Entrevista por Competência
Por Maria Inês Felippe
24/09/2007
A entrevista consiste em uma conversa para um objetivo definido,
além da satisfação que a própria conversa pode produzir.
A situação em que se desenvolve a entrevista é, em si mesma, uma
situação social em que o entrevistador e o entrevistado interagem
não apenas através das palavras que pronunciam, mas também da
inflexão da voz, gestos, expressão fisionômica e demais traços
pessoais e manifestações do comportamento.
Deve-se recorrer à entrevista sempre que se tem necessidade de dados
que não podem ser encontradas em registros ou fontes documentárias e
que se espera que alguém esteja em condições de prover. Assim,
quando se trata de conhecer a atitude, preferência, opinião de um
indivíduo a respeito de determinado assunto, ninguém está mais em
condições do que ele para dar tais informações. A entrevista é um
instrumento extremamente útil no processo de Recrutamento & Seleção.
É esperado que o processo seletivo, após identificar e estimular a
se candidatarem a uma vaga na organização, possibilite distinguir,
no grupo de candidatos, quais apresentam maiores condições para
desempenhar as funções do cargo a contento.
E como saber, de maneira mais segura e objetiva, quais candidatos se
sairiam melhor em uma determinada função?
Será que nossos comportamentos passados podem nos dar indícios de
nossos comportamentos futuros?
Na entrevista por competências, parte-se do pressuposto de que os
comportamentos passados podem dar indícios de comportamentos
futuros, e por isso adota-se como instrumento de trabalho uma
pesquisa de comportamentos e resultados anteriores, objetivando a
previsão de comportamentos futuros que podem ou não colaborar para o
sucesso do profissional na organização.
Muito se fala de competência, mas afinal o que é isso?
COMPETÊNCIAS são o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
que tornam um profissional importante para sua organização e para
toda e qualquer empresa (nesse caso dizemos que este profissional
tem EMPREGABILIDADDE), por meio de características que atendem às
necessidades do mercado como um todo.
Portanto para isso é preciso saber, saber fazer e querer fazer.
Competências técnicas x comportamentais
As COMPETÊNCIAS TÉCNICAS estão relacionadas a INTELIGÊNCIA
INTELECTUAL (QI), ou seja, a quantidade de conhecimento formal e
acadêmico que o indivíduo conseguiu adquirir (domínio de idiomas,
formação acadêmica, domínio de metodologias de trabalho, etc.).
Já as COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS dizem respeito a INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL (QE), ou seja, o nível de equilíbrio e adequação com o
indivíduo interage com o meio em que está inserido. São exemplos de
competências comportamentais habilidades como pró - atividade,
flexibilidade, criatividade, organização, comunicação, foco em
resultados, ousadia, planejamento, administração do tempo, etc.
As COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS tem sido preocupação recente do
mercado de trabalho, que a não muito tempo atrás observava a penas a
habilidade técnica do profissional, mas hoje este quadro mudou e
muitos trabalhadores, considerados exímios tecnicamente estão sendo
desligados das suas organizações em função da falta de COMPETÊNCIAS
COMPORTAMENTAIS.
As COMPETÊMCIAS COMPORTAMENTAIS eram negligenciadas porque
antigamente os cargos privilegiavam uma hierarquia rígida e as
pessoas eram contratadas exclusivamente de acordo com a experiência
profissional, formação acadêmica e cursos extracurriculares. Para
atender a essa demanda as entrevistas de seleção eram diretivas,
focando quase exclusivamente aspectos técnicos (experiência na
função, formação, cursos, etc.); pouca importância era dada a
investigação das competências comportamentais e dos aspectos
referentes a qualidade de vida dos candidatos; a INTELIGÊNCIA
INTELECTUAL (QI) era o foco das atenções e por isso os testes
psicométricos eram bastante valorizados, fazendo com que por muito
tempo o papel do psicólogo organizacional ficasse restrito à
aplicação e tabulação destes testes.
Porém, as várias mudanças ocorridas nas empresas nos últimos anos
(globalização, aumento da competitividade, necessidade da utilização
de técnicas avançadas de negociação), trouxeram com elas a
necessidade do trabalho em equipe e consequentemente a valorização
das COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS (QE).
Foi para atender a demanda dos selecionadores e gestores, que
passaram a precisar saber mais sobre as competências pessoais dos
candidatos, que surgiu o conceito de SELEÇÃO POR MÚLTIPLAS
COMPETÊNCIAS e as técnicas para a realização de ENTREVISTA POR
COMPETÊNCIA.
