O Complexo Materno Não Resolvido, No Homem, Causa Dificuldade No
Relacionamento Com Sua Anima
Por Vanilde Gerolim Portillo
21/10/2001
“Mãe é amor materno, é a minha vivência e o meu segredo. O que mais
podemos dizer daquele ser humano a que se deu o nome de mãe, sem
cair no exagero, na insuficiência ou na inadequação e mentira –
poderíamos dizer – portadora casual da vivência que encerra ela
mesma e a mim, toda humanidade e até mesmo toda criatura viva, que é
e desaparece, da vivência da vida de que somos os filhos?”
C.G. JUNG
Há casos em que o complexo materno tem uma influência velada, não
sendo caracterizados como um desvio patológico propriamente dito,
sua atuação é percebida de diversas formas e em diferentes fases da
vida do homem, atrapalhando, senão impedindo, o seu relacionamento
consigo mesmo e com outras pessoas.
Neste Artigo analisaremos os efeitos do complexo materno no
desenvolvimento da anima no homem.
O complexo materno que é a idéia de mãe carregada de afetividade
existe em todos nós. O experimentamos como a necessidade de carinho,
proteção e ligação. Se a experiência inicial que temos na vida,
através da relação primal, for satisfatória e atender estas
necessidades sentiremos que a vida é algo bom e que seremos amados e
protegidos sempre. Se a nossa primeira experiência não foi boa,
vamos nos sentir desligados de tudo e sem raízes.
A influência mais acentuada do complexo materno não solucionado, no
homem, é a dificuldade que este encontra em relacionar-se com sua
anima.
A anima é o arquétipo do relacionamento interno, ou seja, é
responsável pelo contato do ego com o mundo interno e a qualidade
deste contato determinará qual vai ser a qualidade do relacionamento
do homem com o mundo externo, com as outras pessoas. Como vimos, no
capítulo I, é também, o arquétipo que representa o lado feminino no
homem mas sua a principal função, segundo Jung, é a de instrumentar
o homem, quando reconhecida, para seu autoconhecimento conduzindo-o
no seu inconsciente, promovendo a relação entre seu ego e seu mundo
interno. Portanto, o reconhecimento da anima é um fator decisivo do
processo de individuação.
Mas afinal o que a anima significa na vida do homem? Porque é um
arquétipo tão importante na psicologia masculina? A anima é a alma
do homem, é o que lhe dá vida, é o que dá profundidade à sua
existência, dá-lhe sabedoria, paixão e vontade de viver. É alma,
porém não no sentido religioso que conhecemos e tentamos de todas as
maneiras salvá-la das garras do inferno após a morte. A anima poderá
ser o próprio inferno na vida de um homem ou poderá ser seu
verdadeiro paraíso aqui na terra, basta entender seu significado e
não abandoná-la.
Jung falou muitas vezes da anima e uma delas se pronunciou da
seguinte maneira:- “A anima é um fator de maior importância na
psicologia do homem, sempre que são mobilizados suas emoções e
afetos. Ela intensifica, exagera, falseia e mitologiza todas as
relações emocionais com a profissão e pessoas de ambos os sexos. As
teias da fantasia a ela subjacentes são obra sua. Quando a anima é
constelada mais intensamente ela abranda o caráter do homem,
tornando-o excessivamente sensível, irritável, de humor instável,
ciumento, vaidoso e desajustado. Ele vive num estado de mal-estar
consigo mesmo e o irradia a toda volta. Às vezes, a relação do homem
com uma mulher que capturou sua anima revela a existência da
síndrome.”
A anima é aquilo que o homem desconhece nele mesmo, se o que ele
conhece é seu ego masculino o que desconhece é sua anima, seu
feminino, Jung expressa-se, quanto a este aspecto, da seguinte
maneira: “O que não é eu, isto é, masculino, é provavelmente
feminino; como o não-eu é sentido como não pertencente ao eu, e por
isso está fora do eu, a imagem da anima é geralmente projetada em
mulheres.”
