Feliz Natal Corporativo
Por Jerônimo Mendes
11/01/2009
Todo Natal é assim; luzes, cores e presentes; a paz ressurge do
nada, e transforma o ambiente. Todo Natal é assim; tentamos fazer o
bem, que durante o ano inteiro, não fizemos a ninguém. Esses versos
foram escritos no Natal de 2003 e ainda estão vivos na minha mente.
De fato, o mundo se transforma em dezembro e o período natalino tem
a incrível capacidade de tornar o ser humano mais dócil, menos
ácido, mais solidário, menos sarcástico.
Nessa época eu estava bem - hoje estou bem melhor, é óbvio – e havia
atingido praticamente todas as metas do departamento, graças ao
trabalho de uma equipe coesa, competente e inesquecível. Além do
mais, eu consegui economizar um bom dinheiro durante o ano e estava
de viagem marcada para o Peru, onde iria visitar as ruínas de Macchu
Picchu e outras maravilhas daquele país com minha esposa, uma
experiência realmente gratificante.
Na véspera daquele Natal, nossa equipe trabalhou como nunca para
conseguir escoar as dezenas de vagões de aço para o porto, uma
demonstração de dedicação total à empresa e também ao atingimento
das metas do departamento que deveriam render um bom valor na
apuração da PLR (Participação de Lucros e Resultados), no início do
ano seguinte. O presente inesperado veio depois do Natal, no ano
novo, quando retornei das férias e fui demitido, mas isso não tem a
menor importância agora, pois consegui dar a volta por cima e
retomar a caminhada.
Quando você depende do emprego, sua vida pessoal acaba em segundo
plano e as coisas acontecem de tal forma que, se for possível e a
família tiver paciência, quem sabe ainda sobra tempo até para
comprar os presentes. O lado profissional sempre fala mais alto para
o bem da própria família, uma justificativa utilizada com muita
freqüência por aqueles que têm dificuldades para estabelecer limites
entre um universo e outro.
Durante muito tempo o discurso rígido do meu pai nos demais meses do
ano foi literalmente atropelado pelo clima nostálgico do Natal.
Naturalmente, a gente não gosta muito de lembrar, porém é difícil
esquecer que a nossa família demorou a conseguir um Natal desprovido
das lágrimas paternas que acabavam ofuscando o brilho e a magia de
uma data tão significativa como essa.
Apesar de tudo, desde que me dei conta de que o Natal é importante,
todo mês de dezembro eu tinha certeza absoluta de que a corrida pelo
dinheiro seria vencida graças ao esforço inegável do meu pai na sua
humilde profissão de mecânico e aos joelhos calejados de minha mãe
que agüentaram firmes os milhares de orações por uma vida mais digna
enquanto esse maravilhoso dia não chegava. Eu nunca me canso de
afirmar que ela vai para o céu com tripa e tudo, sem qualquer
chamuscada no purgatório. Com toda simplicidade, ela fazia o Natal
valer a pena.
Outro ano se foi, um novo Natal acontece e os fatos que mais
preocupam as pessoas no momento são o presente do amigo secreto, o
peru, o panetone e aqueles benditos brinquedinhos eletrônicos que
saturam os nossos olhos e esvaziam os nossos bolsos, mas estão na
moda e os filhos querem por que querem para não ficarem atrás dos
demais colegas na escola. Nem sabemos ao certo se cabe no orçamento,
mas é melhor não contrariá-los.
Eu quase me desmanchei de alegria ao ganhar um triciclo de plástico
Bandeirantes da minha madrinha há quarenta anos. Dia desses,
conversando com o meu filho mais novo, por pouco não caí duro quando
perguntei a ele o que desejava ganhar no Natal: - eu quero um cartão
de memória para celular, com dois giga, pai, um giga não dá pra
nada. Fiquei sem saber o que dizer.
