Assédio Moral no Trabalho – como lidar com ele?
Por Werner Kugelmeier
07/11/2007

Assédio moral, também chamado “psicoterrorismo no trabalho”, é tão antigo quanto o trabalho; já existia na Antigüidade, quando o escravo era recrutado à força. Trata-se de uma prática perversa, bastante comum, realizada no local de trabalho. É aquela sensação de medo, isolamento, humilhação e insegurança que, em maior ou menor grau, a maioria dos trabalhadores alguma vez já sentiu. Esse terror psicológico pode se instalar em qualquer ambiente de trabalho e afetar profissionais de todos os níveis hierárquicos.
A novidade reside na intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na abordagem que tenta tratá-lo como não inerente ao trabalho.
Um cenário crítico, levando em conta que a prática de assédio moral é capaz de até desequilibrar e provocar explosões de ódio, acarretando situações desesperadas, com riscos ou até mesmo perdas de vidas.
O medo do desemprego é uma das principais causas desse fenômeno. Para garantir seu emprego, o(a) funcionário(a) sujeita-se a atitudes anti-profissionais. Quando a auto-estima está em baixa, o(a) funcionário(a) não se reconhece como profissional, tornando-se, assim, alvo para qualquer tipo de assédio.
• Assédio Sexual
Quando se fala de assédio moral merece destaque a questão do “assédio sexual”, que se configura quando a liberdade sexual de outra pessoa é invadida e ela é coagida a fazer aquilo que não quer. A situação se agrava quando alguém se utiliza do poder hierárquico sobre outra pessoa, normalmente do sexo feminino, para assumir uma conduta sexual que faz com que a pessoa assediada se sinta molestada, constrangida ou humilhada. Para que se caracterize o assédio sexual é elementar que haja recusa por parte do assediado; do contrário, o fato será encarado como paquera ou namoro.
• Qual a extensão do Assédio Moral ?
A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional.
No chamado mundo civilizado, segundo inquérito da União Européia, cerca de 12 milhões de trabalhadores já foram vítimas de maus tratos morais; nos EUA, ocorrências de assédio sexual levam frequentemente a punições por parte das empresas.
No mundo latino-americano, árabe, africano e asiático, o assédio moral e sexual existe de forma alarmante, analisando gravidade, freqüência e tendência crescente.
No Brasil, o tema é pouco discutido, mas os números também assustam. Recente pesquisa, publicada na "Folha Equilíbrio", suplemento do Jornal Folha de São Paulo, de 21 de fevereiro de 2002, revela que a maioria dos trabalhadores sente o drama na pele. Segundo o jornal, foram ouvidos 4718 profissionais em todo o Brasil e 68% deles disseram sofrer de algum tipo de humilhação, várias vezes por semana.
Trata-se de uma situação evidentemente delicadíssima, numa nação com altíssimas taxas de desemprego e uma tradição autoritária derivada da escravidão, na qual o agressor costuma alegar (de forma irritante e persistente) “estar querendo somente ajudar, dar um toque, uma dica”.
As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas pois, segundo a Organização Internacional de Trabalho - OIT e a Organização Mundial da Saúde - OMS, estas serão as décadas do “mal-estar na globalização", em que predominarão angústias e depressões.
• Motivos para o Assédio Moral
Em geral, inveja, mesquinhez, preconceito, machismo e pequenez de mentalidade levam a este tipo de comportamento. O agressor alega, entre outras coisas, que “é pelo bem do assediado”. Isto é, indubitavelmente, o sumo da hipocrisia.
Um dos principais motivos do assédio é, ainda, o fato de o empregador desejar o desligamento do funcionário, mas não querer demiti-lo, em função das despesas trabalhistas decorrentes. Cria-se, então, uma situação insustentável em que o empregado é levado a pedir demissão - compulsiva.