A primeira mulher a receber esta projeção é a mãe, a influência
exercida pelo complexo materno nesta fase decidirá sobre o sucesso
ou insucesso na retirada desta projeção. O poder dominante da mãe
poderá segurar a anima do filho numa relação infantil como vimos no
capítulo I pág.20. Jung diz o seguinte: “A figura da anima que
conferia à mãe, na ótica do filho, um brilho sobrenatural é desfeita
gradualmente pela banalidade cotidiana, voltando para o
inconsciente, sem que com isso perca sua tensão originária e
instintividade. A partir desse momento ela está pronta a irromper e
projetar-se na primeira oportunidade, quando uma figura feminina o
impressionar, rompendo a cotidianidade.”
A projeção é um mal necessário, pois somente podemos conhecer nossos
conteúdos inconscientes quando projetados no mundo externo de
maneira que podemos olhar e ver-nos como num espelho. Naturalmente,
a dificuldade reside no reconhecimento de que as características que
vemos são nossas, pertencem ao mais íntimo de nós mesmos. Esta
dificuldade deverá ser vencida com o decorrer da vida e com a
vontade consciente de voltarmos para nós mesmos em busca de
respostas às nossas mais profundas dúvidas.
Em se tratando do homem em geral, ou seja, aquele que não apresenta
distúrbios sérios identificados dentro da estreiteza da
psicopatologia, vamos encontrar aspectos também desastrosos quando
possuído pela anima inconsciente. Suas projeções são carregadas de
animosidade, e atribui facilmente à mulher, enquanto companheira,
suas próprias indisposições e seu mau humor, características de uma
anima insatisfeita. A mulher que era uma deusa se transforma em
bruxa com a maior facilidade.
Jung salienta que a manifestação do arquétipo da anima se dá de
diversas formas, nas experiências amorosas são bastante
significativas; “Nas experiências da vida amorosa do homem a
psicologia deste arquétipo manifesta-se sob a forma de uma
fascinação sem limites, de uma supervalorização e ofuscamento, ou
sob a forma da misoginia em todos os seus graus e variantes, que não
se explicam de modo algum pela natureza dos “objetos” em questão,
mas apenas pela transferência do complexo materno. No entanto, este
é criado primeiro pela assimilação da mãe – o que é normal e sempre
presente – a parte feminina do arquétipo preexistente de um par de
opostos “masculino-feminino” e , secundariamente, por uma demora
anormal a destacar-se da imagem primordial da mãe.”
O modo mais visível que temos para observar a projeção da anima é no
ato de apaixonar-se, que é valioso para a aproximação dos sexos e
com isso dar inicio a um relacionamento, porque somente através do
relacionamento com o outro é que conseguimos desenvolver e integrar
nossos aspectos inconscientes. O apaixonar-se, para o homem,
consiste na projeção de sua anima numa mulher e fascinar-se pelo que
vê. Entretanto, o relacionamento do homem com a mulher amada não
será melhor do que seu relacionamento com sua própria anima.
O relacionamento entre homem e mulher requer habilidade,
disponibilidade, interesse mútuo e muito trabalho, isto tudo implica
em amadurecimento de várias instâncias psíquicas inclusive e
principalmente, no caso do homem, da anima.
A anima inconsciente prejudica o homem não só nas suas relações
amorosas, mas também em outras relações como o trabalho, por
exemplo. Não é raro observarmos certos comportamentos em homens de
negócios, executivos aparentemente fortes, que sem mais nem menos se
sente atacados por estados emocionais que o dominam
descaracterizando totalmente sua persona. Seu comportamento torna-se
bizarro, e o homem aparentemente forte transforma-se num garoto
birrento de palavras fúteis. É o verdadeiro filhinho dominado pela
mãe.
Segundo Jung, até a metade da vida, mais ou menos 35 anos, o homem
não necessita estar conectado com sua anima, porque deverá estar
voltado para o mundo externo procurando atingir objetivos materiais,
após a meia idade no entanto, o homem não consegue ter uma vida
tranqüila se não se ligar à sua anima, diz ele:- “Depois da metade
da vida, no entanto, a perda permanente da anima significa uma
diminuição progressiva da vitalidade, flexibilidade e humanidade. Em
geral, disso vai resultar uma rigidez prematura, quando não uma
esclerose, estereotipia, unilateralidade fanática, obstinação,
pedantismo ou seu contrário: resignação, cansaço, desleixo,
irresponsabilidade e finalmente um ramolissement infantil, com
tendência ao alcoolismo. Depois da metade da vida deveria
restabelecer-se, na medida do possível, a conexão com a esfera da
vivência arquetípica.”
