Autoconhecimento possibilita consciência de seu real valor
Por Rosemeire Zago
08/03/2010
Recentemente recebi o seguinte e-mail:
“Li alguns dos seus artigos e minha questão é: não me conheço, tenho
muito medo de ficar só e me sinto muito sozinha! Por isso às vezes
tento me manter ocupada pra não me sentir tão só! Ultimamente tenho
refletido muito, me ouvido, mas meu medo permanece forte! Tenho
repetido vários comportamentos como se fosse uma compulsão, não
consigo mudar! Por favor, se você puder me dar algumas dicas lhe
agradeço eternamente”.
Medo de ficar só. O que isso quer dizer? Medo de ficar consigo
mesmo? O que está por trás desse medo tão comum? Ter que enfrentar
algo que foi reprimido? Ter que lidar com os próprios sentimentos? E
onde estará tudo isso? Guardados onde? Será que o medo que parece
forte irá permitir se ouvir de verdade? Para responder essa questão
temos que refletir alguns aspectos de nossa mente e comportamentos.
Só através do autoconhecimento, um trabalho de percepção lento,
gradual e diário, poderemos ter consciência de nosso real valor e
elevar nossa auto-estima. É importante aprendermos com aquilo que
chamamos de repetição de padrão, pode ser de comportamento,
relacionamento... Enfim, aquilo que sem percebermos vamos repetindo
ao longo da vida e que só nos damos conta quando apuramos nossa
percepção e começamos a refletir sobre o assunto, ou ainda, quando
alguns acontecimentos insistem em se repetir com tanta freqüência
que acabam por chamar nossa atenção.
Para um melhor entendimento vamos refletir sobre um exemplo muito
comum: uma pessoa se casa com alguém muito autoritário, controlador,
agressivo, existindo brigas freqüentes na tentativa de mudar esses
comportamentos, e em vez da pessoa desistir, insiste cada vez mais,
enfrentando-o. Quando vamos explorar o histórico de vida dessa
pessoa descobrimos que um dos pais tinha as mesmas características
agressivas. Ou seja, o padrão de comportamento conhecido retorna à
sua vida como se estivesse te dando uma oportunidade de aprender a
lidar com aquilo que não conseguia ou não sabia e que, agora adulto,
pode conseguir lidar, se defender, enfrentar, enfim, fazer aquilo
que não conseguiu fazer anos atrás.
Outro exemplo muito comum de repetição de padrão é filhos de
alcoólatras se unirem com pessoas também alcoólatras. Como também
casos de pessoas que estão sempre em relacionamentos destrutivos. É
como se o inconsciente, tão sábio, o fizesse repetir o passado na
tentativa de corrigi-lo. É importante se perguntar: o que essa
repetição de padrão está querendo me mostrar? O que devo aprender
com isso? O que estou precisando aprender a enfrentar?
Por isso e tantos outros motivos é importante entendermos o
inconsciente, pois sem essa percepção e/ou conhecimento acabamos por
não entender muitos de nossas reações, sentimentos, emoções, enfim,
pouco podemos nos conhecer. Achamos que sabemos o que fazemos, mas
muitas vezes sequer conhecemos as razões que nos levaram agir de
determinada maneira. Ou seja, não podemos falar de autoconhecimento
sem citarmos o tão falado e pouco compreendido inconsciente. Este
tem uma linguagem própria, muito diferente daquela a que estamos
acostumados para lidar com o consciente. Sua linguagem é a
simbologia, as emoções.
Para um fácil e simples entendimento costumo comparar o inconsciente
a uma criança. Por exemplo, se uma criança deixa a bola cair do
outro lado da rua, o que ela faz? Sai correndo para ir buscá-la, não
é? Seu objetivo é pegá-la, e para isso ela não irá se preocupar se
tem carro passando e se irá ser atropelada, se tem buraco no meio e
ela irá cair, ela simplesmente atravessa a rua para pegar aquilo que
deseja. O inconsciente trabalha de maneira semelhante. Por exemplo,
se no seu íntimo você precisa ir mais devagar, desacelerar o ritmo,
seu inconsciente saberá, e ele sempre sabe tudo que você precisa,
assim, ele fará algo que o faça simplesmente ir mais devagar, pode
ser com uma leve torção no pé, se você não parar pode acontecer algo
mais grave, até que perceba a mensagem e o aprendizado. O
inconsciente de alguma forma sempre está em busca da sua evolução,
podendo provocar todas as formas para que isso aconteça, seja por
meio de um acidente, doença, de repetições de padrões até que o
objetivo ou aprendizado seja alcançado.
Tudo que sentimos, quer lembremos ou não, também está registrado em
nosso inconsciente. Nele ficam os conteúdos que altera e influencia
o comportamento, tudo que é considerado agressivo à consciência.
Pode-se dizer que o inconsciente é semelhante a um porão onde se
guarda tudo que não queremos ver e onde há bem mais coisas que
imaginamos. Conflitos do passado estão lá guardados, ainda que você
sequer se lembre deles. Mas qualquer palavra, cheiro, música, fato,
qualquer coisa ou acontecimento que o faça lembrar irá desencadear
toda emoção e/ou dor contida naquele momento. Ou seja, tudo aquilo
que por algum motivo reprimimos podem vir à tona sem sequer
percebermos. Por isso muitas vezes temos reações que nem nós mesmos
entendemos. E como fazer para conhecer esse lado tão oculto,
misterioso, mas igualmente fascinante e libertador? Pelo processo da
psicoterapia ou análise, dependendo da linha do profissional. Sim,
há preconceitos, mas muito mais por medo de se conhecer pela própria
falta de informação de como o processo ocorre.
As pessoas em geral só buscam um psicólogo quando estão em crise,
seja por uma separação, perda, alguma mudança drástica no modo de
vida, quando os conflitos são tantos que não conseguem mais lidar
sozinhas. Mas todos nós em algum momento quando nos deparamos com a
necessidade de aprender algo sobre nós mesmos. Essa necessidade não
é sinal de fraqueza como muitos acreditam, e sim o começo da força!
É, precisamos ter coragem para crescer! Você pode começar se
cobrando menos, se concentrando menos no que pensa sobre as coisas e
mais em como se sente em relação a elas. Quanto mais aprender sobre
si mesmo, mais conseguirá perceber os motivos que o levam a tomar
algumas decisões, a ter certas reações. Por isso insisto em dizer
que não há receita pronta para elevar a auto-estima, tudo depende de
um longo e valioso processo que se chama autoconhecimento, pois só
quando nos conhecemos podemos perceber nosso real valor.
Aqueles que não conhecem a si mesmo dificilmente terão um bom
relacionamento com os outros. É isso mesmo, a falta de
autoconhecimento não afeta apenas a relação conosco mas também com
as outras pessoas. Sim, autoconhecimento requer um constante
exercício de diálogo interno, reflexão, o que sabemos que muitas
pessoas fogem, preferindo, como se não tivesse outra escolha, em
ouvir o barulho externo a fim de evitar se ouvir. A essência divina
está dentro de nossa própria alma e cabe a cada um de nós descobrir
a sua!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br