Considerações Gerais Sobre o Ódio Versus Medo
Por Dr. Wagner Paulon
18/05/2008

Jamais poderemos ter esperança de compreender e controlar o ódio, até que aprendamos a compreender e controlar o medo. As pessoas se odeiam porque se sentem inseguras. A pessoa mais propensa a odiar é aquela que abriga sentimentos de inferioridade. Ela é frustrada, ansiosa, desconfiada e medrosa.

As pessoas que odeiam passam pela vida com os punhos cerrados. Estão constantemente na defensiva. É mais do que provável que estiveram expostas a padrões de ódio durante a infância. São condicionadas ao ódio e em muitas ocasiões estão apenas imitando as reações de ódio dos pais.

As pessoas odeiam porque foram e ainda são privadas do amor que desejavam e do amor de que tinham necessidade. Sentem-se rejeitadas. Abrigam a triste desilusão de que para sobreviver precisam odiar. São encorajadas nas suas convicções pela cínica filosofia de que este é o mundo do "homem lobo do homem" — que todos são desonestos, egoístas e que o único meio de progredir neste mundo é conservar-se em luta e ultrapassar em ódio o semelhante. Para elas a vida torna-se um círculo vicioso de insegurança que leva ao ódio e o ódio dá em resultado uma maior insegurança. Cada dia se torna uma luta competidora para sobreviver. A sobrevivência, não importa como, torna-se uma obsessão. Compreendem a tragédia do seu falho raciocinar quando o tiro da sua cínica filosofia da vida sai pela culatra. Infelizmente aprendem através de triste experiência que o ódio gera o ódio, que a vingança e o espírito vingativo são qualidades fúteis.

Os ódios epidêmicos são geralmente característicos das guerras. Mesmo as nações estão finalmente acordando para a fria compreensão de que não existe vitória em nenhuma guerra.

Sintetizando, as pessoas odeiam por causa do medo. Sentem medo da morte, de Deus, dos indivíduos e do maior de todos os medos - o medo do próprio medo.

Muitas pessoas que consultam psicanalistas, por varias vezes demonstram ser pacientes difíceis somente porque estão saturadas com sentimentos de indignidade pessoal e com encurralados sentimentos de hostilidade. Aborrecem-se facilmente e zangam-se por terem de pagar o tratamento psicanalítico numa condição em que são propensos a culpar os outros. Não gostam que se lhes diga que os seus problemas de infelicidade são autoprovocados.

Quando o psicanalista se esforça para ser bondoso e compreensivo, o paciente neurótico, cheio de amargura e de ódio, muitas vezes se torna abusivo. Está incapacitado de aceitar a bondade e o amor que o psiquiatra irradia. Isto faz que ele se sinta mais culpado. Tenho tido pacientes que me disseram que não podiam suportar alguém que demonstrasse bondade para com eles. Esta demonstração tornava-os hostis ou fazia-os chorar. Quando o psicanalista é firme, o paciente interpreta mal, considerando esta firmeza como rejeição. Torna-se desconfiado e como conseqüência toma uma atitude abusiva de defesa. O psicanalista transforma-se em alvo da antipatia que seu paciente cultivou durante anos, com relação aos pais.

Todo psicanalista experimenta este mecanismo de amor e ódio entre os seus pacientes. Quando o paciente principia a ter fé no tratamento (transferência positiva) em direção ao cultivo de um amor normal a si próprio, logo começa a desprender-se da sua rija casca de defesa e pela primeira vez compreende que o ódio não conduz a parte alguma. A sua saúde melhora à medida que as suas atitudes se modificam. Finalmente convence-se de que o ódio tem sido um obstáculo dispendioso.


Dr. Wagner Paulon - Formação em psicanálise (Escola Paulista), mestre em psicopatologia (Escola Paulista), psicologia (Saint Meinrad College) USA, pedagogia (FEC ABC), MBA (University Abet) USA, curso de especialização em entorpecentes (USP), psicanalista por muitos anos de vários hospitais de São Paulo.