Bulimia
Por Ana Lúcia Pereira
08/10/2007
Bulimia Nervosa é um transtorno alimentar que apresenta alguns
sintomas iguais aos da anorexia, pois tanto um quanto o outro são
caracterizados por uma preocupação excessiva e injustificada com o
peso, provocada pela distorção da percepção da imagem corporal e
pelo medo patológico de engordar.
A bulimia é caracterizada por episódios de ingestão exagerada e
descontrolada de alimentos, em um curto espaço de tempo, sem que se
tenha fome, seguidos de tentativa de eliminação do excesso ingerido
através de vômito auto-induzido e/ou ingestão de laxantes e
diuréticos, com a finalidade de não ganhar peso.
Alguns pacientes apresentam crises de bulimia após episódios de
anorexia.
Apesar de reconhecer que seu comportamento não é adequado o portador
de bulimia não consegue se controlar, o que o faz sentir-se
fracassado e inferiorizado.
Pacientes bulímicos geralmente estão dentro do seu peso ideal ou
levemente acima, ainda assim tentativas de dieta são freqüentes.
Quando tais tentativas são frustradas, pois é difícil para o
indivíduo conseguir controlar seus impulsos por comida, a
auto-estima é prejudicada, em alguns casos levando ao
desenvolvimento de um quadro depressivo.
Uma vez que sabe que seu comportamento é considerado bizarro, o
paciente sente-se envergonhado e por isso procura esconder seus
problemas mesmo das pessoas mais íntimas. Sendo assim, as orgias
alimentares e a auto-indução de vômito são realizadas às escondidas,
fazendo com que os afazeres e compromissos rotineiros precisem ser
conciliados com esses episódios. É comum o comportamento de esconder
alimentos para futuros episódios.
Algumas vezes o bulímico opta pelo isolamento e distanciamento
social como uma alternativa para manter seu problema escondido, o
que pode provocar ou piorar um quadro depressivo. Assim como a
anorexia, a bulimia atinge com maior freqüência adolescentes,
predominantemente mulheres, sendo que a taxa de ocorrência deste
transtorno em homens é de aproximadamente um décimo da que ocorre em
mulheres.
Com o que não deve ser confundida
Bulimia não é sinônimo de anorexia, embora algumas vezes um
transtorno possa acompanhar o outro. Na anorexia o paciente mantêm o
peso abaixo dos níveis saudáveis para sua estatura, deixando de
comer quase que completamente e fazendo intensos exercícios físicos.
As duas patologias têm em comum a imagem corporal distorcida e o
medo patológico de engordar.
Não devemos confundir bulimia com episódios de binge, pois embora em
ambos o paciente coma compulsivamente grandes quantidades de
alimentos, no binge o paciente não se preocupa em provocar o vômito
(algumas vezes o próprio organismo se encarrega de eliminar os
excessos). Enquanto os bulímicos costumam ter o peso normal ou
levemente acima, os pacientes que sofrem de binge costumam ser
obesos.
Bulimia não é "gula" ou loucura e ao contrário do muitos pensam seu
controle não depende seu controle não depende exclusivamente da
vontade do paciente. Trata-se de uma doença e como tal precisa de
tratamento.
Sintomas
Os pacientes bulímicos apresentam os sintomas abaixo descritos:
Preocupação exagerada com a forma e o peso do corpo, ocasionada por
percepção distorcida do peso e das formas do corporais;
Ingestão, em um período limitado de tempo, de quantidade de
alimentos muito maior do que a maioria das pessoas consumiria
durante um período similar e sob circunstâncias similares;
Sentimento de incapacidade de parar de comer ou de controlar o que
ou quanto está comendo;
Auto-indução de vômito e/ou uso indevido de laxantes, diuréticos,
enemas ou outros medicamentos;
Jejuns ou exercícios excessivos.
Alguns pacientes manifestam sintomas depressivos (ocasionados pelo
baixa auto-estima) ou de ansiedade (em função do medo de suas
práticas serem descobertas).
Conseqüências
O vômito recorrente pode levar a uma perda significativa e
permanente do esmalte dentário, especialmente das superfícies dos
dentes da frente, que podem lascar e adquirir aparência serrilhada e
corroída.
Os vômitos induzidos pela estimulação manual da glote podem provocar
calos e cicatrizes na superfície dorsal da mão, em função dos
traumas recorrentes produzidos pelos dentes;
Os indivíduos que abusam cronicamente de laxantes podem tornar-se
dependentes deles para estimularem os movimentos intestinais.
Complicações raras, porém gravíssimas, incluem rupturas do esôfago,
ruptura gástrica e arritmias cardíacas.
Tratamento
A psicoterapia cognitivo-comportamental tem trazido bons resultados
no tratamentos desses pacientes, pois o trabalho cognitivo auxilia
no restabelecimento da correta percepção da imagem corporal e as
técnicas comportamentais ensinam o paciente a controlar sua
compulsão alimentar e consequentemente os episódios de vômito
auto-induzido e/ou uso inadequado de laxantes e diuréticos.
O tratamento medicamentoso é útil para amenizar sintomas depressivos
ou ansiolíticos associados ao transtorno.
O apoio de familiares e amigos é muito importante, pois ajuda a
elevar a auto-estima do paciente, o que intensifica e acelera os
resultados do tratamento.
Menosprezar, criticar ou brigar com o paciente são atitudes que
devem ser evitadas, pois além de não ajudarem, diminuem ainda mais a
auto-estima do portador, aumentam sua culpa e em alguns casos
contribuem para o desenvolvimento ou agravamento de um quadro
depressivo.
O apoio das pessoas próximas é fundamental para que o indivíduo
procure e mantenha tratamentos adequados, além de evitar o
surgimento ou agravamento da depressão por isolamento social.
Ana Lúcia Pereira é Psicóloga Clínica, professora Universitária e
Consultora Organizacional. Email: alp@analuciapsicologa.com -
http://www.analuciapsicologa.com