A Busca do Amor Perfeito
Por Sirley Bittú
09/06/2003
Durante a vida escolhemos nossos amantes e amores, pautados muitas
vezes em nosso desejo de resgatar em outro alguém o tão sonhado amor
incondicional que se traduz na área da ilusão, como a mais pura e
verdadeira forma de amar, o único e verdadeiro amor.
A primeira forma de amor que conhecemos é o amor materno, talvez uma
das mais belas formas de amar. Trata-se da total disponibilidade, do
amor incondicional. A mãe simplesmente ama seu filho, incluindo suas
características boas e ruins; costumo dizer que a mãe ama o pacote
completo. Seu amor, muitas vezes supera qualquer frustração e
alcança a maior capacidade humana de perdoar que alguém pode sentir.
Lembremos que quando falamos da absoluta disponibilidade materna,
nos referimos principalmente, aos primeiros meses de vida onde a
ilusão da total onipotência vivida pelo bebê, é essencial para seu
desenvolvimento emocional e tão necessária para viver a brecha entre
a fantasia e a realidade. Neste tempo, amor é sinônimo de mistura,
complementaridade e plena satisfação narcísea dos próprios desejos,
para o bebê o outro existe apenas para ele, está a sua disposição,
respira o ar que ele respira, ele e a mãe são um único ser, não há
diferenciação ou limites claros.
O próximo passo para o desenvolvimento emocional é a vivência da
frustração, a mãe totalmente disponível vai gradativamente e
naturalmente frustrando o bebê na medida em que o bebê já tem
condições de lidar com essa frustração. Este movimento materno (ou
de quem faz esse papel), é extremamente importante para o bebê
começar a diferenciar o que é ele e o que não faz parte dele (mãe)
iniciando assim sua noção primária de existência.
Usando este momento do desenvolvimento emocional de todos nós como
referência, podemos entender algumas formas de relação que continuam
seguindo esse padrão, onde uma das partes por exemplo insiste em não
acreditar que pode existir sem o outro; são os amores passionais
onde mistura emocional e imaturidade afetiva ainda são entendidos ou
traduzidos como amor.
Trazemos dentro de nós uma necessidade nata de completude que se
torna preenchida num primeiro momento de nossa existência por esse
amor materno.
Muitos adultos em busca desse amor perfeito, muitas vezes se perdem
quando acreditam que amor é sinônimo de anulação, quando confundem
liberdade com desrespeito, intimidade com invasão, quando usam de
chantagem emocional para suprir suas carências; e ainda quando
deixam de viver seus outros papéis na vida: mulher, homem,
profissional, filho(a), por exemplo, para ser exclusivamente em
função do outro.
Algumas pessoas entendem o amor como algo quase mágico que mistura
uma certa santidade /pureza com a total e plena devoção ao outro e
eu diria que estão presas ao mito do amor uterino. São relações que
muitas vezes exigem um raio-X dos pensamentos e sentimentos,
desejam, necessitam dos detalhes sobre os pensamentos e sentimentos
do outro, um verdadeiro relatório contínuo e absoluto sem pulos,
desvios ou mesmo titubeios sobre tudo que passa em sua mente, algo
tão impossível racionalmente que geralmente só é confessado entre
quatro paredes. Esse tipo de relação traz sofrimento e dor para
ambos, parte de um entendimento equivocado onde amor é sinônimo de
mistura e individualidade é sinônimo de desamor e traição.
O bebê só agüenta a frustração do afastamento momentâneo da mãe,
quando tem dentro de si a segurança e a confiança de que ela não o
abandonará e de que ele conseguirá sobreviver sem ela naquele
momento.
Portanto, como nosso próprio desenvolvimento emocional nos ensina, o
amor perfeito, ou melhor dizendo o amor saudável, recusa a
auto-anulação, propõe a existência, a individualidade, o respeito ao
outro, a solidariedade, o companheirismo, e a confiança mútua.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br