Na meia idade, quando o homem encontra-se no auge de suas
realizações masculinas, ele experimenta com mais intensidade seus
complexos e possessões pela anima. Uma depressão, característica
desta fase, poderá vir acompanhada de uma voz interna que o acusa de
tudo o quanto ele não realizou, aponta seus pontos fracos no que se
refere às suas emoções e sentimentos internos. Essa voz, ou este
pensamento, diz Sanford, “personifica a anima que se tornou
absolutamente amarga e tenebrosa” por ter sido, até então
desconsiderada e deixada de lado. Continua Sanford: “Ela é a imagem
viva do fracasso do homem ao lidar com o outro lado de sua vida – o
lado feminino, o lado espiritual, o lado da alma. Ela se mostra
tenebrosa e monstruosa em proporção direta com o sucesso exterior do
homem e com a negação interior das coisas da alma.”
Um homem que não consegue expressar seus sentimentos e dar expressão
à sua anima, se transformará numa pessoa ressentida e mal humorada.
Diz SANFORD: “Um homem que vive sempre evitando encontros de cunho
emocional com outras pessoas é dominado pela Mãe. Uma das formas de
ele se libertar de seu complexo de Mãe consiste em expressar-se
através do relacionamento.”
Quando um homem não expõe seus sentimentos porque tem medo da mulher
brigar com ele, está regredindo a um estado anterior infantil,
quando sua mãe, muito provavelmente fortemente dominante e
manipuladora, mostrava-se zangada e descontente com seu
comportamento. O medo que o homem sente é o da rejeição que um dia
já foi experimentado através da zanga da mãe. O homem precisa
desvencilhar-se do complexo materno, vivenciando-o plenamente pelo
relacionamento. Caso contrário, ele será sempre o menino que encolhe
os ombros perante uma mulher. O homem precisa ajudar a si próprio,
salienta Sanford: “Isto significa que ele tem de descobrir e ajudar
o meninozinho que existe dentro dele. Ao reconhecer o seu lado de
meninozinho magoado, fica muito menos exposto a se identificar com
ele, e pode conservar-se mais como homem que deve ser no
relacionamento com a mulher em sua vida.”
Para o homem, um comprometimento no desenlace do complexo materno,
inevitavelmente acarretará uma dificuldade no reconhecimento de sua
anima e, portanto, dificuldades em relacionar-se com outras pessoas
e com ele mesmo. O homem sente-se inseguro, porque não consegue
controlar suas emoções, sente-se deprimido e é assolado,
constantemente, pelo mau humor, sendo todos esses efeitos
característicos de uma anima inconsciente, mal entendida.
Para o reconhecimento da anima e sua conseqüente integração na
consciência, o homem em dificuldades, necessita primeiramente
livrar-se dos resquícios do um complexo materno mal resolvido. A
anima mesmo atuando negativamente poderá abrir caminho para que o
homem se liberte do complexo materno, basta para isso dar
importância aos seus sentimentos. Uma vez liberto de seu complexo
materno, poderá relacionar-se adequadamente com sua anima.
O homem deverá, então, dar ouvidos à sua anima e não evitá-la,
deverá vivenciar este estado profundamente e não fugir dele através
de subterfúgios como drogas, bebidas, separação da esposa, etc.
Estes são artifícios enganosos que não o ajudarão em nada a
encontrar o caminho da realização. Se o homem aceitar estas suas
indisposições e usar a auto-reflexão, sua anima reconhecida se
tornará uma grande aliada no caminho da individuação. Quanto mais
ignorados forem os lados negativos das figuras internas, no caso, a
anima, mais fortemente eles atuarão provocando resultados
indesejáveis.
Uma maneira de que o homem dispõe para manter um primeiro contato
com sua anima é reconhecer o problema que lhe afligi como seu mau
humor, a insatisfação, suas fantasias, o que significa reconhecer as
projeções tornando-as conscientes. A anima inconsciente usa vários
recursos para se manifestar e com isso obter atenção, o mais
freqüente é encher a cabeça do homem de fantasias sexual-erótica, o
homem neste estado, envolve-se num auto-erotismo e passa a
interessar-se por filmes, livros revistas pornográficas e outros,
demonstrando uma postura infantil perante a sexualidade.
