Estamos Prontos para Crescer e nos Tornarmos empresarialmente
adultos?
Por Marcus Vinicius P. Oliveira
11/08/2007
Em tempo de bons ventos dos mercados financeiros internacionais e de
resultados desastrosos em terra, li em diferentes meios de
comunicação a recorrente citação se estamos prontos para crescer.
Por vezes uma indagação, outras, uma pergunta e até mesmo uma
afirmação. Como falar de um país não é a minha praia, recorro a
adentrar pela questão frente ao mundo empresarial, em sua também
complexa rede de negócios e de relacionamentos humanos: estamos
prontos para crescer?
Arrisco-me a dizer um sim quase irrestrito e que talvez até valha
para o nosso imenso país caoticamente maravilhoso. Este sim convicto
é proveniente da limitação da questão, pois crescer é simplesmente
tornar-se maior. Isto, depois de um certo tempo de vida é quase
inevitável, portanto, depois da fase inicial e heróica de qualquer
empresa, estatisticamente esta passa a ter boas perspectivas de
crescimento. Lógico e tão puramente limitado a um aspecto econômico,
compreendido como aumento de faturamento,motivo pelo qual os cursos
e palestrantes da área de vendas fazem tanto sucesso. Mas, ampliar
vendas ou, no caso de um país, suas exportações e condição
econômica, apesar de bom e confortável, não significa ultrapassar os
patamares de competência técnica, qualidade real e de maturidade
empresarial. Usando a expressão da moda: crescer não é uma relação
direta e certa para a sustentabilidade.E se este é o pano de fundo a
ser analisado, convido, você leitor, a desvendar uma outra pergunta:
estamos prontos para nos tornarmos empresarialmente adultos?
Conforme a Psicanalista Melanie Klein, tornar-se adulto é tornar-se
capaz de ser pai e mãe de si mesmo. Ou seja, sair de uma condição de
dependência para uma relação de interdependência mútua, crescendo e
permitindo, de forma consciente, que as pessoas ao redor também
cresçam. Este é um conceito que rompe com o simples estado físico e
biológico. Por isso, é possível que conheçamos gente grande que
ainda não seja adulta; empresa, economicamente estável e de bom
porte, masque não consegue romper certos níveis de maturidade para
tornar-se um negócio sustentável no âmbito das relações internas e
externas. Um negócio que esteja inserido dentro de um contexto
social, onde a empresa através de suas ações desenvolva uma relação
harmônica com a sociedade, entregando-lhe muito mais do que bens e
serviços, mas principalmente oportunidades tão grandes quanto
aquelas recebidas para que pudesse crescer e estabilizar-se
economicamente. Isto significa dizer que ser adulto não é uma
questão de tamanho e, sim, de postura e posicionamento dentro de um
contexto social.
Portanto, estar no mundo como um adulto implica em ter o grau de
discernimento, como pessoa ou como empresa, para reconhecer as
oportunidades que nos foram oferecidas para nos tornarmos maiores. É
evidente que esta distribuição de oportunidades, dentro do contexto
social,é desigual, pois, em tese, quanto melhor for a condição
sócio-econômica, maior é a oportunidade de sucesso para o
crescimento. Por isso, é importante retomar a condição de
discernimento e de importância da empresa adulta não ficar presa á
repetição de suas histórias de crescimento, porque ninguém atinge o
sucesso, licitamente, por único e exclusivo mérito. Mesmo com todos
os reconhecidos esforços, é preciso que uma série de condições e de
pessoas impulsionem o crescimento de um indivíduo ou de um negócio.
Quando uma empresa atinge o patamar de estabilidade econômica e, na
sua forma de apropriação do poder,limita o desenvolvimento de seus
funcionários ou a implementação de melhorias internas estruturais e
de processos ou da comunidade à qual pertence, esta não atingiu sua
condição adulta, sob o aspecto de postura e posicionamento social.
Certamente, ainda não está pronta para avançar nos meandros da
sustentabilidade. É provável que esteja sempre no time que torce
contra, caso os benefícios coletivos não impliquem diretamente na
ampliação de seu faturamento.
Segundo Tony Juniper, principal executivo da ONG Friends of the
Earth, as empresas fazem propagandas enganosas e são hipócritas
quando tratam de suas políticas de sustentabilidade. Não me
posiciono desta forma radical, pois isto seria, inclusive, uma
condição pouco adulta para lidar com a situação. Compreendo que
dentro das organizações é necessário trabalhar os aspectos de poder
e da importância de mudanças profundas,conceituais, que mudem mais a
qualidade dos relacionamentos humanos do que as tecnologias
empregadas nos processos. O ciclo de aprendizagem comportamental dos
executivos empresariais e dos gerentes que futuramente serão os
novos executivos, ainda está preso a um sucesso fechado ao próprio
ego. Seria bastante fácil listar uma série revistas e programas da
televisão que mostram e retro-alimentam esta aprendizagem.
A questão de se tornar adulto faz parte da história das organizações
e dos países porque nos dois casos a causa é comum: só é possível a
transição quando as pessoas se permitem mudar e dividir mais aquilo
que receberam em prol de suas ascensões específicas.
Portanto, estamos prontos para nos tornarmos empresarialmente
adultos? Coletivamente, creio que estamos num momento de grandes
oportunidades para o crescimento e a transição, mas os fatos não
corroboram que as ações necessárias estejam sendo desenvolvidas. E
mais, esta não uma transformação coletiva; é uma questão do tempo
individual de cada cidadão, de cada executivo, de cada operador de
máquina... é uma escolha de coragem e de foro íntimo.
Que todas forças nos permitam que este seja um tempo breve para
escolhermos pelos nossos amadurecimentos, com serenidade e sem
muitos acidentes.
Dias fantásticos para todos e um excelente dia dos pais!
Marcus Vinícius P. Oliveira - Psicólogo organizacional, palestrante
e consultor de empresas. Autor do livro de bolso “O passo além da
competição”. Diretor da Liner Consultoria.