Como proceder com os filhos diante da separação
Por Rosemeire Zago
06/06/2010
Quando se pensa em separação, a preocupação com os filhos faz com
que muitos casais pensem em adiar sua decisão em função deles. Mas
será que é a melhor alternativa? Nesse momento tão difícil de uma
possível separação, onde muitas vezes não sabemos lidar nem com
nossas próprias emoções, nos deparamos também com a tentativa de
proteger os sentimentos dos filhos, evitando que os mesmos sofram.
Com a separação filhos necessitam mais ainda de diálogo e carinho
Com certeza a separação para quem tem filhos torna-se muito mais
difícil, principalmente pelo fato que mesmo que o casal queira
manter total distância, alguns compromissos os obrigarão a manter
contato. A pergunta “o que será de nossos filhos?” é uma constante e
muitas vezes motivo da decisão ser adiada.
Mas do ponto de vista emocional, está enganado quem pensa que manter
o casamento a qualquer custo pelos filhos, está fazendo o melhor por
eles. Os filhos, independente da idade, sentem negativamente os
efeitos do clima que existe entre os pais. Mesmo que alguns pais
afirmem que seus filhos não presenciam discussões, brigas e
desentendimentos, eles também não sentem troca de carinho, amizade,
compreensão, amor. É sempre positivo lembrar que fazê-los viver em
um ambiente hostil poderá ser muito mais prejudicial do que todo o
sofrimento que a separação pode proporcionar.
Mas é claro que a maneira com que é contado aos filhos pode ser um
diferencial como eles irão reagir. E ter essa postura é de
responsabilidade total dos pais. Quando as crianças já estão
acompanhando o processo de desgaste do casamento, e por mais que os
pais procurem esconder, no íntimo elas sempre sabem o que realmente
está acontecendo, por menor que sejam, poderão entender com mais
facilidade.
As crianças tendem a se adaptar as mais diferentes situações e
muitas curtem ter duas casas, lugares diferentes para se divertirem,
etc. Se a convivência familiar se transformou em fonte de sofrimento
para todos, por que prolongar essa situação? Ainda é muito comum
ouvirmos respostas como: “não me separo por causa de meus filhos”,
“gostaria de esperar até meus filhos crescerem”, “ficamos juntos
para o bem das crianças”.
Ao fazer tais declarações muitos pais não conseguem perceber o
verdadeiro significado que podem estar afirmando. É como se
dissessem: “os filhos são a causa de nosso sofrimento”. Diante da
dificuldade dos adultos em enfrentar os próprios problemas, e a
separação em si, acabam por procurar um escudo para se protegerem.
Não percebem que frases como essas podem causar graves implicações
na vida dos filhos, que poderão registrar em sua mente a seguinte
mensagem: “minha existência impede eles de serem felizes e fazer o
que desejam”. Ou ainda: “seria melhor que eu não existisse”.
Os filhos absorvem dos pais todo tipo de mensagem, consciente e
inconsciente, que lhes é transmitida, nem sempre é preciso
verbalizar os sentimentos, pois as crianças captam os sentimentos e
são estes que ficarão registrados em suas mentes. Diante de tais
afirmações, seja com palavras, gestos, tom de voz, a criança poderá
se sentir insegura e com a sensação que sua presença está
atrapalhando aqueles que tanto ama. Não seria responsabilidade
demais para uma criança?
Manter o casamento para ‘o bem dos filhos’, pode se transformar na
melhor desculpa para esconder dos outros, e muitas vezes de si
mesmo, a verdade; ou ainda, para manter uma situação que não se
deseja realmente mudar, e que apesar de tantos sofrimentos, não
consegue admitir.
Se o casamento acabou e não há mais amor, admiração, troca, os
filhos viverão muito melhor se crescerem com um dos pais, mas com a
presença constante do outro, mas em um ambiente tranqüilo, do que
com ambos os pais em conflito constante. Filho não deve ser motivo
para manter um casamento que já não existe mais. Tanto é verdade,
que em muitas situações o próprio filho pede pela separação quando o
clima em casa é sufocante e agressivo. Há também situações em que os
filhos sentem muita dificuldade em aceitar a separação,
principalmente quando os pais os faziam acreditar que tudo estava
bem, quando na verdade era só aparência. Por isso a verdade é sempre
o mais indicado, seja qual for a situação.
Infelizmente e com muita freqüência muitos casais tornam seus
próprios filhos objetos de negociação e chantagem para conseguirem o
que querem, o que deve ser absolutamente evitado, pois a separação,
por si só, gera em alguns filhos o sentimento de culpa, fazendo-os
sentir responsáveis pelo que acontece com seus pais, caso não seja
tudo muito bem explicado. Caso não seja explicado, porque alguns
pais acreditam que as crianças não entenderão, poderá provocar
nesses filhos a culpa por existir e o desejo de reparar essa culpa,
podendo comprometer sua vida afetiva quando adultos.
Com a mesma freqüência é muito comum a criança ouvir um dos pais
destruir a imagem do outro, às vezes ambos tomam essa atitude
destrutiva sem perceber que desse modo só destroem a criança que
dizem tanto querer proteger. Independente dos aspectos negativos e
positivos de cada um dos pais, é necessário que os filhos mantenham
intacta a imagem de ambos os pais, até que possam avaliar por si
mesmos.
O momento da separação é tão delicado e difícil para os pais quanto
para os filhos. Como as crianças não possuem recursos necessários
para enfrentar esse momento, é importante receberem apoio especial,
afirmando que o pai continuará sendo sempre seu pai e o mesmo em
relação à mãe, que eles não são culpados do que está acontecendo,
explicando a verdade do que está ocorrendo, compreendendo seus
sentimentos, dando respostas para suas dúvidas e, acima de tudo, que
eles possam continuar recebendo todo carinho e amor de ambos.
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br