As Empresas Precisam de Ídolos
Por Rogerio Martins
01/04/2008
É interessante como as empresas precisam de ídolos. Para que fique
clara a idéia deste artigo, vamos considerar que ídolo é a pessoa a
quem se tributa muito respeito e veneração; aquilo que é objeto de
adoração, de paixão cega. Assim como na música e nas artes em geral,
de tempos em tempos surge no mundo corporativo, mais precisamente no
mercado editorial e de consultoria ídolos de momento.
Recentemente o livro “O Monge e o Executivo” transformou-se no best
seller da vez. Desbancou o até então “insubstituível” livro de
cabeceira “Pai Rico, Pai Pobre”. Mérito de seus autores.
Quando Daniel Goleman nos “brindou” com seus estudos sobre a
inteligência emocional foi uma febre nos departamentos de Recursos
Humanos das empresas. O mercado de consultoria então passou e
multiplicar cursos e palestras sobre o assunto como se já o
conhecessem há muito tempo. Alguns críticos até alfinetaram que
muito dos escritos e idéias apresentadas pelo psicólogo americano
nada tinham de novidade. O fato é que pegou! Até hoje tem gente
escrevendo sobre o assunto nas mais variadas possibilidades. Só
falta surgir a inteligência emocional na culinária organizacional.
Quem sabe já existe?
Domenico de Masi foi o ícone da criatividade. Trouxe à baila o ócio
criativo. Justamente no momento em que se bradava a necessidade
maior criatividade para lidar com a concorrência e um mercado
consumidor cada vez mais exigente. Muitas empresas pensaram em
adotar suas teorias, mas na prática pouco se viu. O certo é que seus
livros e palestras pipocaram no meio empresarial transformando-se em
um estrondoso sucesso.
No mercado de palestrantes e conferencistas talvez tenhamos as
maiores pérolas. Algumas delas são inesquecíveis, como pessoas que
plantam bananeira, quebram tábuas, sobem escadas, se jogam ao chão,
fazem mágicas e levam o público ao choro copioso através de
histórias comoventes de superação. Tudo isso em nome da motivação
dos funcionários. O fato é que, na maioria dos casos, os resultados
continuam os mesmos.
Vale alertar que não sou contra todos estes tipos de manifestações.
Acredito que há espaço para tudo isso. Há momentos onde o que vale é
sensibilizar pelo absurdo. Quantas pessoas já tiveram o “insight”
através de um livro de auto-ajuda ou mesmo uma palestra destas? Mas
acredito também que se deve ter cuidado com a adoração aos
resultados mágicos.
Quando lidamos com pessoas estamos falando de comportamento. Este
comportamento que é desenvolvido ao longo da vida e que na fase
profissional carrega uma série de valores, crenças e hábitos. O
comportamento pode ser transformado, mas desde que se respeite este
arsenal de experiências anteriores e, principalmente, os valores
pessoais.
Para atingir resultados através das pessoas é necessário muito mais
do que receitas. É preciso entender as pessoas. Por isso, faz-se
necessário aprimorar o ambiente profissional, desenvolvendo as
lideranças, aperfeiçoando a comunicação, respeitando as diferenças,
recompensando de forma justa e, sobretudo, olhando para as pessoas
como elas realmente são.
Quando buscamos ídolos estamos indo atrás da realização fantástica.
Gasta-se uma fortuna e nem sempre se atinge o esperado. Quando
queremos resultados é necessário fazer ajustes de expectativas e de
ações. Sendo assim, o comprometimento desejado e os resultados
esperados só aparecem quando alinhamos os interesses pessoais com os
da organização, deixando de lado as soluções mágicas.
Para concluir, deixo uma frase do psicólogo Carl Jung que resume a
idéia deste artigo: “quem olha para fora, sonha; quem olha para
dentro, desperta”.