Crise Nervosa
Por Jorge Antônio Monteiro de Lima
21/05/2010
Ela acorda irritada. A primeira confusão de seu dia ocorre no
elevador do prédio onde mora. Nervosa com umas crianças - companhias
de elevador, que estavam extremamente alegres e rindo, e que a
acompanharam por dois longos minutos -, bastou que um pequenino
falasse um pouco mais alto para ela se descontrolar. Disse à mãe dos
pequenos que esta deveria dar melhor educação aos filhos e lhes
ensinar a não rir em elevador de condomínio.
Bufando, consegue arrancar uma lasca da lateral de seu carro ainda
na garagem. Não percebe na rua e avança um sinal fechado, quase
provocando um acidente e ganhando uma bela multa de trânsito. Chega
ao escritório em que trabalha e logo percebe colegas rindo em uma
roda distante, e outras duas se afastando. Sua fama é antiga no
local de trabalho. Dois passos já servem de base para saber como vai
seu humor instável, seu desequilíbrio. Ali, no trabalho, somam-se
centenas de reclamações pela falta de educação, pela gritaria, por
ela viver irritada e contaminar todo o ambiente.
Um histórico que no mercado seria inaceitável, mas ali, ela, como
sobrinha do proprietário do estabelecimento - seu padrinho -, homem
extremamente bonzinho e distante do negócio, apenas por isso ali ela
permanece intocável, uma alienígena, totalmente sem convívio com os
próprios colegas. Gritos, xingos, pessoa ficar bufando sem motivo,
manter-se mal com a vida e com os que convivem natural.
Todos podemos um dia ter uma crise nervosa. Pelo estresse
cumulativo, pela pressão da vida, por crises afetivas, de
identidade, de sentido de vida. O que diferencia é que um indivíduo
equilibrado terá isso como evento passageiro, retornando ao seu
equilíbrio e, se ofender alguém pedirá perdão.
Porém existem pessoas que vivem em crise, em um ciclo eterno de mau
humor, apatia e agressividade. Indivíduos que, por estarem mal com
sua própria essência, acabam por contaminar todo ciclo de convívio,
tornando-se, mais que chatos, insuportáveis. Conhece alguém assim?
As crises nervosas podem ser amainadas quando a pessoa não tem
tendência à agressividade. A personalidade agressora sempre se
achará superior, correta, educada - mesmo dando mais coices que uma
égua no cio - sempre se sentirá no exercício da razão(mesmo falando
barbaridades sem o menor crivo de consciência crítica).
Desequilíbrio somado à agressão, facilmente vira crime: assédio
moral, processo ético, calúnia e difamação, vias de fato, homicídio.
Comportamento social inaceitável, tipificado no Código Penal, fora
todo o isolamento social e toda falta de credibilidade profissional
decorrentes.
Infelizmente indivíduos que vivem em crise em raríssimas
oportunidades procuram ajuda. Só o fazem quando destroem o próprio
casamento, a família, a carreira, ou após um período de prisão. São
excelentes clientes de advogados. Poucos acumulam riqueza,
normalmente distribuem o que ganham pagando indenizações, acordos
trabalhistas. Isto ocorre pouco porque este tipo de personalidade em
raras vezes constrói carreira ou fortuna, pois pela falta de
convívio perdem a credibilidade social e profissional.
Poderia ficar aqui semanas falando da personalidade em eterna crise
e listando todo tipo de estragos social, familiar e afetivo que
produzem. Todavia, saliento algo que poucos profissionais percebem.
O comportamento agressivo é apenas uma fachada social para se manter
distante de todo e qualquer incômodo. A pessoa em eterna crise é um
adulto birrento, um ser mimado que não aceita ser contrariado em
suas vontades. Quando contrariado roda a baiana, da chilique, piti,
faz birra qual criança em supermercado, sem noção de limites. A
agressividade vira mecanismo de defesa, tornando tudo cômodo na
vida, sem crescimento, sem noção de espiritualidade, com profundo
apego à falta de crescimento, à vida vazia, ao comodismo no
intolerável. “Sou agressivo por que não dou certo, não dou certo por
que sou agressivo”, dizem. E não interessa o talento ou a beleza:
indivíduos assim, mesmo com muito dinheiro e status, sempre ficam de
fora da vida boa e tranquila, coabitam o inferno criado pela
agressão e irritabilidade. O mecanismo de defesa criado afasta todos
de boa vontade em auxiliar e cria o ciclo vicioso eterno. E por que
pessoas devem acostumar-se com viver mal? Quantas chances um
individuo assim joga fora ao longo da vida?
Invariavelmente quase todos os agressores que vivem a eterna crise
de mau humor são criados em superproteção, falha dos pais, que
jamais colocam limites ou mostram a noção do respeito ao próximo, a
cordialidade, a educação, a noção de amor ao outro, a caridade e a
benevolência. Indivíduos criados para o egoísmo, para pensar apenas
no beneficio próprio.
Tenta fazer uma festa em sua casa e animar 15 convidados. Música,
piadas, palhaçadas, conversas agradáveis. Para melhorar um ambiente,
às vezes gastamos horas. O individuo em crise nervosa consegue
estragar isso em segundos, com apenas uma grosseria. É muito mais
fácil contaminar um ambiente com algo negativo que com alegria. Isto
decorre da agressividade social recorrente em nosso mundo, que
prende-se facilmente ao que e ruim. Agressão vira falta de educação,
berço, e, mesmo com dinheiro, isola a pessoa na sociedade. Todo
mundo tem direito a ter uma crise. Mas viver nela nos dias de hoje e
inaceitável. É preciso buscar a meta de se ter equilíbrio, vital
para a realização. Devemos aceitar a escolha dos que não querem
viver bem, sua escolha, e deixar que a vida os ensine,
preferencialmente longe de nós.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental,
Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para
projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais
email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria & Eventos. Autor do livro "Reflexões do Mundo
Corporativo". Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).
Contato: artigos@personaconsultoria.com.br /
www.personaconsultoria.com.br