Burrhus Frederic Skinner
Por Alexandre Pedrassoli
27/07/2006
"Quando atentamos para o que a ciência tem a nos oferecer, não
encontramos muito que sustente de modo reconfortante o ponto de
vista ocidental tradicional. A hipótese de que o homem não é livre é
essencial para a aplicação do método científico ao estudo do
comportamento humano." -- B. F. Skinner, Science and Human Behavior,
p.447
"O poeta cria, origina, inicia algo chamado 'poema', ou o seu
comportamento é meramente o produto de suas histórias genética e
ambiental?" -- B. F. Skinner
"Eu creio que uma análise científica do comportamento deve supor que
o comportamento de uma pessoa está controlado por suas histórias
genética e ambiental, e não pela pessoa mesma como agente iniciador
e criativo; [...] não podemos provar que o comportamento humano como
um todo está completamente determinado, mas esta proposição vai-se
fazendo mais plausível à medida em que se acumulam os fatos, e creio
que há chegado ao ponto em que se deve considerar seriamente suas
implicações." -- B. F. Skinner
Biografia
Skinner nasceu no dia 20 de Março de 1904 em Susquehanna,
Pensilvânia, onde viveu até ir para o colégio. Segundo seu próprio
relato, seu ambiente da infância era estável e não lhe faltou afeto.
Ele freqüentou o mesmo ginásio onde seus pais haviam estudado; havia
apenas sete outros alunos em sua sala ao final do curso. Ele gostava
da escola e era o primeiro a chegar todas as manhãs. Quando criança
e adolescente, gostava de construir coisas: trenós, carrinhos,
jangadas, carrosséis, atiradeiras, modelos de aviões e até um canhão
a vapor com o qual atirava buchas de batata e cenoura nos telhados
dos vizinhos. Passou anos tentando construir uma máquina de
movimento perpétuo. Também tinha interesse pelo comportamento dos
animais. Lia muito sobre eles e mantinha um estoque de tartarugas,
cobras, lagartos, sapos e esquilos listrados. Numa feira rural, ele
observou certa vez um bando de pombos numa apresentação; anos mais
tarde, ele treinaria essas aves para realizar uma variedade de
façanhas.
A conselho de um amigo de família, Skinner se matriculou no Hamilton
College de Nova York. Ele escreveu:
“Nunca me adaptei à vida de estudante. Ingressei numa fraternidade
acadêmica sem saber do que se tratava. Não era bom nos esportes e
sofria muito quando as minhas canelas eram atingidas no hóquei sobre
o gelo ou quando melhores jogadores de basquete faziam tabela na
minha cabeça... Num artigo que escrevi no final do meu ano de
calouro, reclamei de que o colégio me obrigava a cumprir exigências
desnecessárias (uma delas era a presença diária na capela) e que
quase nenhum interesse intelectual era demonstrado pela maioria dos
alunos. No meu último ano, eu era um rebelde declarado”.
Como parte dessa revolta, Skinner instigava trotes que muito
perturbaram a comunidade acadêmica e se entregava a ataques verbais
aos professores e à administração. Sua desobediência continuou até o
dia da graduação, quando na abertura das cerimônias, o diretor o
alertou, e aos seus amigos, que, se não se comportassem, não
colariam grau.
Ele se formou em inglês, recebeu a chave simbólica da Phi Beta Kappa
e manifestou o desejo de tornar-se escritor. Quando criança, tinha
escrito poemas e histórias, e, em 1925, num curso de verão de sobre
redação, o poeta Robert Frost fizera comentários favoráveis sobre
seu trabalho. Durante dois anos depois da formatura, Skinner
dedicou-se a escrever e então decidiu que não tinha “nada importante
a dizer”. Sua falta de sucesso como escritor o deixou tão
desesperado que ele pensou em consultar um psiquiatra. Considerou-se
um fracasso e estava com sua auto-estima abalada. Também estava
desapontado no amor; ao menos uma meia dúzia de jovens havia
rejeitado suas investidas, deixando-o com o que ele descreveu como
intensa dor física. Skinner ficou tão perturbado que gravou a
inicial do nome de uma mulher no braço, onde ela ficou durante anos.
Depois de ler sobre John B. Watson e Ivan Pavlov, Skinner decidiu
transferir seu interesse literário pelas pessoas para um interesse
mais científico. Em 1928, inscreveu-se na pós-graduação de
psicologia em Harvard, embora nunca tivesse estudado psicologia
antes. Foi para a pós-graduação, disse ele, “não porque fosse um
adepto totalmente comprometido da psicologia, mas para fugir de uma
alternativa intolerável”. Comprometido ou não, doutorou-se três anos
mais tarde. Seu tema de dissertação dá um primeiro vislumbre da
posição a que ele iria aderir por toda a sua carreira. Sua principal
proposição era de que um reflexo não é senão a correlação entre um
estímulo e uma resposta.