O homem poderá libertar-se de sua anima nociva quando aprende a
lidar com os seus sentimentos e expressá-los através do
relacionamento com os outros. Sanford diz que: “Desta maneira ele
escapa da Mãe e desenvolve seu lado Eros”
A anima, dizia Jung, “é o arquétipo da vida” e um homem sem
relacionar-se com o seu mundo interior terá uma vida sem
criatividade, sem emoção, poderá até obter grande sucesso, porém
ficará sempre insatisfeito, sentindo um vazio interior. A anima,
além de mediadora, alerta o homem para a busca de sua verdadeira
essência. É a alma do homem e dá a ele ânimo para lutar e coragem
para enfrentar os sofrimentos da vida.
O desenvolvimento da anima passa por quatro níveis, segundo observa
Jung, que não ocorrem, necessariamente, um após o outro e estão
representados simbolicamente da seguinte forma: O primeiro estágio
simbolizado na figura de Eva, como mulher primitiva e induz um
relacionamento instintivo e biológico; o segundo estágio pode ser
representado por Helena de Fausto, ela representa as mulheres também
num sentido erótico porém mais ligadas ao romântico e especialmente
atraentes; o terceiro estágio fica bem exemplificado pela Virgem
Maria que é uma forma espiritualizada e sacralizada da anima e, por
último, um estágio em que a anima está simbolizada pela sabedoria e
manifesta-se sob a forma de uma mulher divina, pela Sapiência que
transcende a santidade. Estes estágios são normalmente observados em
sonhos, contos de fadas, mitos e na literatura. Embora o quarto
estágio é o estágio ideal do desenvolvimento, os Junguianos
concordam que é praticamente impossível de ser alcançado. No
entanto, com esforço e dedicação o homem poderá obter um grau de
desenvolvimento bastante satisfatório em relação à sua anima.
Uma importante característica gerada no complexo materno é o medo
que o homem desenvolve do Feminino e que dificulta consideravelmente
o desenvolvimento da anima. Este medo tem origem na primeira fase de
diferenciação do ego quando o ego-herói é afugentado pela Mãe
Terrível que ao mesmo tempo lança seus tentáculos na tentativa de
reter o filho, conforme capítulo II item 3 pág.42.
Sobre o medo do Feminino, NEUMANN diz: “O medo patológico que a
criança tem do feminino, a “bruxa” do verdadeiro complexo materno,
faz um contraste com seu medo normal ligado à transição para o
desenvolvimento. Esquematicamente, podemos distinguir três formas
principais de expressão deste complexo. A primeira é a prisão do ego
pela “Mãe”, evitando assim a progressão necessária ao
desenvolvimento. A segunda, é que há uma tendência regressiva no
ego, isto é, uma perturbação do ego da criança na qual a tendência
progressiva não é suficientemente forte ou foi desviada por uma
tendência instintiva, regressiva, a sair em busca da fase
matriarcal. Em terceiro lugar, porém, pode estar presente uma
constelação na qual um desenvolvimento já realizado, progressivo, do
ego é destruído.”
O medo do Feminino é visivelmente observado na violência do homem em
relação à mulher. Não conseguindo relacionar-se com o seu Feminino
interno, sua anima, porque está bloqueada pelo medo enraizado nas
entranhas do complexo materno, ataca a mulher como defesa. É o poder
em detrimento do amor, porque onde domina o poder não há espaço para
o amor.
Outra maneira que o homem tem para expressar seu medo do Feminino é
fugindo de seus próprios sentimentos uma vez que eles são vistos
como características próprias das mulheres. Agindo assim, afastam-se
de sua própria anima ficando alienados dentro deles mesmos. Este
pavor do Feminino também é percebido através das críticas que os
homens recebem de seus companheiros se demonstrarem fraquezas,
muitos são capazes de afastarem-se por medo de verem-se refletidos
no medo do amigo.
