Cuidado com a Religião do Sucesso
Por Bruno Soalheiro
05/06/2008
A pressão pela qual passam hoje os jovens profissionais que ainda
não encontraram seu “lugar” no mercado em breve poderá se tornar um
caso sério de saúde pública.
As revistas, os gurus, os livros, as metas e a obrigação de “ser um
sucesso” têm levado muita gente ainda jovem às raias do desespero.
Se o sujeito fizer 30 anos de idade e não estiver ganhando no mínimo
dez mil reais por mês ele entra em depressão.
É óbvio que nem todos são assim, e haverá sempre no mundo aqueles
que mal se levantam do sofá, por preguiça de terem que assentar de
novo. Mas é crescente a quantidade dos que buscam a iluminação
suprema em um novo tipo de religião: a religião do sucesso!
Você pode achar estranho eu escrever isto aqui, considerando que
presto consultoria em gestão de carreira para jovens profissionais e
que grande parte do meu trabalho é “evangelizar” para o sucesso no
mundo atual.
A questão é: Temos que jogar o jogo sim, conhecer as regras e as
utilizarmos para nosso bem; o que é muito diferente de nos tornarmos
bitolados na doutrina da “Igreja da Santa Carreira e do sucesso dos
próximos dias”.
Quando falo em minhas palestras, por exemplo, em “adquirir o perfil
do profissional do século XXI”, não estou sugerindo que as pessoas
joguem fora seu caráter e suas peculiaridades e entrem num processo
de fanatismo louco em busca da fama profissional e do dinheiro,
tornado-se robôs alienados do capitalismo moderno.
Então, porque tantos livros, cursos e palestras sobre como se dar
bem na carreira?
Porque vivenciamos um momento da cultura ocidental no qual se
valorizam muito determinados comportamentos e características em
relação à vida profissional. Isto não é necessariamente negativo ou
positivo, é apenas o momento atual.
Existe hoje, na sociedade capitalista moderna, todo um conjunto de
atributos aos quais a sociedade dá muito valor; e este valor, no
caso profissional, é expresso em termos de “clientes, reconhecimento
e dinheiro”.
Esta questão de “seja assim, faça isto, sete passos para tal, tantos
hábitos de quem etc...” são nada mais do que “produtos reflexo” do
que nossa sociedade valoriza hoje. Não são “a verdade absoluta”,
como também não são “bobagens de auto-ajuda”.
São apenas regras; as regras do jogo.
Isto é que é importante! Entender o grande jogo e poder jogá-lo! Mas
tendo o cuidado de olhá-lo de fora, senão você corre o risco de
levar a vida excessivamente a sério e até acabar com ela em nome do
tal sucesso.
Um dos meus trabalhos como consultor hoje consiste justamente em
obter, segmentar e vender às pessoas informações e conhecimento
sobre como se destacar profissionalmente no ambiente atual.
Informações que as tornarão mais competitivas em relação a seus
concorrentes!
No entanto, isto não significa que eu seja um bitolado que acha que
a vida se resume à carreira, palestras e livros de auto-ajuda
profissional. Nem que eu creia que todo mundo pode e vai ter o
“sucesso supremo” no sentido de ser famoso e ficar muito rico. Já
dizia um guru das antigas: Sucesso é conquistar aquilo que você
quer! E o que você quer nem sempre precisa ser o que “os livros e
palestrantes dizem que você deveria querer”.
É muito bom obter conhecimento, buscar o desenvolvimento pessoal e
procurar identificar os comportamentos mais assertivos dentro da
sociedade em que vivemos, mas é bastante saudável (mental e
fisicamente falando), entender que tudo isto que experimentamos
hoje, especialmente no ocidente, é um momento cultural específico,
fruto do capitalismo moderno que pressiona cada vez mais as pessoas
por desempenho, criando por vezes uma ilusão inatingível do que o
ser humano deve conseguir para ser feliz.
Então amigo: Jogue, leia, tente, estude, decore os 7 passos, as 5
virtudes e os sei lá quantos preceitos. Mas entenda: é um jogo, um
corte da realidade em um momento cultural específico que elege
determinados valores como imprescindíveis para uma vida realizada!
Ou você entende isso, ou fica louco! Duvida?
Até a próxima.
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.