Conheça as necessidades do seu lado criança
Por Rosemeire Zago
14/07/2010
Você se lembra do brinquedo preferido que teve quando criança? E
qual foi o momento mais feliz da sua infância? Quantas coisas você
fazia quando criança que nem se lembra mais? Por onde anda aquele
sentimento de alegria, espontaneidade, ânsia em crescer? Por que não
resgatar o que era bom? A criança é uma das maiores fontes de
alegria e ao resgatarmos está alegria, ficamos mais inspirados,
criativos e menos estressados. Se a sua criança e criatividade
ficaram adormecidas, desperte-as!
Todos nós temos dois aspectos em nossa personalidade: o adulto e a
criança. A criança interior representa todas as nossas lembranças da
infância, nossas emoções, nossos sonhos. É a fonte da criatividade,
a promessa de futuro, o símbolo da transformação e crescimento.
Contém os sentimentos, lembranças e vivências da infância. É a
totalidade da psique, a parte genuína que perdemos quando adultos. É
tudo o que foi abandonado e ao mesmo tempo, é divinamente poderosa.
Ela é o ser, o sentir, o vivenciar e o viver. É pura sensibilidade.
Está presente em nossas fantasias, devaneios, sonhos, desejos,
imaginações, intuições e principalmente, em nossas emoções.
Também quando você brinca, tem prazer naquilo que faz. Está presente
também na parte de nossa psique que vivencia a angústia e o
sofrimento. Quando você chora, quem está chorando é sua criança;
abandonada, sozinha. Quando você cria algo também é sua criança. Ela
é nossa maior fonte de criatividade e busca do prazer. Mas
infelizmente, muitos quando adultos, buscam esse prazer na fuga pela
comida, no álcool, nas drogas, porém de forma destrutiva.
A característica de um adulto com sua criança interior abandonada é
quando está quase sempre com medo de estar errado, é como se a
criança que foi um dia, acreditasse ser essa a razão por ter sido
rejeitada, abandonada. Primeiro por seus responsáveis e depois pelo
seu próprio adulto.
Desenvolve assim a necessidade de ser perfeita, buscando aprovação
dos outros por estar desconectada com quem realmente é. Perde-se a
conexão com ela ainda criança, quando sentia que seus sentimentos
não importavam, não se sentindo valorizada e amparada. Quando não
sentia permissão para expressar sentimentos de tristeza, raiva,
perda, frustração. As cobranças também contribuem para esse
afastamento, principalmente as internas. Temos que produzir até
quando estamos em férias ou na praia num sábado de sol, não se pode
perder tempo. Não se admira mais a natureza, as coisas simples. O
dinheiro se sobrepõe ao carinho, a atenção, ao amor.
O brinquedo do adulto
Os fracassos, as decepções, a culpa, a humilhação, tudo conduz à
perda da criança. Para os adultos hoje brincar implica em ir a
restaurantes, beber e ter poder. Brincar é muito diferente, é o que
acontece espontâneo, não planejado, como quando você rola no chão
fazendo cócegas no seu amor, quando você joga apenas para brincar,
não ganhar. Quando há entrega, envolvimento. Você já observou uma
criança brincando? Mas mesmo não tendo uma criança real, é possível
brincar, se soltar.
A necessidade de encontrar a criança interior faz parte da jornada
de todo ser humano que se encaminha na direção do autoconhecimento e
de sua totalidade. Ninguém teve uma infância perfeita. Todos nós
carregamos questões inconscientes que não foram resolvidas. Sabemos
que 80 a 95% das pessoas não receberam atenção adequada quando
criança, por isso o resgate da criança interior se torna a tarefa da
maioria das pessoas. Afinal, o que há de mais rico e sagrado dentro
de cada um de nós e que ninguém poderá nunca pegar, roubar, levar se
não tiver nosso consentimento? Nossos sentimentos! E só chegamos
nele através da Criança Interior.
