Corações e Mentes - Uma Reflexão sobre Mudanças
Por Maria Rita Gramigna
22/07/2007
PAUSA DO COTIDIANO
Um cotidiano agitado, voltado para a sobrevivência. Lei da selva.
Trabalho, projetos de conquistas de espaço na vida, no mercado, na
empresa. A mente não pára, já proclamava Cazuza!
Férias ao normal! Viver o natural!
O natural na descontração do rir à toa, andar sem destino, conversar
fiado com desconhecidos, pular atrás do trio elétrico, andar de
ônibus (e até gostar!), viajar de barco, fazer nada, acordar tarde,
dançar, cantar, “viajar” ao som de uma viola, guardar para sempre o
momento de êxtase ao fotografar o pôr-do-sol e o amanhecer, ver o
mar, tomar uma cervejinha gelada sob 40 graus de calor, comer fruta
no pé, andar com os pés no chão, sentir a suavidade da brisa fresca,
alimentar-se de VIDA!
PAUSA INTERROMPIDA
Fim do feriado e retorno ao cotidiano de trabalho.
E o retorno fez-me refletir sobre os “corações e mentes” que habitam
em cada um de nós.
Quem é mais poderoso? O coração ou a mente?
Em nossa vida carregada das normas que criamos sem perceber ou que
nos são impostas sutilmente vamos, aos poucos, deixando nosso
lado-coração-de-lado. O descompasso faz com que nossa vida pessoal,
a cada dia, vá descendo graus e graus na escala da qualidade.
A LUTA ENTRE OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS
Cisão. Separação. A luta entre nossos hemisférios cerebrais é
reforçada a cada dia. Enquanto o direito, do coração dia “SIM” o
esquerdo, da mente retruca “NÃO VAI DAR CERTO!”.
Surgem então as dissociações, tão normais que acabam tornando-se
naturais aos nossos olhos:
- “o discurso é um e a ação é outra”;
- “o sentimento diverge da expressão”:
- “os sonhos não chegam a se concretizar. São interrompidos pela
realidade”;
- “sorrisos amarelos disfarçam insatisfações”;
- “máscaras mostram as mentes e escondem corações”.
Por onde andam a alegria, o lúdico, a satisfação e o prazer de
viver?
Roger Sperry, prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1981,
comprovou cientificamente a lateralização dos nossos hemisférios
cerebrais e suas áreas de comando: um dirige a mente e outro o
coração.
O hemisfério direito, cujas funções são pouco estimuladas nas
culturas ocidentais devido a condicionantes familiares, educacionais
e culturais, é o NATURAL. Ele orienta as ações espontâneas,
intuitivas, prazerosas, lúdicas, cooperativas, éticas e imaginosas.
É ele que nos permite ter emoções e sensações de toda ordem. Sua
presença manifesta-se através da habilidade de perceber o todo,
reunir, agir com sabedoria dentro do paradigma holístico.
O esquerdo, aquele reforçado em nossa cultura é o NORMAL. Orienta as
ações planejadas, lógicas, racionais e competitivas. Ele comanda
nossa habilidade de julgar, medir, classificar, separar,
discriminar. Faz-nos perceber as partes e ignorar o todo.
O homem-razão, o homem-mente predomina até hoje. Batalhas foram
vencidas pelo hemisfério NORMAL. Mas... a guerra ainda está de pé!
Observando as principais instituições vigentes no Brasil (escola,
empresa, sindicato, governo) e grupos de interesse, podemos
constatar que a postura dissociativa está presente e a predominância
das ações é do hemisfério esquerdo.
A REALIDADE EMPRESARIAL NO BRASIL
As formas de gestão, na maioria das empresas, (públicas ou privadas)
refletem o comportamento do homem-normal:
- a administração participativa é implantada por decretos, ordens de
serviço e normas internas (“Participamos que daí para frente nossa
nova estrutura será etc...etc...etc...);
- a espontaneidade, a brincadeira, o humor e o lúdico, muitas vezes
são confundidos com “falta de seriedade no trabalho (sic)”;
- alguns programas de gestão estão com seu enfoque voltado para
conceitos e instrumentos de padronização e racionalização do
trabalho relegando a segundo plano o investimento na educação e nos
programas de desenvolvimento pessoal;
- a qualidade de vida na empresa é pouco cuidada, resumindo-se a
planos de benefícios e algumas melhorias físicas e materiais;
- ‘furar o olho” do colega é considerado até esperteza;
- raramente encontra-se um clima afetivo e de cooperação entre as
pessoas;
- áreas se atropelam no jogo do “vence o melhor” (como se existissem
várias empresas em uma só);
- a competição é interna, prejudicando a competitividade no mercado
e gerando um clima insustentável;
- promoções de colegas são contestadas a tal ponto que, mesmo diante
da necessidade de enxugamento de áreas alguns dirigentes incham a
estrutura com “aspones”, encarregados, supervisores, auxiliares do
encarregado, substitutos dos substitutos”. Procuram fugir de seus
algozes: aqueles que não foram promovidos e querem a sua cabeça;
- O stress generalizou-se. Sintomas tais como colesterol alto,
úlceras, enxaquecas, depressão e desânimo acarretam em um número
significativo de pessoas que buscam o afastamento temporário do
trabalho, por motivos de saúde;
- Gavetas estão com planos e projetos não implantados. O processo
decisório é burocrático e lento em função das normas.