Outro medo que vem do complexo materno, em relação ao Feminino, é
instalado com a ajuda da figura paterna. Embora não tenha sido
enfatizada a importância do papel do pai no desenvolvimento
infantil, não significa que sua imagem arquetípica e sua presença
real sejam menos importantes no desenvolvimento do menino do que o
papel da mãe. O pai tem um papel importante em todas as fases de
desenvolvimento do menino. Na transição do matriarcado para o
patriarcado, por exemplo, desempenhará uma função de equilíbrio para
a força poderosa da mãe. Sua postura e suas condições psicológicas,
sendo adequadas, poderão servir como incentivo ao crescimento do
filho funcionando como uma ponte que ajudará o menino a transcender
do mundo da mãe para o mundo do pai. Se, ao contrário, for um pai
ausente tanto fisicamente quanto psicologicamente o menino poderá
permanecer preso à mãe.
Como vimos, o ego entra em luta contra o dragão para obter sua
própria libertação, uma outra luta, no entanto está prevista e se
dará para, desta vez, resgatar o Feminino, representado pela anima,
que ficou preço à mãe. A anima significa o Feminino enquanto
transformação é um novo rumo a um novo destino desconhecido. Tudo o
que é novo e transformador é excitante, mas gera medo. O medo que o
ego enfrenta desta vez é o medo do Feminino independente. Neumann
salienta que este medo do desconhecido é causado pela insegurança do
ego que ficou preso ao mundo da mãe, diz ele: “Todas as vezes que o
desenvolvimento do ego masculino é perturbado e que ele não alcançou
a independência, por exemplo, quando seu ego permaneceu infantil em
virtude de uma fixação na mãe e não alcançou a “combatividade”
necessária ao ego heróico – cada exigência de “transformação”, cada
exigência de desenvolvimento rumo a algo desconhecido e distante de
tudo que proporciona segurança, é respondido com medo e na
defensiva.”
O pai agora, também tem um papel especial, se for influenciado por
um complexo materno, poderá reagir violentamente contra este,
demonstrando seu medo terrível do feminino, deixando, assim, de ser
um modelo saudável para o filho na sua relação com o feminino. O
medo que o menino sente do feminino e que perpetuará por toda sua
vida se não analisado, também é responsabilidade do pai, ou seja, de
como o pai age em relação ao seu próprio feminino.
A raiva que muitos homens sente de suas mulheres é, em alguns casos,
resultado de abuso infantil, no entanto, a maioria das vezes os
casos não se ajustam a este perfil, mas aparece como conseqüência de
excesso de amor materno e falta de amor paterno. A mãe prende o
filho e o pai não o ama suficientemente para ajudá-lo a sair do
mundo da mãe. A dor gerada por este sufoco e abandono é profunda e
quando adulto, o homem, não consegue voltar para si mesmo com medo
de vivenciar novamente esta dor, então sua relação com os outros se
torna insuportável porque vê o outro como fonte de sua dor.
O medo do Feminino no homem adulto é provocado pelo complexo materno
e também pelo complexo da anima. Se o homem estiver preso a um
complexo de anima a solução, apesar de trabalhosa envolve uma camada
mais recente da psique, é portanto mais fácil de ser atingida,
enquanto que se ele estiver preso a um complexo materno que é mais
profundo, a solução será conquistada com muito mais trabalho. Todas
as arestas e resquícios do domínio da mãe deverão ser reavaliados se
o homem desejar trilhar o caminho da individuação.
Individuar-se é conhecer a si mesmo tão profundamente que todos os
seus conteúdos mais escondidos do inconsciente terão oportunidade
para se expressarem na consciência. É uma perfeita integração de
inconsciente e consciente.
O homem só poderá enveredar-se por este caminho se sua principal
guia, a anima, estiver sendo reconhecida, atendida e respeitada.
Se ela estiver deformada, atuando inconscientemente, não conseguirá
exercer sua principal função que é iluminar o caminho do mundo
interno.
CONCLUSÃO
A mãe e a relação primal é a base do desenvolvimento humano. A
qualidade do relacionamento mãe-filho nos primeiros meses de vida
determina como aquele pequeno indivíduo vai se conduzir no mundo
durante toda sua vida. A segurança, a proteção, a ausência de medo e
o vínculo afetivo estabelecido nesta fase farão parte da verdadeira
base da existência humana.