• Perfil do Assediador
De acordo com o site www.assediomoral.com.br , a violência é geralmente exercida pelas pessoas “inseguras, autoritárias e narcisistas”. Esses indivíduos
• têm facilidade para manipular as pessoas
• sabem identificar quem vai abaixar a cabeça perante seus insultos
• têm propensão à perversidade
• têm intenção firme de constranger ou humilhar a vítima
• Perfil do Assediado
• Empregados que são considerados velhos
• Empregados que não aceitam o autoritarismo e são mais capazes do que o agressor
• Portadores de deficiência física
• Pessoas que têm valores religiosos/políticos/sexuais diferentes do agressor
• Homens em um grupo de mulheres e mulheres em um grupo de homens
• Mulheres grávidas ou com filhos pequenos
Daí se conclui que o assédio moral, em geral, é praticado contra minorias, pessoas vulneráveis e contra a mulher em particular.
• Estratégias do Agressor
Para que se caracterize o assédio moral, são fundamentais a intenção do agressor de atingir o empregado e a repetição da agressão. Em geral, um ataque isolado não seria prejudicial, apenas causaria um certo incômodo. O que faz o assédio moral ser violento é a freqüência com que o ato é praticado. O assediador utiliza estratégias como:
• Escolher a vítima e isolá-la do grupo
• Menosprezá-la em frente aos pares
• Criticá-la publicamente
• Desestabilizá-la emocional e profissionalmente
• A explicitação do assédio
O assédio moral manifesta-se por gestos e condutas abusivas e constrangedoras, tais como: inferiorizar o indivíduo, ignorá-lo, difamá-lo, ridicularizá-lo, passar tarefas através de terceiros ou colocá-los em sua mesa sem avisar, controlar o tempo de idas ao banheiro, tornar público algo íntimo da pessoa subordinada, não explicar a causa da perseguição e assim por diante.
O assédio sexual se torna evidente através de piadas jocosas relacionadas a sexo, cantadas desmascaradas, insinuações vulgares, “elogios” ao corpo, ou mensagens/fotos de caráter pornográfico.
• Exemplos de assédio moral
Nas empresas
• Humilhações com intenção de forçar o pedido de demissão
• Estabelecimento de metas impossíveis de serem atingidas e a cobrança humilhante
• Boicote através de menos trabalho e/ou trabalho menos complexo do que o padrão
• Isolamento dos demais colegas
• Ataques freqüentes à vida pessoal do empregado, no ambiente de trabalho
No ambulatório das empresas e INSS
• Ser atendido de porta aberta e não ter a privacidade respeitada
• Ter seus laudos recusados e ridicularizados
• Dar alta antecipada ao doente em tratamento, encaminhando para a produção
• Negar laudo médico, não fornecer cópia dos exames e prontuários
• Não orientar o trabalhador quanto aos riscos existentes no posto de trabalho
• Política de reafirmação da humilhação nas empresas
a) com todos os trabalhadores
• Treinar, discriminar por sexo: cursos de preferência para homens
• Discriminação de salários, conforme o sexo
• Induzir trabalhadores a não procurar o Sindicato
• Dar advertência, em conseqüência de atestado médico
b) com a mulheres
• Impedir que as grávidas se sentem durante a jornada
• Impedir que as grávidas façam consultas de pré-natal fora da empresa
• Exigir das mulheres que não engravidem, evitando prejuízos à produção
c) com os doentes e acidentados que retornam ao trabalho
• Diminuir salários quando retornam ao trabalho
• Controlar as idas a médicos
• Desaparecer com os atestados
• Demitir acidentados do trabalho
• Danos da humilhação à saúde
A depressão é a doença mais freqüentemente constatada como oriunda do assédio moral. Estamos falando de lesões psicossomáticas; causas que precisam do amparo dos tribunais. O mais importante é que o ofendido procure os seus direitos com o simples propósito de recompor a sua auto-estima. A ofensa moral não tem preço; mas vale a pena alguém pagar, nas garras dos tribunais, pela humilhação causada ao seu próximo.
