Critique o “Comportamento”!
Por Bruno Soalheiro
05/06/2008
Seria ingenuidade pensarmos que em nossa vida não iremos nos deparar
com situações nas quais teremos que, de alguma forma, dizer às
pessoas que elas agiram de forma, digamos, inadequada. Pode ser em
uma situação de trabalho, numa reunião de condôminos ou mesmo
durante uma celebração entre amigos ou família. O fato é que algumas
vezes devemos falar, não há outro jeito. Mas como fazê-lo sem criar
animosidades?
Nunca é fácil sermos alvo de alguma crítica, e são raras as pessoas
que sabem aceitá-las com maturidade e ponderação, assim como são
raríssimas aquelas que sabem fazê-las sem ofender ou magoar.
Notem que não estou falando aqui do famigerado feedback, que é o ato
de darmos ao outro a oportunidade verdadeira de conhecer o que
pensamos a seu respeito em dada situação, e ponderarmos sobre
mudanças adequadas, ajudando-o a melhorar seu desempenho. Falo da
crítica pura, daqueles momentos em que não temos exatamente o que
sugerir ou discutir, mas nos vemos impelidos a criticar.
A crítica pura costuma pecar por falta de ação, reconheço.
Geralmente ela descreve o que “algo de ruim”, mas dificilmente cria
um clima para que se discuta sobre o que “seria mais adequado”. A
pessoa simplesmente aponta algo e assim fica. Por isso o feedback é
bem mais eficaz.
Entretanto, em alguns momentos não há mesmo o que discutir, e
queremos apenas fazer - para o bem comum- uma espécie de
“observação” ao comportamento de outra pessoa que, de maneira às
vezes bem óbvia até para ela mesma, não foi dos melhores.
E é aqui que gostaria de dar uma sugestão valiosa: Critique o
comportamento, e não a pessoa! A diferença é brutal.
A forma como verbalizamos nossas opiniões tem muito a ver com a
qualidade do que conseguimos em nossa vida, e procurar emitir
opiniões claras e circunscritas sobre “eventos específicos” nos
permite uma comunicação muito mais clara, objetiva, e
principalmente, menos agressiva.
Frases que tendemos a dizer, como: Você é mal educado! Você é grosso
demais! Você é isso... Você é aquilo... são pouquíssimo úteis pelo
fato de resumirem toda a existência da pessoa a um comportamento
específico seu. E é genérico demais, não define o evento.
Já criticar o comportamento significa algo como dizer: “Você ontem,
naquele momento, em tal situação, se comportou desta e daquela forma
desagradável!” Ou ainda: “Sua reação mediante o ocorrido foi tal, e
não foi muito adequada!”
Percebam que isto é totalmente diferente de dizer: “Você é...”.
Quando dizemos apenas “Você é...” não só irritamos a outra pessoa
(que afirma claramente “não ser” aquilo), como também deixamos de
clarificar para ela o real motivo de nossa observação. Isto não leva
a nada, a não ser a conflitos.
Mas quando endereçamos claramente um “comportamento observável e
circunscrito” fica difícil à própria pessoa negar o fato e entrar em
defensiva. Pois além de evidenciarmos o ocorrido, não estamos
criticando o que ela “é”, e sim o que ela “fez” em um dado momento
de sua vida.
As pessoas agem por meio de comportamentos, e não através de “ser
algo” simplesmente, mesmo porque, mudamos o que somos a cada
instante de nossas vidas. Prestando um pouco de atenção você poderá
perceber claramente o “comportamento específico” que não foi mais
adequado em dado momento e pode dirigir suas observações a ele, e
não à pessoa como um todo.
Eu sei, parece uma simples e boba questão de “palavras”! Mas faz uma
diferença que você nem imagina. Experimente!
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.