Cura Emocional na Velocidade Máxima
Por Silvia Malamud
15/04/2009
BRAINSPOTTING: O futuro terapêutico já está presente!
Estudo de caso
(Algumas situações aqui expostas, como nome pessoal e direcionamento
de trabalho, por exemplo, são totalmente fictícias, no sentido de
proteger a privacidade do meu paciente)
Jorge esteve recentemente em Nova York e por intermédio de um amigo
que mora lá, acabou por entrar em contato com a eficiente técnica
terapêutica de Brainspotting. Por indicação deste tipo de
atendimento acabou chegando em meu consultório.
Jorge trabalha no mercado financeiro, mais precisamente na Bolsa de
Valores. Veio com a queixa de que em suas reuniões de trabalho, na
hora de prestar contas sobre a qualidade de seus serviços,
usualmente é tomado por um verdadeiro pânico. Relata que percebe ser
acometido por uma espécie de branco em sua linha de raciocínio e na
sequência nota que suas palavras mal conseguem sair de sua boca.
Além disso, revela ter sintomas físicos de tremor e tem a constante
sensação de que vai desmaiar quando está nesta situação.
Ao perguntar o quanto de perturbação, de zero a dez, que ele possui
em relação à cena exposta, Jorge imediatamente confidencia o grau
dez.
Somando-se a toda esta ansiedade, teme ainda que alguém do trabalho
descubra o quanto ele fica mal com toda essa situação,
desesperando-se ainda mais por imaginar que alguém pode desconfiar
do desconforto pelo qual passa. Conclui que todos os seus colegas
primam pela excelência de atuação num ambiente que por si só já é
extremamente competitivo.
No decorrer das perguntas iniciais, revela que nunca esteve numa
situação como esta e que este fato nunca ocorreu dentro do seu
contexto social ou familiar.
Conto a ele que iremos trabalhar com essa cena de desconforto
emocional e que faremos alguns procedimentos com a finalidade de
abrir espaço para facilitar o descongelamento das imagens, sensações
e símbolos associados a este evento.
Damos, então, início ao procedimento terapêutico Brainspotting, que
é uma ferramenta neurobiológica altamente potente, para que ocorra a
quebra e a transformação da bolha que reflete uma situação emocional
repetitiva. No caso de Jorge, é a situação de branco e pânico na
hora de se expressar com seus superiores no sentido de prestar
contas sobre o seu trabalho. Lembrando que o Brainspotting pode ser
eficiente para qualquer tipo de questão, desde traumas, lutos,
fobias, questões existenciais, compulsões e outros. O Brainspotting
acaba promovendo um rearranjo cerebral com capacidade de reformular
por completo os significados anteriores.
Nosso cérebro escaneia o nosso corpo e a nós mesmos, ajustando
células e órgãos e etc., o tempo todo, para que possamos viver num
determinado padrão de equilíbrio. Isso ocorre por conta das nossas
infinitas conexões cerebrais.
No caso de Jorge, após encontrarmos o ponto no seu cérebro que
alojava tal questão, começamos com o procedimento. Logo de início,
Jorge apresentou uma forma imensamente variada de pensamentos que
angustiavam e permeavam o seu dia-a-dia. Eram pensamentos que ele
nunca compartilhava com ninguém e que permaneciam de modo
silencioso, porém altamente gritante em seu silêncio interior. Vou
explicar melhor esses padrões de pensamento peculiares dele: - No
início do procedimento, Jorge contou sobre todos os pensamentos que
sobrevinham em sua mente e, num insight, notou que esses pensamentos
eram como se fossem aspectos seus que funcionavam como entidades
autônomas (embora fossem ele mesmo), estes aspectos/pensamentos
ficavam ininterruptamente cobrando uma performance diária de atuação
elevadíssima. Enfim, ele percebeu que estava sempre se devendo algo
e nunca sentia que seu serviço estava suficientemente bom (quantos
de nós não funcionamos assim?). Surpreendeu-se com essa percepção e
com a tendencia ditatorial que tinha dentro de si.