A manifestação dos sentimentos e emoções nas situações de humilhação e constrangimentos é diferenciada conforme o sexo: entrevistas realizadas com 870 homens e mulheres, vítimas de opressão no ambiente profissional, revelam como cada sexo reage a essa situação (em porcentagem)
Sintomas Mulheres Homens
Crises de choro 100 -
Dores generalizadas 80 80
Palpitações, tremores 80 40
Sentimento de inutilidade 72 40
Insônia ou sonolência excessiva 70 64
Depressão 60 70
Diminuição da libido 60 15
Sede de vingança 50 100
Aumento da pressão arterial 40 52
Dor de cabeça 40 33
Distúrbios digestivos 40 15
Tonturas 22 3,2
Idéia de suicídio 16 100
Falta de apetite 14 2
Falta de ar 10 30
Passa a beber 5 63
Tentativa de suicídio - 18
Fonte: Barreto, M. Uma Jornada de Humilhações. 2000 PUC/SP
É este sofrimento imposto nas relações de trabalho que revela o adoecimento, pois o que torna as pessoas doentes é viver uma vida que não desejam, não escolheram e não suportam.
• O que você deve fazer ?
• Verificar, em primeiro lugar, se o que está ocorrendo é realmente assédio moral
• Resistir: anotar com detalhes todas as humilhações sofridas
• Dar visibilidade, procurando a ajuda de pessoas de confiança
• Evitar conversar com o agressor sem testemunhas
• Reunir provas para a comprovação do assédio, p.ex. testemunhas
• Denunciar o assédio ao RH, à CIPA, ao SESMT e ao Sindicato
Se você for testemunha de cena(s) de humilhação no trabalho, supere seu medo, seja solidário com seu colega. Você poderá ser "a próxima vítima" e, nesta hora, o apoio dos seus colegas também será precioso. Não esqueça que o medo reforça o poder do agressor!
O basta à humilhação depende da informação, organização e mobilização dos trabalhadores. Um ambiente de trabalho saudável é uma conquista diária, possível na medida em que haja "vigilância constante", objetivando condições de trabalho dignas, baseadas no respeito “ao outro como legítimo outro”, no incentivo à criatividade, na cooperação.
O combate de forma eficaz ao assédio moral no trabalho exige a formação de um coletivo multidisciplinar, envolvendo diferentes agentes sociais: sindicatos, advogados, médicos do trabalho e outros profissionais de saúde, sociólogos, antropólogos e grupos de reflexão sobre o assédio moral. Estes são passos iniciais para conquistarmos um ambiente de trabalho saneado de riscos e violências e que seja sinônimo de cidadania.
• A luz no final do túnel
A empresa, muitas vezes, faz vista grossa, ou apresenta-se perplexa diante de uma situação de assédio moral aos seus colaboradores; porém, muitas não sabe ou carece de qualquer liderança situacional a respeito.
É importante que a empresa conheça e oriente todos os seus colaboradores sobre quais aspectos podem ser considerados assédio moral, quais prejuízos a empresa pode ter e, principalmente, quais as reações as pessoas podem manifestar quando submetidas à agressão moral.
Uma estratégia de desenvolvimento do Capital Humano diminui as chances de surgirem comportamentos de assédio moral e aponta a cultura de aprendizado, no lugar da punição bem como a desmistificação das relações de poder.
Já existem empresas que estão começando a encarar o assédio moral e aceitam reclamações. Elas entendem que a produtividade está diretamente ligada ao ambiente sadio - o clima pessoal e organizacional.
Partindo da premissa de que a empresa é um ser vivo, composto pelos colaboradores, cabe a cada um - uns mais, outros menos - dar suporte à missão “Basta!”
• Trabalhe insistentemente para que exista um clima saudável na empresa
• Invista no relacionamento entre os seus funcionários; p.ex., jogos, happy hours etc.
• Estabeleça um código de conduta que deve ser seguido por todos os colaboradores
• Crie a figura do Ouvidor para que o(a) colaborador(a) denuncie
• Converse com as partes envolvidas para saber a visão de ambas sobre o caso
• Recorra aos advogados como último recurso entre as partes
• Se necessário, encaminhe o assediador para um tratamento psicológico/psiquiátrico
Em suma, é possível, sim, dar um “basta”, basta fazê-lo com
B ravura – A titude – S eriedade – T eamwork – A creditar (BASTA)!!!

Werner Kugelmeier é Diretor da WK PRISMA - EDUCAÇÃO CORPORATIVA MODULAR, Empresa de Treinamentos Empresariais, de Campinas – SP, www.wkprisma.com.br, Autor do Livro “PRISMA – girando a pirâmide corporativa”, wkprisma@wkprisma.com.br - (19) 3296 4341/ 3256 8534