Auto-Estima, Assertividade e Resiliência
Por Carlos Alberto de Faria
29/06/2007
Os cursos da área de atendimento ao público são, em sua grande
maioria, centrados nos processos do atendimento ao público, e isto
acaba por produzir uma leva de pessoas treinadas, mas algumas
inaptas para o atendimento. O dimensionamento desse contingente de
pessoas inaptas ao atendimento ao público, é desconhecido.
Há duas razões básicas para isso: uma é o simples desconhecimento e
a outra é uma condição não ética, uma forte razão comercial já que
um teste psicológico eliminaria uma grande quantidade de
interessados, e pagantes, por este tipo de curso.
Há inúmeras abordagens ao atendimento ao público, enquanto processo,
a grande maioria bastante completo e pertinente. O ser humano,
enquanto pessoa, é esquecido e, freqüentemente, jogado num curso,
como se isso bastasse para assumir essa função de contato com o
público.
Eu tenho, para mim, uma verdade no mandamento:
"Ama ao próximo como a ti mesmo!"
Eu "descobri" que além de um mandamento, esta frase é uma
declaração: você ama o próximo, como você ama a você mesmo. E esta
declaração tem muita correlação com o pessoal de contato com o
público.
Esta nova constatação, para mim, informa que somente pessoas com
auto-estima elevada devem ser colocadas em posições de contato com o
público, pois somente pessoas com auto-estima elevada podem exercer
o amor ao próximo, tão necessário à postura desse pessoal de contato
com o público.
Eu prefiro a utilização de empregados de "contato com o público", ao
invés de pessoal de "atendimento ao público", pois a primeira mostra
melhor a dimensão do quadro de empregados que necessita ter um
perfil psicológico adequado, acompanhado de formação específica
nessa área.
Mas voltemos à auto-estima: uma pessoa com baixa auto-estima tende a
ser percebida pelo cliente como passiva, como possuidora de um
comportamento de pouco caso para com o interesse do cliente.
Já uma pessoa prepotente, que não ouve o que o cliente diz, que
interrompe a comunicação do cliente, tende a ser vista pelo cliente
como agressiva.
Há uma forte correlação entre o amor próprio da pessoa (a
auto-estima) e a assertividade.
A auto-estima (o amor a si próprio) é a base para a assertividade.
Assertividade exige o conhecimento de si e o gostar de si, para
afirmar, reafirmar e colocar serenamente, mas com firmeza, suas
emoções, suas crenças, princípios e valores, para afirmar
continuamente quem você é e o que você sente.
Não que a auto-estima e a assertividade sejam as pedras filosofais
do pessoal de contato com o público, mas, com certeza, podemos dizer
que, sem estas duas características, não se obtém bons empregados de
contato com o público.
Os motivos desta necessidade imperiosa de auto-estima elevada e
assertividade, no pessoal de contato com o público, são dois:
- sem auto-estima a pessoa não consegue exercer a empatia (sem
gostar de mim próprio não estou interessado nem em mim, nem no
próximo!), e
- sem assertividade eu posso ficar refém de situações de conflito e
confronto, tão freqüentes nessa área (encaro estas situações como se
fossem pessoais, contra mim, e não como é o certo, contra a empresa
que eu represento).
A própria resiliência - capacidade de retornar rapidamente às
condições iniciais após vivenciar alguma situação de estresse - é
também maior em pessoas assertivas - já que estas sabem preservar
sua integridade, em diálogos nem sempre amistosos. Ou seja, em
ocasiões de conflito ou confronto, as pessoas assertivas voltam mais
rapidamente à serenidade.
E você, você é assertivo?
Você conhece técnicas de assertividade?
Você conhece o "disco rachado", o "nevoeiro", o "questionamento
negativo" ou a "afirmação negativa"? E a sentença de três partes?
E o pessoal de contato com o público da sua empresa tem o perfil
necessário? Eles conhecem as técnicas de assertividade?
Só para dar uma idéia: o "nevoeiro" é uma técnica assertiva com a
seguinte característica: não oferece resistência, deixa-se
atravessar por quaisquer coisas atiradas sobre ele, e não reage, não
busca retaliação. A pessoa que se utiliza o "nevoeiro", não nega,
nem contradiz o seu interlocutor, não se defende, não sente culpa,
não tenta se defender, nem se explica e nem, tampouco, contra-ataca.
Exemplo:
João foi solicitado, pelo seu chefe, para entregar rapidamente um
relatório de uma ocorrência havida pela manhã. O tempo foi curto e
inegociável. Quando João apresenta o relatório solicitado, o chefe
exclama:
- Você podia ter feito uma coisa melhor, mais fundamentada pelos
fatos...
- Eu entendo o que o Sr. está falando. Eu acho que, dado o pequeno
tempo de preparação e análise, o resultado obtido tem o seu valor.
Qual é exatamente o seu interesse e as suas necessidades?
Note que o que João falou, na primeira frase da sua resposta, é que
ele entende o que o chefe disse, o João não disse que concorda. Essa
é a técnica do "nevoeiro".
Em segundo lugar, João também conferiu valor ao seu trabalho.
Finalizando, João terminou jogando a bola no colo do chefe.
Polidamente, sem estresse, sem discussões.
João foi assertivo
Carlos Alberto de Faria é sócio diretor da Merkatus - Fonte:
Merkatus