É buscar o que lhe dá prazer, porém de uma forma saudável. É se
permitir brincar, pular corda, jogar peão, jogo de botão, se sujar
na terra, tudo aquilo que você fazia quando criança, mas com o
objetivo de resgatar sentimentos como a alegria, espontaneidade,
esperança e criatividade. As pessoas tendem a confundir ser criativo
com ser infantil, inconveniente, e uma coisa não tem nada haver com
a outra.
A criança é pura emoção. Quem não consegue ter controle das suas
emoções é porque não reconhece as necessidades da criança e nem sabe
que seus descontroles são reações dela. Quando você está triste,
chorando, sem controle, na verdade é sua criança que faz você sentir
tudo isso, pois é o que ela está sentindo desde sua infância. Se ela
não for tratada com o amor que esperava, vai ficar esperando e
muitas vezes buscando nas outras pessoas este amor, mas só uma
pessoa pode dar isso a ela: você!
Quando há dificuldade em vivenciar as próprias emoções, fica mais
difícil o processo de individuação, autoconhecimento. Quando há esse
reencontro, há uma transformação, uma mudança de perceber a vida.
Transformamos nossa consciência, crescemos, transcendemos,
vivenciamos mais poder pessoal e de escolhas. Não permitimos mais
relacionamentos doentes e destrutivos e começamos a assumir mais a
responsabilidade pela nossa felicidade, a ter respeito pelos nossos
sentimentos.
Há ainda um resgate da espontaneidade de pensamento, a
autenticidade, criatividade na solução de problemas, formas
originais de expressão, capacidade de arriscar-se, ir a busca de
oportunidades, e o mais importante, ao aprender a cuidar de sua
própria criança: maior equilíbrio emocional.
A criança interior amada é instintiva, confiante, intuitiva,
criativa, imaginativa, curiosa, apaixonada, suave, sensível. O
resgate da criança interior é o elemento mais importante do trabalho
terapêutico. É a maior fonte de autoconhecimento. Aumenta a
auto-estima e provoca paz e alegria. É a essência do amor, o
verdadeiro encontro consigo mesmo. É quando você aprende a se amar!
Dez dicas para cuidar bem do seu lado criança
1. Reconheça que a criança que você foi um dia permanece dentro de
você. Afinal, quando amamos alguma coisa ela tem valor para nós, e
quando alguma coisa tem valor para nós passamos tempo com ela e
cuidamos dela.
2. Entre em contato com a sua criança interior.
3. Em estado de relaxamento em um local tranqüilo, visualize seu
quarto de dormir quando pequeno. Recorde o local, as cores, os
objetos, o cheiro. Veja sua cama e dormindo nela, você. Aproxime-se,
passe a mão nos cabelos dessa criança e acorde-a. Olhe bem em seus
olhos e pergunte a ela o que mais quer e precisa. Ouça a resposta.
Depois diga a ela que está a seu lado sempre e que a ama muito.
Abrace-a fortemente. Permita-se sentir a emoção deste momento.
4. Quando estiver triste, abrace-se como se estivesse abraçando uma
criança em seu colo. Diga palavras de tranqüilidade,
transmitindo-lhe muita paz e amor.
5. Ampare e apóie todos seus sentimentos.
6. Não viva segundo as regras dos outros, apenas respeite-as.
7. Compre um urso, boneca ou um cachorrinho de pelúcia e coloque em
sua cama. Quando estiver triste, converse com ele, como fazem as
crianças.Pode ser também um carrinho, autorama e brinque!
8. Vá ao supermercado e compre apenas aquilo que gosta. E coma, sem
culpas! Mas também sem exageros.
9. Pegue uma foto sua de criança e coloque num porta retrato. Todos
os dias olhe para a foto com carinho, transmitindo-lhe amor.
10. Reserve um tempo e leve sua criança para passear, brincar, se
divertir. Permita-se!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br