Apesar de tudo, pai é pai e os tempos são outros. A indignação
paterna não adianta e de durão mesmo, a gente só tem a pose. Noutros
tempos a gente mandava a cartinha pedindo um monte de coisas caras e
impossíveis e acabava ganhando bola de futebol, carrinho de
plástico, pipa e bolinhas de gude. E, graças a Deus, uma roupa nova
que durava o ano todo, pois era a única boa que a gente guardava com
carinho na gaveta para usar durante a missa de domingo. Que coisa
fantástica! Isso era a realização de verdade.
Quando a gente está na terceira boa fase da vida as coisas ficam
mais tranqüilas e aceitáveis. Meu filho caçula já passou da primeira
fase, a de acreditar em Papai Noel, e agora está na segunda, a de
ignorar o Papai Noel, sem abrir mão do presente, é claro. Creio que
só vai tomar consciência novamente da importância do velhinho na
terceira fase, quando ele for o Papai Noel dos seus filhos e netos
ou na quarta e última fase, bem mais velho, quando ele estiver
gordinho, careca e ficar com a cara e o jeito do Papai Noel.
Depois de certa idade a gente briga para ser o Papai Noel. Nunca
disse aos meus filhos que Papai Noel não existe, ao contrário,
continuo sustentando essa verdade e contrariando os pré-adolescentes
e adolescentes estraga-prazeres que adoram encher a cabeça dos
irmãos mais novos. Meus filhos riem, mas eu também me divirto e, só
de sacanagem, peço para eles escreverem a carta para o velhinho,
senão o presente não vem. Eu sei que o Papai Noel existe, vai por
mim.
Pense em todas as coisas boas que aconteceram na sua vida durante
mais um ano que se vai. Estou certo de que foram mais coisas boas do
que ruins e, como diz o ditado, é bem mais saudável aproveitar o que
você tem do que passar a vida inteira reclamando do que você não
tem. Ainda que o ano não tenha sido dos melhores, você continua
vivo, saudável e animado, diferente dos 10% de brasileiros
desempregados que talvez não desfrutem de um Natal tão maravilhoso
quanto o seu. Como diria Charles Spurgeon, “não se trata de quanto
temos, mas de quanto nós desfrutamos”. Isso é o que realmente vale.
Neste Natal faça um esforço para que a convivência com os seus pais,
filhos, amigos e colegas de trabalho seja especial, alegre e cheia
de vida. Tente abraçá-los de maneira sincera e dizer a eles o quanto
eles são importantes para você. Mantenha uma atitude positiva
durante toda a vida e lembre-se que o mundo é feito de pessoas
especiais, de oportunidades ilimitadas e de liberdade de escolha,
portanto, escolha viver um Natal diferente, uma vida diferente e,
principalmente, um ano novo mais diferente ainda.
O melhor do Natal é que podemos realizar em um dia ou uma semana, no
máximo, o que não fizemos durante o ano todo. Deveria ser diferente,
porém, muitas vezes, falta-nos humildade para manter uma postura
digna de admiração e respeito na sociedade. É fácil manter o
sorriso, difícil é perdoar a si mesmo por todas as besteiras
cometidas e as oportunidades desperdiçadas durante o ano, tais como
abraçar os amigos, perdoar o filho rebelde, dizer para o colega de
trabalho o quanto ele é importante, dizer ao chefe que, apesar de
ele ser um cara sacana de vez em quando, você ainda o admira e torce
por ele, sem demagogia.
Apesar de o mundo corporativo pregar um discurso diferente, creio
ser perfeitamente possível uma convivência pacífica no trabalho,
algo que pode ser comprovado durante o Natal. Nesse período,
cometemos o desvario de abraçar pessoas e comprar presentes para
aqueles com quem não trocamos uma palavra sequer durante o ano pelo
fato de que, no Natal, o que nos impulsiona de verdade é o coração
e, graças a Deus, o coração é holístico, movido a emoções, portanto,
tem ligação direta com Deus.
Qual será o melhor Natal da sua vida? O próximo será sempre o
melhor, pois você tem obrigação de crescer e torcer pelos seus
filhos, amigos e conhecidos e, principalmente, pelos excluídos que
não foram tão privilegiados quanto você na grande estrada da vida.
Pense nisso, faça a sua parte e tenha um FELIZ NATAL!
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas
(Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE