Autoconhecimento: Diante de um conflito o primeiro passo é
identificar sentimentos
Por Rosemeire Zago
09/03/2010
"O que estou sentindo? E por que estou sentindo?
Quando nos tornamos conscientes obtemos mais controle"
Diariamente recebo e-mails pedindo orientação em como solucionar
vários tipos de conflitos e é sempre bom lembrar que a maioria deles
pode ser amenizado obtendo o autoconhecimento, que se consegue mais
efetivamente com o processo da psicoterapia. Mas por qual motivo
insisto neste trabalho?
Porque dificilmente conseguimos olhar para tudo que há dentro de nós
sem auxílio de um profissional. Amigos podem ajudar? Claro que sim,
mas cada um traz em si um histórico de vida, e quando contamos algo
a alguém e nos é dado um conselho ou opinião, em geral essa resposta
estará contaminada com o histórico da pessoa. Ou seja, aquilo que
ela viveu irá interferir diretamente na opinião que irá lhe dar;
diferente do profissional que não está lá para te dizer o quê ou
como fazer, mas sim proporcionar uma maior reflexão de seus próprios
sentimentos e atitudes. Quer um exemplo? Se você contar para um
amigo uma briga que teve com sua mãe, irá ouvir algo relacionado com
o referencial que seu amigo viveu durante a vida em relação à mãe
dele. Raramente você irá ouvir como resposta algo que o faça
refletir sobre seus próprios sentimentos.
Outro fator importante é que na psicoterapia, dependendo da linha ou
teoria do trabalho, é considerado não apenas o consciente, mas
principalmente o inconsciente, onde estão registrados tudo aquilo
que vivemos, e principalmente o que sentimos, desde a concepção até
o momento presente. E muitas pessoas por não terem esse conhecimento
acabam por limitar a percepção de si mesmas. Ou seja, para nos
conhecermos devemos considerar também os aspectos inconscientes. O
que raramente um amigo irá fazer.
São nossos pensamentos e opiniões que criam nossos sentimentos, e
ambos criam nossas atitudes. Mas tememos os sentimentos, fugimos
deles, negamos senti-los e com isso, as dificuldades se somam. O
fato de ignorarmos o que sentimos não faz com que desapareçam de
dentro de nós, pelo contrário, tudo o que é negado se torna mais
forte. Quando reprimimos o que sentimos, estamos impedindo que a
energia contida se manifeste e nos mantemos no mesmo padrão de
comportamento, não permitindo que as mudanças, tão essencial ao
crescimento, se efetuem. E com isso, seguimos a vida repetindo
padrões. Ao refletir sobre sua vida poderá encontrar padrões de
comportamentos e/ou sentimentos que se repetem. Muitas vezes as
situações são diferentes, mas o sentimento despertado geralmente já
é conhecido. Caso consiga identificar o sentimento que tem tido nas
últimas semanas, poderá perceber que é um sentimento que o acompanha
há muito tempo.
Para que possamos nos conhecer profundamente, é necessário deixar
que todas as emoções que estão dentro de nós se tornem conscientes.
Sem fugas, que em geral acontecem de diversas maneiras, seja
trabalhando em excesso, consumindo álcool, tendo compulsão por
comida, compras, jogos, etc. Estamos constantemente ocupados com
tantos afazeres, que sequer nos damos tempo para identificar o que
sentimos. Tudo isso faz com que olhemos apenas para fora, e não para
dentro de nós. Estamos sempre apagando incêndios e não nos damos
tempo para ouvir aquilo que muitas vezes grita dentro de nós. É
quando surgem doenças e sintomas, como que para nos fazer ouvir o
que negamos. Se você deixasse que sua alma gritasse, o que ela
diria? Ouça-a!
Outra maneira de fugir de nosso potencial e capacidade de nos olhar
por inteiro é manter relações afetivas destrutivas. Ficamos tão
atordoados tentando salvar nossa relação que no meio de tantas
brigas, insatisfações, desentendimentos, acusações, nos sentimos sem
condição de agir de forma a nos defender. Nossa capacidade em ter
consciência de nosso valor parece ficar totalmente comprometida. É
neste processo que nos perdemos de nós mesmos, e em vão passamos a
procurar no outro a solução que está bem dentro de nós. É quando
passamos a supervalorizar o outro na mesma proporção que nos
desvalorizamos. O que por si só cria um círculo vicioso. Vemos o
outro, ou queremos ver, como responsável por nosso sofrimento e
também por nossa felicidade. E deixamos nossa vida nas mãos de
alguém que muitas vezes, não consegue cuidar nem da própria vida...
quem dirá da nossa. E choramos, nos desesperamos, queremos respostas
urgentes, mas sequer nos damos ao trabalho de nos questionar sobre
as possíveis causas de nossos sentimentos.
Diante de um conflito, o primeiro passo é identificar sentimentos
O que fazer diante dos conflitos? Primeiro é preciso identificar
seus sentimentos. Parece fácil, mas nem tanto. Pare por uns segundos
e pergunte-se: “O que estou sentindo neste momento?” Nem sempre a
resposta virá de imediato. Mas insista. Pergunte-se ainda: “o que
está causando minha insatisfação?” (ou o que esteja sentindo...)
Pergunte-se todos dos dias, ao menos uma vez por dia, qual o
sentimento que está sentindo. Com certeza isso o ajudará a se
conhecer um pouco mais. E o que fazer com o sentimento que
identificou? Procure buscar a origem dele, em qual situação ele
começou? Novamente, ouça a resposta. Exercite ouvir-se todos os
dias, e assim conhecer um pouco mais de você, sem medos, mas com a
convicção que dentro de você está a resposta que tanto busca!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br