Eu quero paz, e você?
Por Rosemeire Zago
14/01/2010
Infelizmente, o começo do ano começou com muitas tragédias, e a cada
dia temos conhecimento de outra e mais outra, atingindo nossos
corações através dos noticiários e das vivências de muitos. É um
momento de dor, impotência? Ou resultado da falta de atitude de uma
maioria com nossa grande Mãe Terra? Com certeza, é um momento de
reflexão para muitos de nós, que mesmo ainda não sendo atingidos
diretamente por tamanha violência, todos estamos sujeitos às suas
consequências. A Terra não estará dando um sonoro grito de socorro?
Nesse momento de reflexão, penso no sofrimento não só das pessoas
atingidas por tudo que está acontecendo, mas também daquelas que não
estão sendo vítimas de tais tragédias, mas vivem intensos
sofrimentos dentro de seus próprios lares, dentro de seus próprios
corações.
Questiono o motivo que levam pessoas, ainda que estejam distantes de
toda essa destruição desproporcional, trazer para dentro de suas
casas essa mesma destruição em seus relacionamentos, em forma de
palavras, atitudes, gestos e que, na verdade, muitas vezes refletem
seu próprio mundo interior. Muitas dessas pessoas são as que falam
que é preciso ter paz, que condenam a guerra, violência, mas não
percebem que vivem uma guerra diária consigo mesmas e com aqueles
que convivem.
Será que não basta tudo que vivemos nesse mundo doente? Ou será que
o mundo está doente como reflexo de pessoas igualmente doentes e que
nem se dão conta disso? Será que cada um que pede paz está em
harmonia com sua família e principalmente, consigo mesmo? Como ouvi
certa vez: se levo um tapa todos os dias do meu pai, qual o problema
se eu fizer o mesmo com outra pessoa?
A violência é gerada por muitos motivos: busca do poder, dinheiro,
interesses políticos, pessoais, enfim, os interesses são muitos, mas
geralmente é uma tentativa de liberar uma dor, se vingar, ou até
mesmo se defender, ainda que por meios nada convincentes. Quando se
agride alguém, é uma forma primitiva, mas real, de dizer: fui
agredido e por isso também me vejo no direito de fazer o mesmo.
Esse processo pode acontecer sem que a pessoa tenha consciência
disso e também como resposta a algo que aconteceu há muito tempo. A
agressividade é um gesto desesperado para expressar dor, angústia ou
preocupações com situações da qual não se vê saída. Mas, e nós, que
sequer participamos ou concordamos com tamanhas atrocidades, o que
podemos fazer?
Afinal, por que a violência acontece? A história de muitos começa no
início da vida, com os próprios pais, que vistos como exemplo do que
é certo, muitas vezes impõem o respeito a seus filhos usando de
todos os meios, batem, são agressivos, violentos, agridem com
palavras, atitudes, e ainda, são impunes. E, assim, a violência
muitas vezes começa na infância, dentro de casa, e vai se
intensificando com o passar dos anos, com os brinquedos e jogos,
comprados pelos próprios pais.
O ato de bater, agredir alguém, para muitos acaba sendo demonstração
de poder, superioridade, independência, controle, ainda que
totalmente errada, mas talvez a maneira com que aprendeu. Em
contrapartida, muitos também agridem em resposta, como forma de
defesa, por se sentirem agredidos em alguma época de suas vidas,
ainda que já muito distante.
A violência, portanto, caracteriza uma insatisfação consigo mesmo
tão profunda que faz muitos agredirem aos outros, numa tentativa
insana de aliviar a própria dor sentida quem sabe há muitos anos e
se perpetua. Há tantas formas de se comunicar com o outro, por que a
necessidade de ferir tão profundamente alguém? Será uma demonstração
fiel de como se sentiu tratado durante a vida? Ou ainda, como na
verdade de trata? A agressividade contra os outros seria apenas o
reflexo de uma agressividade contra si mesmo? Pode ser algumas das
respostas.
O que sabemos é que não há desculpa nem justificativa para a
agressividade cometida de todas as formas, seja por gestos,
palavras, ou até pela indiferença. Agir de modo instintivo, como os
animais agem, mas por sua própria natureza, nos faz semelhantes e
não diferentes, e isso é, no mínimo, lamentável.
Sendo assim, o Homem, aos poucos, está perdendo por si mesmo seu
direito de ser chamado de ser humano, e quantos animais não são
muito mais humanos? Ou quem sabe mais sensíveis e capazes de doar
amor quando o próprio ser humano se mostra incapaz?
Ao reprimirmos tantas injustiças, decepções, e tudo o mais que
sentimos, acabamos tendo como reflexo uma sociedade com
agressividade exacerbada, e o pior, inconsciente de sua própria
doença, o que torna mais difícil a busca por sua cura.
Falarmos de paz sem promovê-la dentro de nós mesmos, torna qualquer
ação improdutiva. Assim, nos tornamos vítimas da violência, ainda
que distantes, porque em muitos casos, ela acontece muito mais perto
do que as imagens que estão entrando dentro de nossas casas todos os
dias, pois muitas vezes ela acontece dentro de cada um. Quantas são
as pessoas que tratam não apenas os outros com agressividade, mas
também a si mesmas? Quantas são as pessoas que são seus piores
inimigos? Sempre se maltratando, se criticando, se desconsiderando,
por não acreditarem em seu real valor? Infelizmente são muitas! Tudo
que está acontecendo neste momento pode ser como um alerta para
tornar algumas pessoas um pouco mais conscientes de seus próprios
comportamentos e que percebam que é possível viver em paz se
permitirem sentir essa paz dentro de si mesmas. Quando as pessoas
forem capazes de sentir sua dor, conscientes do sentimento que estão
sentindo sem negá-la, irão se sentir mais aliviadas e serão menos
violentas ou agressivas. Essa transformação é lenta e deve ter como
base o amor para criar a verdadeira paz. Mas, essa harmonia deve
começar primeiro dentro de cada família, de cada ser humano, para
depois, sim, refletir no mundo, pois só quando o Homem for capaz de
enfrentar a si mesmo e sentir paz dentro de seu próprio coração, o
mundo terá paz. Ainda que cada um de nós sejamos apenas um nesse
Universo repleto de violência e maldade, onde o poder e a força dos
mais fortes impera, busquemos pela paz ainda que seja dentro de
nosso pequeno coração, entre as pessoas que amamos, com a esperança
que essa energia se fortaleça e cresça, contagiando todos aqueles
que estão de uma maneira ou de outras distantes da luz e da paz tão
almejada, pois afinal Somos Todos Um..
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento
através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na
vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança
interior. Email: r.zago@uol.com.br