Qualquer desordem emocional ou física que venha abalar a base que dá
sustentação ao bebê poderá destruir-lhe a capacidade de
desenvolvimento fixando-o sob o domínio arquetípico materno.
O complexo materno que remonta a fase mais infantil e primitiva do
ego atrapalha ou impede o desenvolvimento integral e a individuação
no homem, uma vez que interfere no reconhecimento da anima que é o
arquétipo guia do inconsciente.
Quando ativado e inconsciente o complexo materno fixa o homem na mãe
e o impede de seguir adiante em busca de sua realização pessoal.
Deforma sua visão de mundo e o deixa vivendo somente na superfície
do seu eu consciente. Interfere em suas relações com outras pessoas,
principalmente do sexo oposto e impede a projeção adequada de sua
anima.
A anima quando subdesenvolvida pode levar o homem para longe da
realidade, manifesta-se negativamente na sua personalidade fazendo
com que se sinta irritado, depressivo e o leve à apatia. Nada para o
homem neste estado está bem, a anima faz dele um sentimental,
sensível, melindroso. Torna-o um tipo afetado que tudo e a todos
critica, falta-lhe autonomia, sente-se impossibilitado de
relacionar-se adequadamente com uma parceira e muitas vezes o seu
desenvolvimento profissional fica aquém de sua capacidade.
O segredo para o homem que tem dificuldade de relacionamentos tanto
externos quanto internos é buscar as raízes, ouvindo sua voz interna
e manter com ela um diálogo honesto, ser humilde e reconhecer que
está atolado na vida e na mãe.
É impossível eliminar totalmente o complexo materno, porém perderá
sua energia na medida em que for vivenciado plenamente e seus
componentes forem integrados ao consciente. Ao vivenciar as
fantasias e imagens que emergem do complexo, o homem estará
construindo uma ponte para o seu inconsciente e dará oportunidade
para que sua anima se expresse adequadamente, exercendo sua função
de guia.
Embora, ficou demonstrado que a mãe pessoal não deve ser a única
responsável pelo desenvolvimento do filho e que o complexo materno
não pode ser resolvido reduzindo-o unilateralmente à mãe humana
porque, se assim o fosse, estaríamos desconsiderando a existência
dos arquétipos, não devemos, no entanto, ignorar que suas atitudes e
sentimentos ao lidar com a criança ocupam lugar de destaque. Muitos
problemas poderão ser desencadeados a partir do comportamento da mãe
independentemente de serem conscientes ou não. Sabemos ser
impossível exercermos controle sobre o nosso inconsciente, porém,
quanto às atitudes conscientes maternas, estas sim, poderiam ser
balizadas e refletidas, com o objetivo de preservar a unidade
psicológica do filho. Um filho não deverá ser uma válvula de escape,
nem tampouco uma tábua de salvação para mães impedidas de se
relacionarem adequadamente com seus parceiros. Deverá ser antes de
tudo a oportunidade para que a mãe, enquanto feminino, exerça sua
principal função neste mundo que é gerar e fazer crescer nova vida.
Se o homem deseja sua evolução deverá reconhecer que o inimigo está
dentro dele e não fora. Precisa lutar e desvencilhar-se da
dependência dos pais pessoais, senão estará fadado a ver seus
relacionamentos externos desmoronarem-se e impossibilitado de
contato com o seu mundo interno. Ficará preso para sempre no mundo
infantil. O preço mais alto, no entanto, que pagará por não examinar
seus medos e não se livrar do complexo materno será o sacrifício de
sua própria alma.
A cura do homem ferido pelo complexo materno depende primeiro da
observação do efeito do seu complexo materno atuando dentro dele. É
preciso coragem, paciência, perseverança e boa vontade para lutar
com um mal tão profundo. A humildade e resignação para resgatar as
projeções também devem estar presentes e a mais importante de todas
as tarefas será o desenvolvimento da capacidade de relacionar-se com
sua anima com seu lado feminino que o levará a uma viagem
surpreendente pelo inconsciente em busca do encontro com o Si-Mesmo.
Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e
Especialista Junguiana - Atende em seu consultório em São Paulo:
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