Jorge passou um bom pedaço de tempo viajando dentro dessas
conjecturas até que, num instante, todo esse bolo de pensamentos
pareceu se desgastar e foi exatamente no momento em que revelou
estar exausto. Pedi a ele que por alguns instantes fechasse seus
olhos e que me contasse se algo diferente viesse a ocorrer.
Num breve lapso de tempo, Jorge deu um sobressalto, comentando
abismado: -- Nossa! De onde é que essas imagens estão chegando desta
forma em minha mente?
- Jorge estava em pleno reprocessamento de Brainsppoting!
Conturbado, começa a falar sobre cenas de sua infância que nunca
mais havia lembrado. Eram cenas de quando ele era muito pequeno em
que se testava como um super herói, ora fantasiando a si mesmo num
tipo de brincadeira recorrente, que fazia com o seu irmão, onde ele
o salvava de vários tipos de perigo, ou quando pulava de uma
poltrona à outra imaginando que estava voando para resgatar
alguém...
Pedi para que abrisse os olhos a fim de continuar o processamento
com os olhos abertos... Na sequência, Jorge entrou em contato com
provas didíceis na escola, com cenas de excesso de autoritarismo dos
pais em relação às notas que ele trazia da escola e com a
insatisfação de ambos os pais quando as notas eram inferiores a 8.
Percebeu o imenso medo que tinha de ir mal na escola e lembrou-se da
sensação que tinha de sempre estar se devendo algo... sentia que,
por mais que se esforçasse, nunca nada estava bom e acabava por
acreditar que não se empenhava o suficiente.
Surpreso, revela que nunca havia tido a consciência que este tipo de
sentimento o permeava quando era menor. Conclui que o que sente no
trabalho agora não é novo.
Lembra-se de cenas onde teve que brigar na escola e que quando
chegou em casa levou bronca dos pais porque deveria ter dialogado em
vez de bater. Lembrou também que a turma toda naquele momento estava
lutando e que não havia espaço para se conversar. Viu-se em outras
cenas suas de briga de escola em que tinha que falar como lhe fora
ensinado, mas que achava que não conseguiria se expressar bem o
suficiente para ser entendido. Destas cenas, associou uma cena que
ele diz jamais ter existido (isso pode acontecer com frequência em
Brainspotting) onde tentava falar com seus pais, mas percebia que as
verdades deles eram absolutas e que ele não tinha espaço algum para
ser ouvido. Sentia que quase gaguejava e tremia de ansiedade pedindo
que os pais amenizassem o excesso de expectativa sobre ele. Numa
outra cena, viu-se brigando ferozmente com seus pais e, ainda numa
outra, lembrou-se de como é gostoso quando a família está reunida,
do imenso carinho que um tem pelo outro... Finalmente, viu-se em sua
reunião de trabalho olhando no olhos dos seus superiores em meio a
uma sensação corporal de tranquilidade inexplicável. Junto a isso
sentiu-se numa alegria indescritível e logo na sequência viu a todos
jogando uma partida de futebol, cada um com seu estilo, todos
competindo, querendo dar o seu melhor. De repente, viu as pessoas
junto com ele jogando o mesmo futebol num campo redondo do formato
do planeta. Pediu para parar e entendemos que a sessão estava
encerrada.
Após essa sessão, onde muitas outras situações ocorreram, Jorge
começou gradativamente a se sentir mais leve em seus encontros
profissionais. Surpreendeu-se, quando se percebeu mais livre para
impor seus valores, e não só no ambiente de trabalho. Nas noites
subsequentes teve vários sonhos que o ajudaram para que ele pudesse
elaborar mais e mais essas questões. Resgatou seu poder pessoal que
já estava nele desde os tempos em que ele experimentava as suas
forças como super herói.
Jorge hoje continua com o seu processo terapêutico que dia-a-dia o
auxilia a trazer mais dele para si mesmo, para que possa cada vez
mais seguir em suas jornadas de modo mais consciente e totalmente
presente.
Silvia Malamud é Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado. Autora do Livro: Projeto
Secreto Universos. Email: silvimak@gmail.com