Biofeedback (Sistema de autocontrole
eletrônico)
Por Dr. Wagner Paulon
02/05/2008
Nos últimos quatro ou cinco anos, principalmente nos Estados Unidos,
iniciou-se um grande movimento para o desenvolvimento de um novo
tipo de medicina. Esse novo método estaria baseado na exploração e
aproveitamento dos recursos latentes da própria pessoa. Ao mesmo
tempo, surgiu também uma outra corrente, que visa a diminuição, ou
muitas vezes, a eliminação total, dos produtos farmacêuticos
inúteis. Estes dois fatores se completaram, podendo até dizer que
uma tendência reforça a outra. De fato, por que razão iremos
utilizar remédios com efeitos colaterais mais ou menos pronunciados,
as vezes perigosos ou cujos efeitos ainda não são bem conhecidos,
quando existe um método de alta eficiência baseado em fenômenos
"naturais" e sem risco?
O método do qual estamos falando é o ultimamente tão discutido
"Biofeedback". O "Biofeedback" está chegando ao Brasil com um atraso
de alguns anos, o qual, de um certo ponto de vista, não foi
prejudicial. Este lapso de tempo nos deu a vantagem de poder
observar o método e comprovar seus resultados sem aquele entusiasmo
exagerado que em geral acompanha o início dos grandes movimentos
desse tipo. Os resultados também permitiram que as críticas e
dúvidas fossem reduzidas a justa proporção. Hoje, podemos afirmar
com convicção que o "Biofeedback" é um processo extremamente
valioso, quando aplicado na pessoa certa e para a doença certa.
Aos olhos de certas pessoas, os resultados do método têm surgido
como verdadeiros milagres, e por isto aqueles que o empregam devem
acautelar-se para não deixar que caia no misticismo. Isto se refere,
principalmente, aqueles que eventualmente o utilizarão como reforço
de praticas, tais como o Yoga ou a meditação.
Mas, o que vem a ser exatamente o "Biofeedback" ?
Para as pessoas que nunca ouviram falar em Cibernética, a palavra
"feedback" pode não ser muito significativa. Traduzindo para a
linguagem cotidiana, "feedback" quer dizer "realimentação" ou
"retroação", conceito amplamente usado na técnica eletrônica assim
como em várias ciências representando um sistema onde "O EFEITO
REAGE SOBRE SUA PRÓPRIA CAUSA".
As máquinas cibernéticas são sistemas autogovernantes, ou ainda,
conjuntos auto-reguladores com tendência a manter o equilíbrio de
seu funcionamento, com o menor desvio possível do padrão básico.
Este princípio é valido tanto para estas máquinas como para seres
vivos, incluindo o homem.
O funcionamento do nosso sistema circulatório, o equilíbrio de
temperatura corporal, as manifestações hormonais e outras, estão
submetidas aos princípios de auto-regulação. No corpo humano, o
sistema nervoso central é o computador que recebe e transmite as
informações necessárias para a manutenção do funcionamento
equilibrado desse conjunto de fenômenos que chamamos coletivamente
de "VIDA".
Esses processos que visam manter a homeostase do organismo humano
são automáticos, e normalmente independentes de nossa vontade. Os
yogis, com muitos anos de pratica em movimentos e posturas, envoltos
pelos véus do misticismo, conseguem atuar sobre esses fenômenos
automáticos e involuntários, e, através deles, exercer um domínio
global sobre seus próprios organismos. Devido ao fato de não
possuírem instrumentos de controle do ritmo cardíaco, pressão
arterial, etc., as observações dos Yogis foram bastante
dificultadas, e o tempo para obtenção de resultados, muito longo.
Como seu objetivo era apenas conseguir o estado final de
"meditação", ou ainda, o desligamento do mundo prosaico, o tempo não
contava. Eles viviam fora do tempo. Para o homem ocidental moderno,
a filosofia de vida ideal, é a oposta, ou seja: aproveitar o tempo,
e de preferência com boa saúde. Por isso, as duas filosofias sempre
se chocaram, ate o evento do "Biofeedback".
De fato, o "Biofeedback" é um método instrumental que permite ao
homem impaciente aprender dentro de praticamente alguns dias e com
um alvo preciso, o autocontrole para o qual os yogis preparavam-se
durante longos anos. Graças aos diversos instrumentos eletrônicos
que permitem a observação e a auto-observaçao, hoje, qualquer pessoa
pode exercer o controle voluntário de seus processos fisiológicos
automáticos, tais como o ritmo cardíaco, manifestações
cardiovasculares, pressão arterial, atividade intestinal e inclusive
fenômenos puramente cerebrais, como, por exemplo, a modificação
voluntária das ondas eletroencefalogrãficas. As observações clínicas
permitiram comprovar que essa pratica não serve apenas para
demonstrações teatrais inúteis, mas, bem ao contrario, que através
dela foram conseguidas alterações muito específicas dos órgãos
exercitados.
Nos pudemos concluir das experiências do conhecido psicólogo
norte-americano Neal Miller, que os fundamentos do "Biofeedback" não
estão baseados exclusivamente na fantasia humana. Miller e seus
colaboradores conseguiram, com condicionamento operante, mudanças
fisiológicas indiscutivelmente detectáveis em ratos. Mais tarde, as
experiências foram continuadas com seres humanos e um grande numero
de pesquisadores de renome de grandes universidades dos EE.UU.
começaram a aprofundar a questão. Entre muitos nomes, citamos J.
Kamiya, D. Schapiro, H. Benson, B.P. Engel, F. Poirier, etc..
Confirmando a seriedade do assunto citamos a conservadorissima
revista inglesa British Medical Journal que publicou em seu número
de agosto/74 um apanhado objetivo sobre o sistema. Na literatura
americana, dezenas de livros foram escritos a respeito e a cada ano
e lançado pelas edições "Aldrine" um anual contendo os trabalhos
publicados sobre "Biofeedback" e assuntos correlatos.
Dr. Wagner Paulon - Formação em psicanálise (Escola Paulista),
mestre em psicopatologia (Escola Paulista), psicologia (Saint
Meinrad College) USA, pedagogia (FEC ABC), MBA (University Abet)
USA, curso de especialização em entorpecentes (USP), psicanalista
por muitos anos de vários hospitais de São Paulo.