É...a situação está pouco animadora!
Em cada uma das ações citadas podemos constatar a influência da
MENTE sobre o CORAÇÃO. Ainda não conseguimos trabalhar os dois
hemisférios de forma harmonizada e integrada e isto se reflete em
nosso modo de ser e agir.
E NÓS, AONDE VAMOS?
Como reverter este quadro?
É necessário mudar paradigmas. E mudar paradigma implica em adotar e
acreditar em novos valores construtivos.
Tenho identificado aqui e ali, um novo homem: o HOMEM PARENTÉTICO.
Ele apresenta atitudes e valores contrários aos do HOMEM
ORGANIZACIONAL predominante nas últimas décadas (o que veste a
camisa da empresa, não tem hora para si mesmo e nem para as pessoas
ao seu redor, adoece ou morre, pois nada mais faz a não ser brigar
pelo poder ilusório de seu papel). Sua meta é a ascensão
profissional. Talvez em sua lápide fique bem a frase: “MEU NOME É
TRABALHO”
O HOMEM PARENTÉTICO chega aos poucos, e vai ocupando espaços com
fluidez, sensibilidade, conhecimento, sabedoria e já apresenta
vestígios de uma nova consciência.
QUEM É O NOVO HOMEM PARENTÉTICO?
Ele está em todos os lugares e em diversas funções. Tem consciência
crítica altamente desenvolvida das premissas de valor desenvolvidas
no dia-a-dia. Consegue graduar seu fluxo diário, colocando-se tanto
como espectador quanto como sujeito ativo, percebendo-se como parte
importante de um todo maior. Romper raízes institucionais é mais
vantajoso do que permanecer onde não é o seu lugar. Seu compromisso
é com resultados. A urgência em obter um significado de vida faz com
que ele busque melhorar sua qualidade de vida e se esforce
continuamente para influenciar no ambiente. É preocupado com a
ecologia ambiental e humana. Luta contra sistemas rígidos e
burocráticos. Suas principais armas são a fluidez, o desapego, a
sensibilidade e um profundo respeito e amor pelos outros.
Para ousar interferir no ambiente empresarial temos um grande PODER:
o poder da transformAÇÃO. Através do empreendimento de ações
geradoras de resultados vamos obtendo adesões podemos formar um
exército de agentes multiplicadores de mudança.
A descoberta do homem parentético que habita cada um de nós pode ser
o começo de tudo.
Conhecendo-nos podemos enxergar os outros a nossa volta.
E percebendo-os vamos trazê-los para o nosso lado.
Esses homens-parentéticos estão em todos os níveis hierárquicos da
empresa. Sem querer se expor muito não se fazem notar pelos menos
perceptivos. Mas o HOMEM MENTE-CORAÇÃO existe. E temos que contar
com ele.
Tenho a convicção pessoal de que só vamos conseguir atuar de forma
efetiva neste processo quando começarmos a trabalhar nossa MUDANÇA
PESSOAL.
Podemos oferecer somente aquilo que temos e se não melhorarmos nossa
qualidade de vida como acreditar na qualidade “fora de nos”?
Como enfrentar com pique e motivação este momento real e normal em
nosso dia-a-dia de trabalho?
A força e a coragem estão em nós. A partir da mudança de posturas,
atitudes, filosofia de trabalho, formas de lidar com os problemas e
com a vida, encarando medos e dificuldades de forma natural e
simples, podemos transformar nosso ambiente.
A convivência harmônica e equilibrada de “corações de mentes” é
possível. Temos um potencial ilimitado.
TUDO INICIA NA PRÓPRIA PESSOA!
Maria Rita Gramigna é Mestre em Criatividade Total Aplicada pela
Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Graduada em
Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-graduada
em Administração de Recursos Humanos pela UNA – União de Negócios e
Administração (MG). Atua no Mapeamento de Competências, contatos
estratégicos com clientes, capacitação gerencial e treinamento da
equipe de consultores da MRG Consultoria e Treinamento Empresarial.