Equilibre-se
Por Bruno Soalheiro
05/06/2008
O senso comum e as colocações das pessoas com as quais convivemos
vida afora nos permitem categorizar muitas delas, simploriamente, em
dois tipos distintos. De um lado há as que crêem piamente no
destino, na providência, e em um caminho de certa forma já traçado
para suas vidas. São as que dizem: o que tiver que ser, será!
Estes acreditam que a vida acontece quase inteiramente por si mesma
e que a influência de cada um é nada mais que um detalhe em relação
ao futuro que irão alcançar. Geralmente são avessas ao planejamento,
a metas específicas e a qualquer tipo de leitura que possa
minimamente insinuar que “é possível se desenhar o próprio futuro”.
São crentes na providência e atentam para os sinais da vida.
Por outro lado, temos também aqueles que levam o conceito de self
made man ao pé da letra, acreditando que coincidências, destino,
sinais e sorte são invenções que as pessoas usam para justificar seu
sucesso ou fracasso na vida. Estes são os que planejam, escrevem
detalhes, estabelecem metas, consomem literatura de ajuda e traçam
cuidadosamente cada passo de seu caminho. São céticos quanto à
fortuna, e se agarram à suposta exatidão dos métodos.
Viver de uma ou outra forma é escolha de cada um e, longe de querer
classificar estas opções entre “melhores ou piores”, creio ser
importante chamar a atenção para uma conseqüência.
Como estudioso do comportamento humano, especialmente em relação à
vida profissional, o que a experiência tem me mostrado, através de
leituras e acompanhamento de casos de indivíduos nestes dois
extremos, é que qualquer desses tipos de postura faz com que seus
praticantes acabem negligenciando partes da realidade que podem ser
incrivelmente benéficas para o sucesso em suas vidas e,
naturalmente, em suas carreiras.
É tolice imaginar que “a vida vai ser o que tiver que ser”, pois se
sabe há muito tempo que a tomada de atitudes conscientes e a
elaboração de metas bem traçadas pode levar qualquer pessoa a
alcançar mais rapidamente seus sonhos. No entanto, é igualmente
imprudente fechar-se para as casualidades e caprichos do destino,
ignorando que muitas vezes aquilo a que se chama “sorte” e “sinais”
pode sim, bater à nossa porta e despertar insights inesperados.
Por muitas vezes vi indivíduos tão obstinados em seus planos bem
traçados e desenhados, a ponto de ignorarem avisos que a vida
mandava. E tais avisos verdadeiramente podiam, desde que observados
com respeito e sabedoria, alterar a rota de seus “planos bem
traçados” para um caminho possivelmente melhor.
Da mesma forma, presencio vez ou outra a estupefação daqueles que
viram os anos passarem, e constataram que nada daquilo que sonhavam
ser “providenciado” pela bendita providência, chegou a acontecer.
Por isso, a reflexão que quero levantar aqui junto àqueles que estão
na corrida por seus sonhos é: Equilibre-se.
A vida, a natureza e o universo são de tal grandiosidade que
provavelmente jamais o ser humano irá compreender seus caprichos e
nuances, ou entender os caminhos inesperados que levam alguns à
glória e outros ao completo esquecimento. Mas nem por isso devemos
desprezar a capacidade que cada um de nós tem de, conscientemente
influenciar os rumos desta grande roda, fazendo nossa sintonia fina
na programação universal que porventura já exista.
Muitas pessoas hoje consideradas bem sucedidas contam que foi no
delicado equilíbrio entre aquilo que se pode controlar e aquilo que
a vida nos trás de surpresa que encontraram o caminho da realização.
Um gesto, um sinal, um encontro fortuito ou uma suposta coincidência
podem ser claramente “mensagens” que a vida nos envia,
convidando-nos a fazer um leve ajuste em nossa bússola. Ajustes que,
inesperadamente, poderão levar a um atalho que nos permita encontrar
ainda mais rápido o tesouro que buscamos.
Da mesma forma, executar uma quantidade saudável de planejamento,
ordem e método, é algo que poderá nos manter “nos trilhos” e com um
senso de direção claro o suficiente para conseguirmos enxergar mais
precisamente aonde, quando e como devemos agir.
Flexibilidade x planejamento. Isto é o mais próximo que podemos
chegar de uma receita para quem quer conseguir realizar seus sonhos
na vida. Pense bem, e equilibre-se!
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.