A Escolha da Profissão
Por Tom Coelho
19/10/2007
Antigamente publicitário era aquele que tinha largado o curso de
jornalismo.
Hoje, publicitário é o cara que largou o curso de publicidade.
(Eugênio Mohallem)
Uma análise do Censo de 2000 do IBGE feita pelo Observatório
Universitário indicou a correlação entre a profissão exercida e o
curso superior realizado pelos profissionais. Enquanto 70% dos
dentistas, 75% dos médicos e 84% dos enfermeiros trabalham na mesma
área em que se formaram, apenas 10% dos economistas e biólogos e 1%
dos geógrafos segue o mesmo caminho.
Exame atento de outras profissões ainda nos indicará que apenas um
em cada quatro publicitários, um em cada três engenheiros e um em
cada dois administradores faz carreira a partir do título que
escolheu e perseguiu.
É evidente que faltam vagas no mercado de trabalho. O emprego formal
acabou. Se nas décadas de 1960 e 1970 o paradigma apontava como
colocação dos sonhos um cargo no Banco do Brasil, na Petrobras ou em
outra empresa pública; nos anos de 1980 experimentamos o boom das
multinacionais e empresas de consultoria e auditoria, que recrutavam
os universitários diretamente nos bancos escolares; e na década de
1990 o domínio de um segundo idioma, da microinformática e a posse
de um MBA eram garantia plena de uma posição de destaque, nada disso
se aplica hoje.
As grandes empresas têm diminuído o número de vagas disponíveis e
são as pequenas companhias as provedoras do mercado de trabalho
atual. Ainda assim, a oferta de trabalho é infinitamente inferior à
demanda R11; e, paradoxalmente, muitas posições deixam de ser
preenchidas devido à baixa qualificação dos candidatos.
Assim como todos os produtos e serviços concorrem pela preferência
do consumidor, os profissionais também disputam as mesmas
oportunidades. Engenheiros que gerenciam empresas, administradores
que coordenam departamentos jurídicos, advogados que fazem estudos
de viabilidade, economistas que se tornam gourmets. Uma autêntica
dança das cadeiras que leva à insegurança os jovens em fase
pré-vestibular.
Há quem defenda a tese de que adolescentes são muito imaturos para
optar por uma determinada carreira. Isso me remete a reis e monarcas
que com idade igual ou inferior ocupavam o trono de suas nações à
frente de grandes responsabilidades, diante de uma expectativa de
vida da ordem de apenas trinta anos...
O que falta aos nossos jovens é preparo. Um aparelhamento que
deveria ser ministrado desde o ensino fundamental através de
disciplinas e experiências alinhadas com a realidade, promovendo um
aprendizado prazeroso e útil, despertando talentos e desenvolvendo
competências. Um ensino capaz de inspirar e despertar vocações.
Ensino possível, porém distante, graças à falta de infra-estrutura
das instituições, programas curriculares anacrônicos e, em especial,
desqualificação dos professores.
Em vez disso, assistimos a estudantes com dezessete anos de idade,
onze deles ou mais na escola, que às vésperas de ingressar no ensino
superior sequer conseguem escolher entre Psicologia e Comunicação
Social, entre Arquitetura e Educação Física, entre Veterinária e
Direito.
A escola e a família devem propiciar ao aluno caminhos para o
autoconhecimento e descoberta da própria personalidade e identidade.
Fornecer informações qualificadas e estimular a reflexão, exercendo
o mínimo de influência possível. Muitos são os que direcionam suas
carreiras para atender às expectativas dos pais, aos apelos da mídia
e da moda, à busca do status e do sucesso financeiro, em detrimento
da auto-realização pessoal e profissional. E acabam por investir
tempo e grandes somas de dinheiro numa formação que não trará
retorno para si ou para a sociedade.
Orientação vocacional não se resume aos testes de aptidão e
questionários. Envolve conhecer as diversas profissões na teoria e
na prática. Permitir aos estudantes visitarem ambientes de trabalho
e ouvirem relatos de profissionais sobre os objetivos, riscos,
desafios e recompensas das diversas carreiras. Tomar contato com
acertos e erros, pessoas bem sucedidas e que fracassaram. Provocar o
interesse e, depois, a paixão por um ofício.
Precisamos voltar a perguntar aos nossos filhos: R20;O que você vai
ser quando crescer?R21;. A magia desta indagação é que dentro dela
residem os sonhos e a capacidade de vislumbrar o futuro. Aliás,
talvez também devamos colocar esta questão para nós mesmos, pais e
educadores
* Tom Coelho, com formação em Publicidade pela ESPM, Economia pela
USP, especialização em Marketing pela Madia Marketing School e em
Qualidade de Vida no Trabalho pela USP, é consultor, professor
universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity
Consulting, Diretor Estadual do NJE/Ciesp e VP de Negócios da AAPSA.
Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite:
www.tomcoelho.com.br.