Depois de vários pós-doutorados, Skinner foi dar aulas na
Universidade de Minnesota (1936–45) e na Universidade de Indiana
(1945–47). Em 1947, voltou a Harvard. Seu livro de 1938, “O
Comportamento dos Organismos”, descreve os pontos essenciais de seu
sistema. Cinqüenta anos mais tarde, esse livro foi considerado “um
dos poucos livros que mudaram a face da psicologia moderna”, e ainda
é muito lido. Seu livro de 1953, “Ciência e Comportamento Humano”, é
o manual básico da sua psicologia comportamentalista.
Skinner manteve-se produtivo até a morte, aos oitenta e seis anos,
trabalhando até o fim com o mesmo entusiasmo com que começara uns
sessenta anos antes. Em seus últimos anos de vida, ele construiu, no
porão de sua casa, sua própria “caixa de Skinner” – um ambiente
controlado que propiciava reforço positivo. Ele dormia ali num
tanque plástico amarelo, de tamanho apenas suficiente para conter um
colchão, algumas prateleiras de livros e um pequeno televisor. Ia
dormir toda noite às dez, acordava três horas depois, trabalhava por
uma hora, dormia mais três horas e despertava às cinco da manhã para
trabalhar mais três horas. Então, ia para o gabinete da universidade
para trabalhar mais, e toda tarde retemperava as forças ouvindo
música.
Aos sessenta e oito anos, escreveu um artigo intitulado
“Auto-Administração Intelectual na Velhice”, citando suas próprias
experiências como estudo de caso. Ele mostrava que é necessário que
o cérebro trabalhe menos horas a cada dia, com períodos de descanso
entre picos de esforço, para a pessoa lidar com a memória que começa
a falhar e com a redução das capacidades intelectuais na velhice.
Doente terminal com leucemia, apresentou uma comunicação na
convenção de 1990 da APA, em Boston, apenas oito dias antes de
morrer; nela, ele atacava a psicologia cognitiva. Na noite anterior
à sua morte, estava trabalhando em seu artigo final, “Pode a
Psicologia ser uma Ciência da Mente?”, outra acusação ao movimento
cognitivo que pretendia suplantar sua definição de psicologia.
Skinner morreu em 18 de Agosto de 1990.
Nenhum pensador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença
na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano como o
norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Sua obra é a
expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que dominou o
pensamento e a prática da psicologia, em escolas e consultórios, até
os anos 1950. Skinner também é considerado o pai da corrente que foi
denominada behaviorismo radical.
Condicionamento operante
O conceito-chave do pensamento de Skinner é o de condicionamento
operante, que ele acrescentou à noção de reflexo condicionado,
formulada pelo cientista russo Ivan Pavlov. Os dois conceitos estão
essencialmente ligados à fisiologia do organismo, seja animal ou
humano. O reflexo condicionado é uma reação a um estímulo casual. O
condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada
resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a
necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência,
percebe que o acionar de uma alavanca levará ao recebimento de
comida. Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar
sua fome.
A diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento
operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente
externo; e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. No
comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-se uma
resposta. No comportamento operante (de Skinner), o ambiente é
modificado e produz conseqüências que agem de novo sobre ele,
alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante.
O condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de novo
comportamento - um processo que Skinner chamou de modelagem. O
instrumento fundamental de modelagem é o reforço - a conseqüência de
uma ação quando percebida por quem a pratica. Para o behaviorismo em
geral, o reforço pode ser positivo (uma recompensa) ou negativo
(ação que evita uma conseqüência indesejada). “No condicionamento
operante, um mecanismo é fortalecido no sentido de tornar uma
resposta mais provável, ou melhor, mais freqüente”, escreveu o
cientista.
Sem livre-arbítrio
Segundo Skinner, a ciência psicológica — e também o senso comum —
costumava, antes do aparecimento do behaviorismo, apelar para
explicações baseadas nos estados subjetivos por causa da dificuldade
de verificar as relações de condicionamento operante — ou seja,
todas as circunstâncias que produzem e mantêm a maioria dos
comportamentos dos seres humanos. Isso porque elas formam cadeias
muito complexas, que desafiam as tentativas de análise se elas não
forem baseadas em métodos rigorosos de isolamento de variáveis.
Nos usos que projetou para suas conclusões científicas — em especial
na educação — Skinner pregou a eficiência do reforço positivo,
sendo, em princípio, contrário a punições e esquemas repressivos.
Ele escreveu um romance, Walden II, que projeta uma sociedade
considerada por ele ideal, em que um amplo planejamento global,
incumbido de aplicar os princípios do reforço e do condicionamento,
garantiria uma ordem harmônica, pacífica e igualitária. Num de seus
livros mais conhecidos, Além da Liberdade e da Dignidade, ele
rejeitou noções como a do livre-arbítrio e defendeu que todo
comportamento é determinado pelo ambiente, embora a relação do
indivíduo com o meio seja de interação, e não passiva. Para Skinner,
a cultura humana deveria rever conceitos como os que ele enuncia no
título da obra.
Principais influenciadores
Ivan Pavlov (1849-1936)
John B. Watson (1878-1958)
Fonte: site do autor: www.pedrassoli.psc.br