Conheça Sua Base Motivacional
Por Tom Coelho
27/07/2003
“Nós sabemos o que somos, mas não o que podemos ser.”
(Shakespeare)
Vamos colocar de lado o conceito equivocado de que motivação, no
mundo corporativo, significa bônus salariais, promoções, eventos
festivos, palestras-show e tapinhas nas costas. Embora importantes e
desejáveis, profissionais responsáveis sabem que estes são aspectos
apenas estimuladores de um comportamento pró-ativo.
Motivação é um processo endógeno, responsável pela intensidade,
direção e persistência dos esforços de uma pessoa para atingir uma
determinada meta. A intensidade está relacionada à quantidade de
esforço empregado - muito ou pouco. A direção refere-se a uma
escolha qualitativa e quantitativa em face de alternativas diversas.
E a persistência reflete o tempo direcionado à prática da ação,
indicando se a pessoa desiste ou persiste no cumprimento da tarefa.
Teorias Comportamentais
Muitos são os estudos acadêmicos envolvendo teorias comportamentais.
Abraham Maslow e a Teoria da Hierarquia das Necessidades
(necessidades fisiológicas, de segurança, de pertencimento, de
estima e de auto-realização), Frederick Herzberg e Teoria dos Dois
Fatores (fatores higiênicos e motivacionais), Douglas McGregor e a
Teoria X e Y (subserviência e controle x potencialidades e
desenvolvimento pessoal), Skinner e o Behaviorismo (o comportamento
humano pode ser orientado), e mais recentemente, Mihaly
Csikszentmihalyi e a Experiência Máxima ou Flow (a motivação como um
estado de espírito).
Enfim, há uma série de outros autores dignos de menção como
Alderfer, Turner, Lawrence, Adams, Vroom, Hackman e Oldham. Mas meu
intuito aqui não é fazer um tratado acadêmico. Aliás, falar de
teoria para empreendedores é falar de fumaça. Esta introdução foi
apenas para apresentar um último nome que tem uma grande
contribuição prática para ser apreciada: David McClelland, psicólogo
da Universidade de Harvard, com a Teoria das Necessidades
Adquiridas.
Três Bases Motivacionais
McClelland identificou três necessidades secundárias adquiridas
socialmente: realização, afiliação e poder. Cada indivíduo apresenta
níveis diferentes destas necessidades, mas uma delas sempre
predomina denotando um padrão de comportamento.
Pessoas motivadas por realização são orientadas para tarefas,
procuram continuadamente a excelência, apreciam desafios
significativos e satisfazem-se ao completá-los, determinam metas
realistas e monitoram seu progresso em direção a elas.
Indivíduos motivados por afiliação desejam estabelecer e desenvolver
relacionamentos pessoais próximos e pertencer a grupos, cultivam a
cordialidade e afeto em suas relações, estimam o trabalho em equipe
mais do que o individual.
Finalmente, aqueles motivados pelo poder apreciam exercer influência
sobre as decisões e comportamentos dos outros, fazendo com que as
pessoas atuem de uma maneira diferente do convencional,
utilizando-se da dominação (poder institucional) ou do carisma
(poder pessoal). Gostam de competir e vencer e de estar no controle
das situações.
Meu convite é para que você reflita, respondendo a si mesmo: onde me
encaixo? É provável que você goste de ter o controle, deseje
realizar coisas, tenha prazer em competir, estime cultivar relações
pessoais. Mas observe como há um padrão dominante. Se eu solicitar a
uma platéia que todos cruzem os braços, algumas pessoas colocarão o
braço direito sobre o esquerdo e vice-versa. Se eu solicitar que
invertam estas posições, todos serão capazes de fazê-lo, mas
seguramente sentirão um certo desconforto. Assim são as
preferências: tendemos a optar por alguns padrões. Você tem uma base
motivacional preponderante.
Teoria Aplicada à Prática
Em minha carreira como empreendedor e consultor, muitas vezes
questionei-me por qual razão certas organizações fracassavam.
Deparei-me com modelos de negócios fantásticos que não geravam
resultados. Encontrei empresas lucrativas que definhavam devido à
incompatibilidade entre seus sócios. Observei executivos talentosos,
porém sem brilho nos olhos.
Hoje, à luz da Teoria de McClelland, passei a ter a visão menos
turva. Consigo compreender que para uma empresa lograr êxito é
preciso a praticidade e o foco de pessoas motivadas pela realização,
a liderança e a firmeza de indivíduos motivados pelo poder, a
sinergia e empatia daqueles motivados por afiliação.
Quando as empresas perceberem isso, será possível encontrarmos
pessoas mais felizes trabalhando pelo simples fato de estarem
posicionadas nos lugares corretos. Passarão a gostar do que fazem,
pois poderão exercer suas habilidades com plenitude.
Quando os empreendedores perceberem isso, será possível construir
sociedades mais estáveis formadas por pessoas que se complementam
mais por suas habilidades e anseios e menos por cultivarem apenas
relações de amizade. Teremos negócios mais sólidos, gerando mais
empregos, sendo mais auto-sustentáveis.
Quando as pessoas perceberem isso, será possível que passem a abrir
mão da necessidade de estarem certas – ou de alguém estar errado –
sem abdicar de suas próprias verdades filosóficas ou opiniões mais
sensíveis. E passem, a partir deste autoconhecimento, a fazer o que
podem, com o que têm, onde estiverem.
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela
ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP, é empresário,
consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting,
Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE-Fiesp.