Como Enfrentar a solidão causada pela separação
Por Rosemeire Zago
25/02/2010
Quando passamos por uma separação, o mais indicado para a
recuperação é a consciência do que ocorreu e do que está sentindo.
Digo isso porque muitas pessoas acabam um relacionamento e logo em
seguida, quando não antes de acabar, já estão entrando em outro, o
que pode gerar a longo prazo muita confusão, insegurança. Todos
sabemos que separar não é nada fácil, requer acima de tudo muita
maturidade, pois em geral há muitas pessoas envolvidas, muito mais
que o simples casal. É um momento marcado por muita confusão,
dúvidas, com a única certeza do desejo de querer paz e ser
valorizado por tudo aquilo que se tem de melhor. Durante o período
da saudade, vive-se uma alternância de raiva e tristeza. Raiva pelo
que aconteceu e da forma que aconteceu e tristeza por tudo de bom
que se viveu e não vive mais. A saudade é pelos momentos bons
vividos, esquecendo-se muitas vezes do real motivo que motivou a
separação.
Conseguir examinar a relação passada com objetividade e serenidade
não é uma tarefa simples, principalmente para quem não está
acostumado a refletir e analisar suas próprias emoções e
sentimentos. Mas é o caminho que poderá aumentar a consciência de
si, dos próprios limites, e evitar buscar culpados como algumas
pessoas tendem ao final de um relacionamento, sem jamais chegar de
fato às causas dos problemas que aos poucos foram se instalando.
É preciso analisar com o maior distanciamento possível a relação
passada e avaliar os fatores que influenciaram essa decisão,
compreendendo o passado, tudo que ocorreu, lembrar de fatos e o que
levou cada um a tomar as atitudes que foram tomadas e analisar
principalmente, em que ponto seu próprio crescimento foi
interrompido, como também os sentimentos que foram despertados pelo
outro durante o relacionamento. Enfim, a separação pode ser marcada
pela oportunidade de refletir sobre tudo que se viveu, se permitiu
viver e aprender a valorizar a capacidade de crescer cada vez mais,
é definitivamente sair da zona de conforto.
Algumas pessoas se separam com muita certeza do que querem; mas
outras, no entanto, fazem por pura impulsividade, num momento de
nervoso, e muitas vezes apenas com o intuito de fazer o outro levar
um susto, e não pensam muito em como irão se sentir com essa decisão
e quando percebem já estão separadas e sentindo muita dor. Por isso,
é preciso muita reflexão e diálogo antes de tomar uma decisão.
Uma das características da separação é deparar-se com a solidão. É
ter que enfrentar tudo aquilo que muitas vezes escondeu por anos de
si mesmo. O medo de olhar para dentro de si é tão profundo que
algumas pessoas evitam a separação, e outras só conseguem se separar
quando já estão envolvidas com outra pessoa, tudo para não sentir a
própria dor. Ainda que existam filhos, há a solidão em estar sozinho
com os próprios sentimentos, medos, dúvidas, tristezas, e tudo mais
que a separação provoca. Esse é um dos motivos que pode fazer uma
pessoa envolver-se com outra logo após uma separação: o medo de
ficar só. O mais aconselhável é dar um tempo para si mesmo, pois só
estará efetivamente aberto para uma nova relação a dois quando for
capaz de enfrentar a vida sozinho, a menos que já tenha a certeza de
que a relação passada não deixou nenhum vestígio, o que raramente
acontece. Envolvendo-se muito rápido num novo relacionamento,
corre-se o risco de levar consigo todos os comportamentos negativos
da relação passada. É como se a falta de vínculo com outra pessoa
criasse um vazio enorme, onde a vida parece sem sentido e nada vale
a pena, sentindo que só voltará a viver se tiver outro
relacionamento.
