência a atitudes desse tipo. E se mesmo assim o assédio moral
persistir, o funcionário terá armas suficientes para se livrar dele
ou impedi-lo, pela denúncia ou pela busca dos responsáveis pela área
de RH da empresa, que terão um posicionamento estratégico em relação
ao problema.
Devemos garantir o emprego, desde que os esforços envolvidos estejam
ao nosso alcance. Ser perseguido pelas injustiças de um chefe
tirano, além de ser uma falta de respeito, compromete a dignidade de
um profissional e o seu direito como cidadão.
Podemos entender o assédio moral como uma degradação deliberada das
condições psicológicas do trabalho, em que prevalece uma relação de
poder por parte da chefia e acarreta em baixa produtividade, falta
de envolvimento, motivação e stress dos demais profissionais.
Como identificar
Há muitas formas de identificar características de assédio moral.
Algumas podem ser destacadas:
a liderança autoritária, de opressão, que funcione na base do “faça
o que estou mandando”, “você é feito para fazer o que determino”, a
filosofia de que “o gado engorda, pelos olhos do dono”;
as reuniões em que as pessoas são expostas a seus erros, tendo
ignorados e desmerecidos seus acertos;
as broncas em público que ressaltem suas deficiências, com todas as
pessoas conhecidas e desconhecidas fazendo parte da cena. Há casos
em que são ressaltadas as “deficiências” do chefe diante de seus
subordinados;
o excesso de trabalho, impossibilitando os acertos ou até mesmo a
realização de projetos, que acabam expostos em público;
a falta de condições de trabalho, tanto físicas como psicológicas,
recaindo em erros, colocando o executor à prova e, posteriormente, a
punições;
o clima constante de fofocas, que denigrem a imagem das pessoas da
empresa ou de terceiros;
as ameaças e as humilhações constantes;
a falta de ética para com clientes internos e externos;
as graves falhas na comunicação;
a ignorância ao isolar pessoas no ambiente de trabalho.
Como perceber as características do assediador e do assediado
Assediador- comportamento de prepotência , autoritarismo, sedução,
ou aquele do tipo “raposa com pele de cordeiro”.
Assediado- em alguns casos pessoas com baixa estima ou os
provocadores do assédio. Na maioria das vezes, as pessoas agem de
acordo com o que lhe permitimos.
Pode-se perceber também, constantemente, um cenário de
complementaridade - há chefes que buscam funcionários submissos e o
inverso também ocorre.
Há empresas que buscam pessoas submissas para utilizar de seu poder,
embora a grande maioria destas empresas apresentem baixos
resultados, afinal, a improdutividade e a rotatividade são
aparentes.
Da mesma forma, há pessoas que buscam na empresa uma proteção, que
acabe favorecendo uma possível troca de favores.
A vítima escolhida, em alguns casos, passa a ser “bode expiatório”:
seu comportamento é de isolamento, hostilização e ridicularização.
Como identificar os prejuízos
Desmotivação, falta de comprometimento, isolamento pessoal, stress
são os prejuízos práticos e emocionais para o profissional, que
comprometem sua identidade, dignidade, relacionamento e podem, até
mesmo, ocasionar doenças físicas e mentais, inclusive por sintomas
não aparentes.
Recentemente conheci um caso, em que a Diretora de uma grande
empresa, em reunião com sua equipe, ressaltou a importância da
dedicação exclusiva para a empresa, mesmo que tivesse que “abrir
mão” da própria família, caso contrário seria passível de punição.
Pesquisas apontam que o assediado poderá chegar ao suicídio, fato
este que acomete mais homens que mulheres.
Geralmente, um funcionário que se posiciona de maneira diferente da
chefia, passa a ser isolado do grupo e rotulado.
A empresa não deve ter uma postura paternalista, mas deverá, sim,
preservar a sanidade do trabalhador, evitando qualquer forma de
comportamento que beire à humilhação.
O que deve ser feito
Palestra Informação para prevenção.
Investimento em uma cultura estratégica de desenvolvimento
profissional e humano e não somente estratégia de negócio. Pessoas
saudáveis; negócios saudáveis.
Gestão participativa e menos competitiva, pois é fácil identificar
uma competição interna muito grande entre as pessoas da empresa,
minimizando esforços para competição externa. Distribuição das bases
de poder.
Formação de líderes, favorecendo melhoria nas relações
interpessoais.
Substituição da cultura do medo, da punição pela confiança do
desenvolvimento e da ética.
Empresas que privilegiam o profissionalismo enfraquecem a
possibilidade de qualquer tipo de coerção e assédio.
Busca da complementaridade, não tendo como base o mais forte e o
mais fraco e sim a formação de equipes multidisciplinares, em que
cada um possui sua especialidade e seu valor.
Busca da profissionalização pelo trabalhador, elevando sua
capacitação e agregando valor aos negócios, enaltecendo sua auto-
estima, seu valor pessoal e impossibilitando qualquer tentativa de
assédio. Colocar limites é bom para ambas as partes e em todo lugar.
Como fazer
Refletir acerca de todo o cenário acima e verificar a possibilidade
de mudança do cenário da organização.
Reavaliar-se, fazendo uma auto-análise, ponderando até que ponto
está provocando tal situação.
Decidir, frente a isso. Agora, muitas vezes é preciso mudar o
comportamento para que isso não ocorra novamente na vida do
trabalhador.
Analisar o grau de sofrimento envolvido. O trabalho não é lugar para
sofrer.
Maria Inês Felippe: Palestrante, Psicóloga, Especialista em Adm. de
Recursos Humanos e Mestre em Desenvolvimento do Potencial Criativo
pela Universidade de Educação de Santiago de Compostela - Espanha.
Palestrante e consultora em Recursos Humanos, Desenvolvimento
Gerencial e de equipes, Avaliação de Potencial e competências.
Treinamentos de Criatividade e Inovação nos Negócios. Palestrante em
Congressos Nacionais e Internacionais de Criatividade e Inovação e
Comportamento Humano nas empresas. Vice Presidente de Criatividade e
Inovação da APARH.