Autoconhecimento: Quem sou eu? O que eu quero?
Por Rosemeire Zago
09/03/2010
“Acho que estou vivendo para agradar outras pessoas. Nem sei mais o
que é bom para mim. Casar e ter filhos é o que a minha mãe quer, mas
será que essa vontade é dela ou minha? Realmente não sei mais qual é
minha vontade. Quem sou eu?”
O desabafo acima é um questionamento muito comum entre as pessoas.
Não importa o que esperam de nós: casar, não casar, com quem casar,
ter filhos, não tê-los, ter sucesso profissional, estamos sempre
dispostos a agradar e corresponder aquilo que esperam de nós, pois
foi assim que aprendemos desde muito pequenos: a obedecer! E quando
começamos a pensar com nossa própria cabeça e questionar se o
caminho que estamos trilhando é mesmo aquele que queremos, o
conflito se torna inevitável. As perguntas “quem sou eu?, o que eu
quero?, estou feliz?” insistem em martelar em nossa cabeça e uma vez
iniciado o questionamento é como se ele tivesse vida própria, não
pára mais. Como encontrar tais respostas? Como nos libertar da busca
de reconhecimento, aprovação, da necessidade de agradar, deixar de
ser tão suscetível a críticas? Não é fácil libertar-se de tantas
correntes que nos aprisionam. Sim, ficamos presos a essas
necessidades que mal conseguimos viver, como se estivéssemos
verdadeiramente acorrentados.
Para evitar esse conflito, durante algum tempo até conseguimos nos
distrair com outros interesses, seja trabalhando em excesso para não
sobrar tempo para pensar; seja cuidando da vida dos outros,
ajudando, aceitando ou criticando-os; seja adoecendo como forma de
chamar atenção; seja nos sobrecarregando com infinitas atividades.
Enfim, tudo isso pode inicialmente nos beneficiar à medida que
proporciona a oportunidade de nos esconder de nós mesmos. Sofremos
muito com as perdas durante a vida, mas não percebemos o quanto
perdemos de nós mesmos cada vez que olhamos para o lado, para não
olhar para dentro de nós.
Você já reparou que quando estamos frente a uma multidão,
conseguimos ver a todos, mas não vemos a nós mesmos? Percebe a
diferença? Sempre estamos vendo os outros, o que interfere de forma
profunda e simbólica quando precisamos ter o conhecimento de nossos
próprios sentimentos. Sempre é mais fácil olhar o outro, perceber
qual o melhor caminho para ele, do que olhar para dentro de nós e
definir o próprio caminho.
Para conseguir as respostas das perguntas acima é preciso saber o
que nos afastou de nós mesmos. Tudo começa de maneira muito sutil
quando ainda somos muito pequeninos. Quando nascemos somos genuínos,
iluminados, mas com o transcorrer do tempo começamos a nos apagar...
ou somos apagados diante das cobranças, superproteção, vergonha,
humilhação, rejeição, abandono, regras, etc, e inconscientemente,
vamos nos distanciando de quem somos em essência, de nosso
“verdadeiro eu”- o self.
Máscaras
Com a intenção de sermos aceitos, criamos o que chamamos de
máscaras, que são defesas que nosso inconsciente cria com o intuito
de evitar a dor dos sentimentos que nos fazem sentir. O raciocínio
do inconsciente seria o seguinte: “Se como eu sou não sou aceito, é
porque não faço nada certo, então serei diferente para poder ser
aceito e amado”. Crescemos acreditando que não somos suficientemente
bons para sermos amados pelo que somos, assim procuramos
desesperadamente criar uma imagem de como deveríamos ser. Começamos
a criar um falso eu como proteção e reprimimos cada vez mais nosso
eu verdadeiro. Isso vai se cristalizando aos poucos, até que quando
começamos a nos sentir insatisfeitos, infelizes, em conflito, ou
quando algo acontece como uma perda significativa pela separação,
morte, doença, e nos faz refletir como está nossa vida, é que
começamos a questionar o que está acontecendo. E parece que quanto
mais pensamos mais perdidos nos sentimos, é como se não soubéssemos
mais quem somos, como o desabafo do início deste artigo.
Muitos se desesperam, ficam deprimidos, pois não conseguem
identificar o que está acontecendo. A distância de si mesmo é tão
profunda que não conseguimos mais ouvir nossa própria voz, nossos
desejos e sonhos, é como se tudo tivesse se perdido. Mas na verdade
tudo ainda está dentro de nós, só precisamos saber como encontrar a
parte perdida.
Para alcançar o verdadeiro eu é preciso identificar quais são suas
máscaras. Você sabe? Não é um processo simples, afinal foram tantos
anos acreditando ser de um jeito, como agora alguém lhe diz que essa
pessoa não é você? É preciso fazer o caminho de volta, buscar o seu
eu verdadeiro, sua essência. Em que momento da vida você se perdeu
de si mesmo? Muitas vezes nem lembramos. Você pode começar
identificando aquilo que neste momento está te incomodando,
atrapalhando ou te trazendo conflitos. As máscaras que desenvolvemos
podem ser muitas. Por exemplo, a superioridade, arrogância, o poder,
orgulho, a necessidade de agradar, o ser bonzinho em excesso, alegre
em excesso, rindo de tudo e de todos, podem ser máscaras que ocultam
profundos sentimentos de danos emocionais e conseqüente falta de
valor a si mesmo, mas que um dia foram criadas para te proteger da
dor. Geralmente aquilo que nos traz conflitos são nossas
necessidades não supridas desde muito pequenos e que só agora
começamos a ter consciência.
O casamento está mal, não recebe a atenção como gostaria? Será que
essa atenção que espera já não vem lá de criança? Por mais que o
outro lhe dê atenção dificilmente conseguirá suprir a necessidade
somada por anos. O que isso tem haver com máscara? Provavelmente
quando criança já sentia a necessidade de atenção, mas como forma de
se defender. Ou seja, para obter a atenção não recebida, passou a
fazer de tudo pelo outro, agradando sempre e incondicionalmente, com
o pensamento inconsciente de ser valorizado e assim receber atenção
tão desejada. Cresceu dentro desse padrão e no casamento deve ter
agido da mesma maneira, sempre agradando, se sobrecarregando, mas
com o passar dos anos a necessidade vai sendo potencializada, até
chegar num ponto que seu corpo e/ou sua mente não agüentam mais, mas
ao mesmo tempo não consegue identificar todo esse processo, pois não
há esse conhecimento e o conflito se instala. Quando isso acontece é
hora de parar tudo e refletir o que está acontecendo, quando tudo
começou, e em geral, começa lá no passado, na forma como fomos
cuidados, educados, reprimidos, exigidos, cobrados. Quando começamos
a nos moldar ao que esperavam de nós e assim começa o processo de
distância de quem somos. O caminho de volta é longo, mas valioso.
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br