Equipes que dão certo - Um por todos e todos por um
Por Maria Inês Felippe
21/09/2007
Como serão as equipes que dão certo? É a união que faz a força? É a
busca conjunta do objetivo? É o processo sinérgico? Isso não é mais
novidade o que percebemos é que as empresas buscaram, e ainda
buscam, exercer esse controle total sobre os indivíduos, grupos,
tentando tornar previsíveis seus comportamentos? Normas, regras,
regulamentos palestras motivacionais e códigos são parte da
resposta. Mas como garantir o seu cumprimento? Como assegurar que
serão seguidos, ou que o comportamento será modificado para melhores
resultados? Neste ponto, aparecem as figuras dos gerentes, líderes e
supervisores. Pessoas encarregadas, entre outras coisas, de fazer
cumprir os objetivos estabelecidos pela organização. Mas como fazer
com que esses indivíduos, que também são empregados, sujeitos a
contradições, assumam esse papel?
Para que isso ocorra, as empresas conferem a esses empregados
inúmeros privilégios, tais como salários e benefícios diferenciados,
informações privilegiadas, melhores possibilidades de carreira,
fatias significativas dos lucros, ampla possibilidade de utilização
dos recursos disponíveis, status e poder conferidos através de
vários símbolos (melhores salas, computadores, imobiliários etc.).
Contudo, essa prática trás um efeito indesejado pelas empresas,
porém previsível. A farta distribuição de privilégios no topo da
pirâmide hierárquica gera muita insatisfação em sua base. Os demais
empregados sentem-se desprestigiados e injustiçados. A despeito
dessa diferenciação, as organizações utilizam um discurso
incompatível que fala de "colaboradores" e "parceiros". Nesse
ambiente de controles rígidos e de desigualdade, espera-se de todos
os empregados a colaboração e a parceria, comportamentos típicos de
ambientes onde prevalecem a cumplicidade e a simetria.
Autônomos ou autômatos?
À hierarquia superior não coube somente o controle da disciplina do
empregado, mas também do "seu" trabalho. A expressão "seu" trabalho
chega a ser um abuso de linguagem, pois o que se estabeleceu, com a
exatidão e precisão mecânicas, foram postos de trabalho com partes
do processo, fenômeno conhecido como divisão técnica do trabalho.
Com a divisão da atividade em muitas partes, o empregado perdeu a
visão do todo e o próprio sentido do trabalho. Se ele não tem a
visão do todo, não entende o processo, se não entende o processo não
percebe o seu papel e se não percebe o seu papel não se identifica,
não se identifica, não se compromete. Esses são os aspectos que
reforço nos treinamento de liderança e de equipes para que ela dê
certo.
O planejamento ficou delegado aos detentores de cargos de comando,
considerados como os únicos com capacidade e conhecimento para
planejar científica e racionalmente o trabalho. O empregado passou a
desempenhar partes de um trabalho que ele não planejou, não escolheu
a melhor forma de fazê-lo. Um trabalho que lhe é estranho,
destituído de sentido, alienado.
Definir com precisão o trabalho faz com que as pessoas saibam o que
devem fazer, faz também com que elas saibam o que não lhes cabe
fazer. O empregado acostumado a receber ordens, a fazer o que lhe
mandam, a executar procedimentos pré-estabelecidos, desenvolve uma
passividade paralisante, uma superconformidade às regras tão bem
estudada pelos teóricos da burocracia. Numa época em que se busca a
iniciativa dos empregados, torna-se necessário repensar os processos
de trabalho que desenvolvemos em nossas empresas.
Fala que eu te escuto?
Tentando estimular a participação ativa dos empregados necessária à
melhoria dos negócios, mas sem modificar a estrutura rígida, os
privilégios e o processo de trabalho, foram criadas várias
ferramentas para proporcionar o diálogo: gestão participativa, caixa
de sugestões, portas abertas, círculos de qualidade, grupos de
expressão, linhas abertas com a presidência, diretoria etc.
Porém, o desejo de conduzir à participação, como nos ensina o
professor e pesquisador Omar Aktouf, esbarra num obstáculo difícil
de ultrapassar: à vontade dos empregados. É claro que não se pode
obrigar alguém a se posicionar, a se expor, a dizer-se. Para isso, o
indivíduo precisa de um ambiente onde possa usar autenticamente a
palavra, falar de seus interesses, expor suas idéias, criticar
livremente e sentir que há uma escuta atenta, simétrica e
interessada. Em um ambiente onde prevalece a estrutura hierárquica
rígida, os privilégios, inclusive de informações, e a participação
restringe-se às questões ligadas somente à melhoria da produtividade
ou a processos de trabalho, a comunicação se torna instrumental,
funcional e interesseira e comunicação é, etimologicamente, "colocar
em comum", compartilhar.
Afinal, empresas não existem para dar lucro?
A maioria das pessoas quer sejam elas executivas, estudantes,
empregados, donas de casa ou desempregados, não tem dúvidas disso.
Isto porque vivemos em um mundo dominado pela racionalidade
econômica que está tornando-se, cada dia mais, autônomo em relação
às outras racionalidades. Assim, buscar a maximização dos
rendimentos de um negócio passa a ser a ordem do dia. Sem questionar
se a maximização de todo o conjunto produtivo é possível, afinal,
para que "alguém" tenha o máximo, "alguém" terá perdas, mesmo que
esse "alguém" seja o meio ambiente, vamos imaginar esse princípio no
ambiente de trabalho.
De um lado, os empregados buscando melhores salários, benefícios,
maiores participações nos resultados do negócio; do outro, as
empresas buscando a maximização dos lucros, que implica também na
redução de seus custos operacionais. Eis uma contradição que, apesar
de ter longa data, está longe de ser resolvida.
Embora essa contradição exista, os diversos modelos de gestão que
têm sido desenvolvidos, reproduzidos e ensinados a negam ou tentam
mascará-la. Se desejarmos empregados envolvidos, comprometidos,
empenhados em buscar os interesses da empresa como sendo os seus
próprios, precisamos pensar em um princípio simples: a apropriação.
Todos tendemos a nos envolver e nos comprometer com aquilo que é
nosso. Se um empregado percebe que, ao primeiro sinal de queda nos
lucros, ele pode ser descartado, fica claro que ele não faz parte do
negócio, não é um parceiro. Precisa, então, ser gerenciado.
Proporcionar a apropriação no ambiente de trabalho implica numa
"reengenharia" em nossas crenças e práticas de gestão de pessoas.
Significa considerarmos seriamente o que aprendemos e reproduzimos
até aqui. Parafraseando o Ricardo Semler, precisamos virar a nossa
própria mesa. Quem sabe deixaremos a gestão de pessoas e
experimentaremos algo enriquecedor e inovador: a gestão com as
pessoas.
Maria Inês Felippe: Palestrante, Psicóloga, Especialista em Adm. de
Recursos Humanos e Mestre em Desenvolvimento do Potencial Criativo
pela Universidade de Educação de Santiago de Compostela - Espanha.
Palestrante e consultora em Recursos Humanos, Desenvolvimento
Gerencial e de equipes, Avaliação de Potencial e competências.
Treinamentos de Criatividade e Inovação nos Negócios. Palestrante em
Congressos Nacionais e Internacionais de Criatividade e Inovação e
Comportamento Humano nas empresas. Vice Presidente de Criatividade e
Inovação da APARH.