O Contágio das Emoções
Por Vanilde Gerolim Portillo
14/05/2008
Emoção é a condição involuntária e exacerbada que não conseguimos
controlar e que atinge invariavelmente nosso corpo e mente
dopando-nos, cegando-nos. Sob o efeito de uma violenta emoção
fazemos coisas que jamais imaginávamos fazer. A emoção é, portanto,
um processo inconsciente que nos domina, sobrepondo-se ao controle
do ego e da consciência.
Sendo inconsciente, a emoção tem uma grande força que contagia, como
uma doença cuja disseminação se dá, sem controle, por todos os meios
possíveis. As emoções são diferentes das idéias e dos sentimentos.
Enquanto estes são funções da consciência, a emoção é involuntária,
vem de outra camada de nossa psique. É avassaladora para o sujeito e
desvia a atenção controladora do eu.
Facilmente observadas - invariavelmente aparecem no corpo - as
emoções estão presentes em diversas situações. Quando manifestadas
em multidões poderão motivar as mais absurdas barbáries ou as mais
importantes atitudes de civilidades. Isto ocorre porque seus
conteúdos podem ser positivos ou negativos e, sendo inconscientes,
são projetados no ambiente originando processos semelhantes em
outras pessoas formando um laço emocional. Este, por sua vez, é de
difícil dissolução e tende a contagiar todos os que estão por perto,
pois as emoções têm, também, um certo caráter de sugestão.
O contágio pelo riso é um exemplo simples e elucidativo que
C.J.Jung, descreve da seguinte maneira: "Suponhamos estar num país
em que se fala uma linguagem que não conhecemos, e que alguém conte
uma piada e todo mundo ri. O que acontece é que acabamos rindo de
maneira idiota, simplesmente porque é impossível controlar o riso".
Podemos observar os efeitos contagiantes das emoções desde as
situações mais comuns do nosso dia a dia até em grandes conflitos
que podem envolver uma nação inteira. Desde que estejamos no meio de
uma multidão excitada por razões políticas, por exemplo, acabamos
por participar da mesma ideologia mesmo que, até alguns momentos
antes, fôssemos contrários a ela.
Outra situação semelhante se dá quando estamos, por exemplo, em uma
partida de futebol. É comum ocorrer enfrentamentos e exaltação dos
ânimos com a necessidade de interferência de autoridades
repressoras. Quando observamos cada um que esteve envolvido em um
desses conflitos no seu dia a dia, no trabalho ou na família,
notamos uma grande diferença de atitude e comportamento parecendo se
tratar de outra pessoa.
Com o desenvolvimento da consciência e da vida em sociedade, o ser
humano viu-se obrigado a reprimir tudo o que fosse individual em
favor da coletividade. Este desenvolvimento, necessário, porém, não
fez com que os elementos reprimidos deixassem de existir apenas
porque não os vemos constantemente. Os conteúdos individuais que são
reprimidos, embora possam beneficiar a sociedade, cairão no
inconsciente e poderão se transformar em algo muito perigoso para
esta mesma sociedade que tanto tenta se proteger.
Em sociedade o ser humano tem uma participação, inconscientemente,
maior do que individualmente porque em grupo os conteúdos
inconscientes serão projetados na massa fazendo com que este grupo
funcione como num arrastão levando os indivíduos. Individualmente
quando somos tomados pela emoção, perdemos o autocontrole e nosso
lado interno nos domina e não conseguimos impedir que isto aconteça,
em grupo esta condição pode extrapolar os limites de qualquer
civilidade.
Acaba existindo com isso um tipo de isenção sobre a responsabilidade
individual. O indivíduo não se sente culpado e sua moralidade desce
a níveis primários. A moralidade de uma sociedade como um todo, no
entanto, se baseia na moralidade individual, de cada elemento
daquele grupo. Assim, se não houver liberdade para que cada
indivíduo exerça suas características individuais, não haverá espaço
para que estes exerçam a moralidade exigida pela sociedade.
Quanto maior for a sociedade tanto maior será a repressão dos
valores individuais e maior será a irresponsabilidade individual de
cada elemento do grupo. O contágio das emoções se dá rapidamente
quando nos encontramos em um grupo preso a uma determinada condição
emocional porque as defesas do eu não conseguem atuar.
Como o ser humano é, por natureza, gregário, se desenvolveu para
viver em sociedade. Sua maior angústia é a possibilidade da solidão,
não pode fugir e desenvolver a sua individualidade ao seu bel
prazer, pois necessita da sociedade para reforçar seus
comportamentos e atitudes. O caminho, então, para melhorarmos nossa
atuação em sociedade (já que não vivemos sem ela) é procurar o
autoconhecimento e o crescimento individual, ou seja, atuar a favor
de nossa individuação. Quanto mais individuados formos mais
conscientes e responsáveis seremos. Quanto mais nos conhecermos
internamente, quanto mais pudermos saber sobre nossos desejos e
nossa condição afetiva e nossos complexos, mais estaremos
conscientes a respeito de nosso lado sombrio. Correremos, portanto,
menos risco de sermos tomados por estes conteúdos indesejados.
Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e
Especialista Junguiana - Atende em seu consultório em São Paulo:
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