Consumo e consumismo: diferenças, necessidades e reflexões
Por Marcus Facciollo
14/11/2009
Duas palavras com a mesma raiz, muito semelhantes, mas com
significados, implicações nas vidas das pessoas e motivos muito
diferentes.
Consumo é alguém adquirir, aproveitar bens, produtos, para
satisfazer reais necessidades. Consumimos água e alimentos para
podermos sobreviver. Comprar roupas é uma atividade de consumo
motivada por uma necessidade real, precisamos nos vestir para
vivermos numa sociedade que não aceita a nudez no dia a dia, também
para agasalhar nossos corpos do frio, da chuva. Consumimos energia
elétrica para que tenhamos uma série de confortos em nossas casas,
ambientes de trabalho, mesmo porque hoje em dia é quase inimaginável
nossa sociedade funcionando sem energia elétrica. Ou seja, o consumo
se baseia em necessidades primordiais para o homem e para a
sociedade na qual vive (o que pode variar de pessoa para pessoa, de
sociedade para sociedade, porém). Até aqui, vemos que o consumo é
uma atividade vital.
O consumismo, por outro lado, é o ato, ou hábito, de adquirir
produtos em geral supérfluos sem que haja necessidade real, de
maneira muitas vezes compulsiva, gerando até mesmo problemas
financeiros para as pessoas, que desviam parte do dinheiro que seria
empregado para fins mais necessários para compras sem necessidade.
Há quem chegue a graus extremos de consumismo, comprando montes de
coisas sem nem saber o que são, para que servem, e depois se
arrependem ao ver que perderam dinheiro e criaram dificuldades
financeiras para elas mesmas, por vezes sentem-se culpadas, mas não
conseguem evitar que essas atitudes consumistas e negativas se
repitam. Mesmo sem falar de casos extremos, as atitudes consumistas
não costumam levar a fim positivo nenhum. Compra-se por comprar, não
se satisfaz de verdade necessidade alguma, mesmo que temporariamente
isso pareça acontecer.
Em nossa sociedade atual, o consumismo é incentivado pelas empresas,
na mídia, mesmo os indivíduos passam a achar que é “correto”,
necessário até. Muitos o entendem como sinal de status, de riqueza,
de estar “antenado” com as novidades do mercado. Outros consomem
vorazmente para gerar uma (falsa e transitória) sensação de
bem-estar interior, como se fosse urgente, vital comprar algo para
se sentirem em paz, ou mais felizes.
Que uma “shopping-terapia” às vezes faz bem não se pode negar. Você
se dar um presente quando está triste, ou quando quer se fazer um
agrado, ou a outra pessoa, por achar que merece, isso é válido e
melhora o astral, sim. Mas quando a “shopping-terapia” é frequente,
útil para preencher um vazio interior que não se entende ou amainar
uma dor, uma necessidade gritante, é hora de parar e refletir,
procurando entender o que acontece.
Muito diferente do “luxo útil” que já citei em outro artigo, o
consumismo desenfreado é mais um sinal de alerta do que de
satisfação de uma necessidade verdadeira. Por que alguém se deixa
levar pela mídia, por exemplo, e passar a ser uma pessoa consumista,
que acha que estará e/ou será melhor se trocar de celular a cada 6
meses, ou todo ano comprar um carro novo, toda semana comprar uma
peça de roupa nova…? Será que faltam alguns valores e certezas
internos nessa pessoa, do tipo “meu valor e qualidade como pessoa
não se medem pelo que tenho, mas pelo que sou de verdade”? Talvez
sim. Talvez a pessoa esteja confusa e ache que o consumismo é a
atitude certa em nosso mundo atual, já que ela é bombardeada por
mensagens para que compre, compre, compre… Talvez tenha atitudes
consumistas (consciente ou inconscientemente) para se sentir aceita
num grupo, ou demonstrar estar num “nível superior” perante outros e
“levantar” uma autoestima comprometida. Ou, como já dito, tem no
consumismo uma “solução” (paliativa, temporária) para seus
problemas, usa-o para esquecê-los.
Só que, como já dito, o bem-estar gerado por tais atitudes, se
existe, é efêmero. Os motivos que levaram a pessoa a comprar e
comprar não desaparecem, e aí ela permanece nessa roda-viva de
compras, gastos, permanência de insatisfações, compras, gastos…
Quando a gente se percebe consumista, e isso gera um mal-estar, pode
pintar uma culpa por nossas atitudes. Mas, menos culpa e mais ação.
O que já foi feito, passou. Importante daí para frente é tentar
entender o que motiva as atitudes, olhar para dentro de nós e
avaliar o que acontece. Isso é um processo de autoconhecimento, de
redescoberta do eu e de seus valores sinceros. Só assim poderemos
encontrar e resolver os conceitos distorcidos que temos, a
desorientação que nos acomete, os problemas de autoestima que
porventura existam. Poderemos valorizar o que realmente importa,
fortalecer-nos internamente e perante mensagens deturpadas externas
e internas, fortalecer nossas ideias construtivas, abandonar falsos
conceitos. Crer realmente que a satisfação e o bem-estar verdadeiros
vêm do SER, e não do TER ou do PARECER.
Marcus Vinícius P. Oliveira - Psicólogo organizacional, palestrante
e consultor de empresas. Autor do livro de bolso “O passo além da
competição”. Diretor da Liner Consultoria.