E Então, Quem Vai Ficar no Balcão da Cafeteria?
Por Bruno Soalheiro
10/06/2008


A chamada era da informação e conhecimento, na qual vivemos hoje, tem criado um fenômeno que em pouco tempo deixará o mercado, principalmente dos países com menos educação, (alguém conhece algum país assim?) numa situação complicada; aliás, bastante complicada. Em um tempo como o nosso, em que as mãos estão claramente sendo substituídas pelo cérebro, em pouco tempo não haverá mais lugar para o trabalhador braçal. Na verdade, atualmente já é preciso um novo tipo de profissional: o trabalhador mental!

O indivíduo que antes cortava a grama apenas com a tesoura, hoje deve operar um carrinho elétrico, e amanhã poderá ter que controlar meia dúzia deles a partir de um computador remoto. A moça que há pouco tempo abria uma garrafa de café e apertava os botões de uma registradora, hoje tem que operar uma máquina moderna, fazer o controle da ficha de manutenção e utilizar algum programa de fluxo de caixa, isso além de oferecer o melhor e mais cordial atendimento que se possa imaginar.

Ou seja, quem não possui formação básica e sabe um mínimo de informática já está começando a ficar fora do mercado, e não apenas em posições privilegiadas. O grande problema atualmente é que não se exige capacitação apenas para cargos médios ou mais altos hierarquicamente. Hoje, conhecimento atualizado é indispensável até mesmo nos mais simples cargos. E é isto que complica a coisa.

Por exemplo, as classes menos favorecidas, do ponto de vista financeiro e educacional, são as que apresentam maior número de indivíduos interessados em cargos operacionais, considerados mais simples. No entanto, devido às transformações tecnológicas do mundo, até mesmo este “simples” já complicou demais para alguns.

Em vários lugares, mesmo para se trabalhar como atendente hoje é preciso saber operar um relativamente “complexo” programa de computador, além de se comunicar muito bem e pensar com lógica. Acontece que cada vez mais, o brasileiro que “deseja ser atendente”, caro leitor, não sabe, em alguns casos, sequer operar as funções básicas de um computador.

Mas ora, será que não temos brasileiros que sabem operar bem um computador e se comunicar com desenvoltura? Claro que temos, milhares! Pergunte, dentre eles, por aquele que quer ser atendente em um balcão.

Por causa da revolução tecnológica e da necessidade de ter as pessoas como diferencial estratégico, mesmo os cargos mais operacionais e simples passaram a demandar conhecimento e capacitação. Junte isto à falta de infra-estrutura educacional do país, que não desenvolve pessoas capacitadas e atualizadas com estes novos tempos e tecnologias, e à pouca valorização de determinadas profissões em nosso país, e veremos porque alguns cargos simplesmente ficarão sem opção de preenchimento em pouquíssimo tempo.

Isso porque, quem poderia querer o cargo não tem formação ou capacitação para assumi-lo. E quem teria capacitação e razoável formação- na sua grande maioria membros da classe média - não quer o cargo, por ser um nível hierárquico muito baixo e pagar pouco, além de não ser valorizado socialmente.

Na Europa ou América do Norte, por exemplo, como atendente em uma cafeteria você cria família, viaja nas férias, dá estudo aos filhos e troca de carro eventualmente, ou seja, você vive! No Brasil, se sobrevive, e muitas vezes mal!

Queremos uma pessoa que se comunique bem, que tenha espírito de equipe, capacidade de raciocínio lógico boa, e que opere o excel mais meia dúzia de programas... para ganhar um salário e meio por mês!

Infelizmente não há solução simples, e nem mesmo a tão falada capacitação poderá nos salvar de imediato. Porque quanto mais a pessoa aprende e cresce, mais ela almeja, e ninguém quer fazer curso de lógica, comunicação e informática, pra ganhar um salário por mês não ser socialmente valorizado.

Os cargos estão exigindo cada vez mais, e muitas vezes pagando cada vez menos. Quem quer não dá conta, quem dá conta não quer!

Diante disso é que pergunto: Afinal, quem é que vai ficar no balcão da cafeteria?

Eu não sei... Você sabe?

Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em desenvolvimento humano.