Elogio e Crítica
Por Rogerio Martins
01/04/2008
Elogio é bom e quase todo mundo gosta, mas a crítica...
No mundo corporativo é comum observarmos situações onde as relações
são baseadas na crítica e punição.
Estudos do comportamento humano atestam que desde crianças nossos
pais e os adultos com quem convivemos tem papel fundamental para o
sucesso de nossas carreiras e ações pessoais. A quantidade de
críticas e elogios que recebemos podem ser cruciais para o nosso
futuro.
Pesquisas da Psicologia revelam que pessoas que foram expostas a
ambientes de muita crítica e punição tendem a desenvolver um padrão
de comportamento de omissão e submissão. Aceitam tudo e sentem-se
constantemente culpadas. Sua produtividade geralmente é aquém das
novas exigências do mercado. Quando é cobrado por algum resultado se
esquiva, dá desculpas ou chora. Outro padrão de comportamento que
pode ser gerado neste mesmo ambiente é totalmente contrário. A
pessoa age de forma agressiva, defensiva e desafiadora. Quando é
pressionada tende a agir compulsivamente.
Já aqueles que foram demasiadamente elogiados apresentam
características de arrogância e prepotência. Acreditam que o mundo
estará sempre aos seus pés. Tratam os outros como súditos. Desprezam
as hierarquias e querem o poder a todo custo. Apresentam
dificuldades para compreender a dimensão ética das relações.
O equilíbrio entre crítica e elogio na vida pessoal e no mundo
corporativo é fundamental para a geração de um bom ambiente familiar
e profissional. Algumas empresas estimulam seus funcionários a
sessões de feedback programado. Outras estruturam diversos tipos de
avaliações, como: competência, performance, desempenho,
participativa por objetivos etc. Assim, tem mais chances de apontar
claramente os caminhos, cobrar resultados e criar um clima
organizacional favorável para as mudanças. Em meio a tudo isso, é
fundamental o treinamento e desenvolvimento das lideranças. Ao líder
cabe o papel principal de estabelecer critérios e aplicar as
críticas e elogios. Com isso, garantir o equilíbrio no clima
organizacional e o aumento da produtividade.
A crítica, na sua essência, significa exame, apreciação que se faz
de uma obra. Portanto, quando fazemos uma crítica ela deverá ser
sobre o conjunto da obra, uma idéia, ações tomadas, fatos e não
sobre uma pessoa. O que ocorre muitas vezes no cotidiano
profissional e na vida social é exatamente o contrário. Por isso, a
maioria das pessoas tem dificuldade em aceitar uma crítica, pois se
sentem ameaçadas, punidas, menosprezadas e até mesmo humilhadas.
Isso me faz lembrar da história vivida pelo Pedro, ou como os mais
chegados o chamavam: Pedrão. Sujeito simpático, falante, sempre com
um sorriso no rosto, demonstrando sempre estar de bem com a vida.
Sua característica principal era a franqueza. Sempre falava o que
pensava. Certa vez Pedrão foi convocado para participar de um
projeto onde não tinha muita experiência. Como seu chefe insistiu e
disse que daria todo apoio, Pedrão aceitou, afinal poderia ser mais
uma oportunidade de mostrar suas qualidades. O projeto começou e
nosso bravo personagem começou a perceber que tudo aquilo não tinha
nada a ver com sua área de atuação e, por isso, precisaria de mais
tempo para estudar, aprender e poder colaborar no projeto.
Certamente que este tempo não foi lhe dado, afinal o prazo para a
entrega do projeto era muito curto e precisava de todo o esforço dos
envolvidos. O fato é que Pedrão não se saiu muito bem. Perdeu dias
debruçado em materiais, livros, apostilas e relatórios para tentar
entender o projeto. Passava horas a mais na empresa para dar conta
do seu serviço e se inteirar do plano. Tudo em vão. O resultado foi
uma gastrite que passou a conviver com ele diariamente e a briga
homérica que teve com o responsável pelo projeto. A gastrite não vem
ao caso detalhar, mas sobre a discussão...
Tudo começou quando Pedrão resolveu apontar algumas falhas na
condução do projeto. Na verdade, o responsável pelo projeto
realmente cometeu alguns erros no planejamento e isso gerou certo
atraso, mas não foi o fator principal. Houve um misto de
incompetência da equipe, falta de experiência dos participantes,
prazo muito curto, falta de apoio da diretoria e outros detalhes
menores. No fim sobrou para o Pedrão.
Certo dia, no meio de uma das muitas reuniões de planejamento -
munido de boa intenção - tascou a famosa “crítica construtiva”.
Disse que o projeto continha falhas graves e que achava não ser
possível completar no prazo estipulado. Apontou também a falta de
habilidade do coordenador em liderar a equipe. Sua forma direta e
repleta de “achismos” chocou a todos. Nesta reunião, além do
coordenador do projeto, estavam mais seis pessoas de diversas áreas
que completavam a equipe. O resultado foi catastrófico! O
responsável sentiu-se ofendido e esbravejou: c omo alguém que não
tem experiência no assunto pode falar algo desse jeito, ainda mais
na frente de todo mundo?
Bem, a conclusão desta história é que crítica construtiva é balela.
Ela só será construtiva se o outro assim entender. Se ele perceber
sua utilidade. Quando uma crítica é apontada, por melhor que seja a
intenção, somente o outro poderá julgar sua aplicação. Em resumo
crítica é crítica, ou seja, é apreciação desfavorável, é apontar
falhas, é censura. A forma como é feita pode mudar muita coisa, até
sua aceitação.
Sendo assim, antes de fazer uma crítica é fundamental perceber se o
momento é adequado, escolher o local apropriado e analisar os
resultados que esta ação poderá gerar. Mesmo sendo a mais pura
verdade, nem todos entenderão assim. Quando tiver de fazer uma
crítica vá direto ao ponto e apresente fatos. Pois como diz a
sabedoria popular, contra fatos não há argumentos.
Voltando ao início deste artigo: criticar é fácil, já elogiar...
Lembre-se que em termos de crítica e elogio vale a seguinte regra:
critique em particular, só para as pessoas envolvidas; e elogie
publicamente, pois todos sentirão orgulho de pertencer a uma
organização onde as pessoas são reconhecidas e valorizadas pelo seu
caráter e competência.