A Diferenciação do Ego
Por Vanilde Gerolim Portillo
28/10/2001
A Psicologia Analítica considera a fase inicial da diferenciação do
ego como sendo análoga a grande luta do herói contra o dragão ,
ambos motivos mitológicos. Neste caso o herói é representado pelo
Ego Infantil e o dragão é a própria uroboros ou o mundo da Grande
Mãe ou ainda o próprio inconsciente. Segundo Jung “..., na
mitologia, o dragão é a mãe. Encontramos esse motivo pelo mundo
todo, e o monstro é denominado o dragão-mãe. Esse monstro absorve a
criança novamente, suga-a para dentro depois de tê-la feito nascer.
A “mãe terrível”, como também é chamado, vive a espera, de boca
escancarada, nos mares do ocidente, e quando um homem se aproxima,
ela a fecha sobre ele, e é o fim. Essa figura monstruosa é a
mãe-sarcófogo, a devoradora de carne humana; sob outra forma, ela é
a Matuta, a mãe dos mortos, a deusa da morte.”
É do inconsciente que o Ego precisa diferenciar-se. Inicialmente ele
é somente uma pequena semente que repousa tranqüilamente num berço
“redondo”. O “redondo” é o símbolo que melhor representa a origem do
mundo na maioria dos mitos da criação. É representado pelo uroboros
que contém; é o “ventre primal materno e útero ...”. A uroboros
representa a união dos opostos, do masculino e feminino. Não existe
neste ventre primal nenhuma diferenciação, contém, portanto, os
“Pais do Mundo”.
A responsabilidade do pequeno ego é muito grande. Destruir este
paraíso requer habilidade e coragem para assumir as conseqüências.
Separar os “Pais do Mundo” significa separar os opostos, o masculino
do feminino, o consciente do inconsciente, portanto criar conflitos.
Essa fase primitiva do ego infantil, quanto está sob o domínio da
uroboros é chamada de fase do matriarcado. A próxima fase do
desenvolvimento do ego é o patriarcado, que é o estágio da luz, da
consciência. É a fase do pai e do Arquétipo Paterno. A luta do herói
consiste no afastamento deste herói-ego do domínio da Grande Mãe e
uma aproximação com o mundo do pai. Sugere Neumann que “No tocante
ao homem e ao seu ego, a criação da luz e o nascimento do sol estão
relacionados com a separação dos “Pais do Mundo” e com as suas
conseqüências positivas e negativas para o herói que os separa...”
Origina-se desta tarefa, um grande sentimento de culpa pela
destruição do estado urobórico perfeito. Esse aspecto é vivenciado,
psiquicamente, como sofrimento e destruição. Observa Neumann: “Em
termos simbólicos, ela equivale a assassinato, sacrifício,
desmembramento e castração.”O ego, então poderá sucumbir à
influência da mãe terrível e acabar por assumir seu papel de
filho-amante e terminar como este na autodestruição.
Como a luta com o dragão significa o afastamento do mundo
inconsciente, rumo à independência do ego e da consciência, haverá
neste estágio, um incremento da masculinidade. A luta do herói
significa uma transformação da libido que vivia numa inércia
protegida pela mãe-dragão, ou seja, pelo inconsciente.
O arquétipo do herói encontra-se em todos nós e significa a
capacidade que dispomos para mobiliar a energia disponível no Self e
enfrentar o medo, a dor o desespero a depressão e, principalmente
enfrentar a atração que o paraíso da infância exerce sobre nós.
Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e
Especialista Junguiana - Atende em seu consultório em São Paulo:
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