São passos preliminares:
Definir as competências críticas do negócio.
Definir as competências humanas criticas e essenciais par ao cargo.
Fazer o levantamento do perfil ideal para a posição.
Estabelecer a régua de medição de competência.
Mapear e conceituar as competências de acordo com o perfil ideal
previamente levantado;
Elaborar o roteiro da entrevista comportamental.
Estabelecer padrão de comparação de resposta dos candidatos.
Para ajudar no levantamento do PERFIL IDEAL é importante ter em
mente:
Os valores e missão da empresa, da área e do gestor requisitante;
Os motivos ou força propulsora para a abertura da vaga;
As atribuições e atividades a serem desempenhadas pelo novo
colaborador;
Nível de responsabilidade, decisões e ações exigidas do cargo;
As informações que deverão ser passadas para os candidatos: salário,
benefícios, local de trabalho, horários, etc.
Eventuais exigências legais para o desempenho da função;
As competências técnicas que são pré-requisitos para ocupar a
posição: experiência profissional específico (ter ocupado
determinado cargo ou participado de projetos específicos);
As COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS importantes para o desempenho pleno
da função, ou seja, o conjunto de conhecimentos, habilidades,
atitudes e comportamentos que podem indicar o nível de equilíbrio e
adequação com que o novo colaborador irá interagir com o meio em que
está inserido.
O fortalecimento da parceria entre selecionador e requisitante é
imprescindível em todas as etapas do processo, porém salutar nesta
etapa, pois é o requisitante quem fornece a descrição das atividades
e comportamentos imprescindíveis para a eficácia do colaborador no
cargo, que possibilitarão a elaboração do mapeamento e conceituação
das competências.
Preciosos indicadores das atividades e comportamentos são:
Descrição de cargo atualizada;
Maiores desafios do cargo;
Maiores erros cometidos no cargo;
Mudanças ocorridas recentemente;
Projetos a serem desenvolvidos em curto prazo;
Projetos que foram desenvolvidos pela equipe.
A Entrevista por Competência
A técnica de entrevista apresentada é denominada Entrevista por
Competência porque é baseada na premissa de que o comportamento
passado do candidato pode nos dar dicas sobre seu comportamento
futuro.
Partindo desse pressuposto o entrevistador procurará, através dessa
técnica de entrevista, coletar exemplos de situações vividas pelo
candidato, procurando saber o que ele fez, sentiu e pensou e quais
os resultados da sai ação em determinada situação.
Para planejar a Entrevista por Competência, o selecionador deve ter
em mãos o Perfil de Competências, que ajudará na elaboração de
perguntas específicas para investigar cada atributo ou Competência.
As perguntas utilizadas na Entrevista por Competência, considerando-
se a premissa de que comportamento passado prediz comportamento
futuro, devem ser:
Claras e objetivas;
Abertas e específicas;
Com foco em competências;
Usar o verbo de ação no passado;
Investigar como aconteceu determinada ação;
Exemplos de perguntas com foco em competências:
Conte-me sobre uma situação imprevista que você administrou na sua
função e como se saiu.
Conte-me sobre um grande problema que você ajudou a solucionar, no
qual suas idéias foram bem aproveitadas e valorizadas.
Quais as idéias ou sugestões mais produtivas que você teve na sua
área de atuação.
Conte-me sobre uma situação em que você precisou abrir mão de suas
idéias em favor da equipe.
Descreva uma situação em que você assumiu responsabilidade por uma
tarefa que não fazia parte de suas atribuições e porque?
Conte-me sobre mudanças que você implementou na sua rotina.
Conte-me sobre a negociação mais importante e com melhor resultado
que você já obteve.
Descreva-me uma situação em que você entrou em conflito com um
colega de trabalho e como administrou essa situação?
Percebeu o processo?
Mas devemos também considerar a pergunta e a interpretação da
resposta.
Maria Inês Felippe: Palestrante, Psicóloga, Especialista em Adm. de
Recursos Humanos e Mestre em Desenvolvimento do Potencial Criativo
pela Universidade de Educação de Santiago de Compostela - Espanha.
Palestrante e consultora em Recursos Humanos, Desenvolvimento
Gerencial e de equipes, Avaliação de Potencial e competências.
Treinamentos de Criatividade e Inovação nos Negócios. Palestrante em
Congressos Nacionais e Internacionais de Criatividade e Inovação e
Comportamento Humano nas empresas. Vice Presidente de Criatividade e
Inovação da APARH.