Enquanto estão sozinhas, muitas pessoas recorrem ao uso de álcool,
drogas, comida em excesso ou deixando de alimentar-se como uma fuga,
ainda que muitas vezes inconsciente, de uma realidade dolorosa. Mas
com certeza, não é negando nem fugindo do que se sente o melhor
caminho para se livrar de toda a dor. Pois nessa fuga incessante de
si mesmo, não se permitindo refletir sobre seus sentimentos e sua
realidade, irá manter cada vez mais seu sofrimento e adiar a tão
sonhada paz, pois a tendência será repetir na nova relação muitos
dos comportamentos que havia na anterior.
O sentimento de solidão na maioria das vezes provoca muita angústia
e traz um forte sentimento de autodepreciação e insegurança, com
pensamentos freqüentes de que nada vale, e que ninguém o ama. O que
não é verdade. É preciso se lembrar de quando a relação começou.
Havia sonhos, desejos, ilusões, e que por alguns motivos, deixou de
existir. Um dos dois, ou ambos, em algum momento deixou de cuidar do
que um dia foi tão importante.
O medo da solidão pode surgir por não sentir prazer em ficar só
consigo mesmo. Como ficar com alguém que é tão mau, constantemente
abandonado, rejeitado, desprezado? Por isso tende a fugir desses
sentimentos tão devastadores, e ao invés de eliminar a angústia,
alimenta-a ainda mais. É preciso ter consciência que nada adianta
manter esses pensamentos de si mesmo, pois com certeza eles não
refletem a realidade. Nem se trancar em casa e fechando-se, deixando
que o desespero e as lágrimas tomem conta. Como também não irá
melhorar ficar sem comer, ou comer em excesso, ou ocupar-se com a
vida de outras pessoas, tudo isso só irá agravar esse momento tão
delicado. Essa fuga de nada adianta pelo simples fato de que se pode
fugir de tudo, menos de si mesmo e do que está sentindo. É claro que
nem todas as pessoas se dão conta de que estão fugindo, pois
justificam para si próprias a necessidade de agirem de tal forma.
É essencial se convencer de que ficar sozinho pode ter muitas
conquistas importantes, como permitir a introspecção, a reflexão dos
fatos, e principalmente, um maior encontro com seu verdadeiro eu.
Viver sozinho não significa necessariamente sentir-se só. Afinal,
quantas vezes não se sentiu sozinho mesmo quando estava com o
ex-companheiro? Ou com amigos e familiares? Não confunda a solidão
física com a emocional, pois só se sente só quem abandona a si
mesmo. A solidão nasce dentro da própria pessoa quando ela perde o
contato com seu eu interior ou quando procura fugir de um problema,
sentimento ou pensamento que a incomoda.
Pense em quantas coisas você deixou de fazer algo que queria porque
o ex não gostava ou por falta de tempo? Logo após uma separação é
comum haver uma disponibilidade de tempo que parece assustar e fazer
com que se sinta imobilizado, mas passado o período de adaptação
poderá descobrir as inúmeras coisas que poderá fazer por si mesmo.
Ao se separar irá ter muito mais tempo para fazer coisas que gosta e
que nem se lembra mais. Por que não visitar uns amigos, ler aqueles
livros que comprou e sequer os abriu, dedicar-se a um hobby, fazer
um trabalho voluntário? São pequenas coisas que poderão aos poucos
lhe trazer de novo o prazer de viver. É importante perguntar-se: “o
que eu gosto de fazer”? E ir fazer! Lembre-se de amigos que deixou
no decorrer do caminho. Lembre-se que havia uma vida antes de você
namorar, casar. Resgate sua vida, agora mais do que nunca, só sua!
De fato, os momentos de saudade e tristeza pelas lembranças do
passado são inevitáveis, mas é importante vivê-los consciente de
todo o aprendizado, e dar ao passado o direito de existir sem que
para isso precise te destruir. Ninguém pode evitar a sensação de
abandono e a falta de quem se foi faz em sua vida, mas também
ninguém pode te privar de que sinta uma força interior que aos
poucos irá adquirir ao se permitir estar em paz consigo mesmo. E
isso não tem preço!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br