Comprometimento
Por Maria Inês Felippe
21/09/2007

Trata-se da competência mais procurada pelas empresas e a de maior complexidade. Considero-a assim, porque está diretamente ligado a valores pessoais, modelo mental. Nossa!!! Complicado, né? Mas vou tentar explicar de forma mais interessante para você, tendo como base um exercício de reflexão.
Pense nos valores que lhe foram ensinados na infância. São esses que norteiam nossa forma de pensamento, a nossa vida. Se o mundo nos foi apresentado como algo ameaçador, com cobras e lagartos, em alguns casos, acaba formando adultos inseguros, sentindo-se ameaçados, permanecendo sempre na defensiva, sentindo-se pequenos diante deste “grande monstro” que é o mundo, faltando-lhe forças para enfrentá-lo. Para lutar contra esse monstro, são necessárias armas poderosas escondidas e que ninguém pode saber, passando a desconfiar de tudo e todos ( vão fazer comigo o que eu faria…). Tudo isso para sobreviver e não desfrutar do que vivemos.
Com algumas exceções, esses ensinamentos são transformados e percebidos como parcialmente irreais, mas isso exige muito esforço para lutar contra os ensinamentos tão enraizados em nossa mente, colocando em conflitos os primeiros ensinamentos e os novos aprendizados.
Sabe quando a criança escuta desde pequena que ela é a “ovelha negra” da família? Quando adulta, não se sente segura diante das suas qualidades, habilidades, mesmo porque desde pequena foi considerada fora do contexto. E é essa pessoa adulta que busca constantemente agradar os outros na busca do reconhecimento e envolvimento social.
É impressionante como tenho encontrado, nos meus trabalhos, pessoas inseguras, perdidas, querendo chamar a atenção, arrogantes, infelizes e com conflitos pessoais pesados entre o ser e o parecer.
O homem pode ser considerado como sendo reflexo da própria mente e vive num cenário onde o parecer é mais importante do que o ser. Outro dia, uma pessoa disse assim para mim: “Maria Inês, mesmo não sendo...........é importante parecer que é...............”. Não é um absurdo?! Certamente, você conhece muitas pessoas assim.
Ignorar o ser não significa eliminá-lo ou superá-lo. Tal situação - cada vez mais -coloca a pessoa em situações embaraçosas, muitas vezes, posso dizer, insustentáveis, colocando-a em conflito pessoal e relacional.
Como poderei comprometer-me com o outro se abandono a mim mesmo? Como as empresas podem querer comprometimento dos colaboradores se elas negligenciam a própria conduta humana. Muitas vezes, praticam a frase: “ Quem não se sujeita, não se ajeita!”. Desconsideram os valores pessoais, as formas de pensamento, o reconhecimento das habilidades pessoais, as crenças e os valores.
Tenho trabalhado muito nas empresas com resgate dos valores pessoais, empresariais também para que se tenha o comprometimento com a missão, a visão e os valores organizacionais, assim como a reciprocidade entre empresa – colaborador e vice versa e, nessas experiências, percebo como o ser humano está descuidando-se, ficando cada vez mais voltado para o outro, fazendo tudo para agradar o outro, demonstrando o que não é, comprometendo-se com o outro e descomprometendo-se consigo mesmo.
Os conflitos não elaborados, não harmonizados, apresentam-se no estado consciente, sob muitas formas, prejudicando as nossas relações interpessoais, manifestando-se de forma agressiva, destrutivamente, sugerindo mau humor, arrogância, fuga da responsabilidade, insegurança, medo e, por vezes, a falta de ética.
A desarmonia entre o que pensa, fala e realmente faz transforma-nos em vítimas de nós mesmos. Se você se sente de alguma forma assim, abandonando-se, sem força para prosseguir, é momento de parar, refletir e buscar a harmonia e a integridade pessoal. Só assim conquistará a felicidade e a interação com tudo e todos que nos cercam.
A fidelidade pessoal leva à relacional. Se não estou coerente comigo mesmo, como poderei ser com as pessoas que estão ao meu redor?
Para um crescimento pessoal, sugiro:

1- procure a auto-análise, sempre retomando e revendo os valores pessoais;
2- retire as máscaras que cobrem o seu verdadeiro ser;
3- reconheça suas virtudes pessoais, olhando para si mesmo e reconhecendo o seu valor;
4- não busque respostas para justificar a sua falsidade pessoal;
5- seja integro consigo mesmo, acima de tudo;
6- coloque a humildade e o aprendizado na frente da arrogância;
7- não se atormente com erros cometidos, aproveite para crescer;
8- cuide do seu “Deus” interior, da mesma forma que você cuida com carinho do outro, não O abandone;
9- observe, perceba o ambiente, as pessoas que o cercam e pense de que maneira poderá contribuir com seus reais valores;
10- analise a missão, a visão e os valores da empresa em que trabalha, veja se são compatíveis com você. Se forem, ótimo! Pratique, então! Se não, pense de que maneira poderá contribuir com seus valores pessoais;
11- Avalie de que maneira seus valores pessoais poderão contribuir para uma sociedade melhor, reflita mais e pratique-os.

O ser integral deve trabalhar partindo da própria vida, aceitando-se como é, buscando aprimorar-se, engajando-se no mundo em transformação, sem perder seus valores pessoais, morais e éticos.
Lembre-se, fundamentalmente, de que a obediência externa leva ao envolvimento; agora… a obediência interna leva ao comprometimento.

Maria Inês Felippe: Palestrante, Psicóloga, Especialista em Adm. de Recursos Humanos e Mestre em Desenvolvimento do Potencial Criativo pela Universidade de Educação de Santiago de Compostela - Espanha. Palestrante e consultora em Recursos Humanos, Desenvolvimento Gerencial e de equipes, Avaliação de Potencial e competências. Treinamentos de Criatividade e Inovação nos Negócios. Palestrante em Congressos Nacionais e Internacionais de Criatividade e Inovação e Comportamento Humano nas empresas. Vice Presidente de Criatividade e Inovação da APARH.