Futebol Feminino: Superando o Preconceito
Por Luciane de Andrade Barreto
04/04/2008
O primeiro jogo de futebol feminino aconteceu na Inglaterra em 1896,
entre as seleções inglesa e escocesa. No Brasil, tudo começou nos
anos 30, enquanto o futebol masculino já estava organizado desde
1894. Em 1959, atrizes do teatro de revista - como Dercy Gonçalves e
Marly Marley - entraram no estádio do Pacaembu para um partida
beneficente.
Durante o regime militar, as mulheres eram proibidas de jogar
futebol e o veto foi revogado apenas em 1981. Nesta época, a Fifa
formou uma comissão para estudar o assunto, ao passo que a União
Européia de Futebol (UEFA) já tinha um regulamento pronto. Somente
em 1983, o Conselho Nacional de Desportos reconheceu e determinou
normas básicas para a prática do esporte entre as mulheres.
Em 1982, o time carioca Radar conquistou o Women's Cup of Spain,
colecionando títulos nacionais e internacionais. Esses resultados
estimularam o nascimento de novos times, entre eles Vasco da Gama,
no Rio de Janeiro, e o Saad, em São Paulo.
Em 1987, a CBF já havia cadastrado dois mil clubes e atualmente o
futebol feminino faz parte do calendário oficial da Fifa, tendo o
primeiro campeonato mundial realizado na China, em 1991.
Esse histórico demonstra um percurso no mínimo difícil para o
futebol feminino e essa dificuldade também se expressa na vida das
jogadoras.
Muitas vezes a própria família não incentiva e reprova a prática e
elas precisam lutar dentro e fora do campo para seguir nesse esporte
tão valorizado quando se trata de time masculino. Se para o menino
ser um jogador de futebol é um sonho, para as meninas é um
verdadeiro pesadelo! Elas relatam que precisam de muita coragem e
força de vontade para enfrentar todos os obstáculos.
É flagrante observar a desigualdade vivida por elas. Mesmo inseridas
em um contexto dominado por homens e arcando com a responsabilidade
de viver no ‘país do futebol’, essas brasileiras enfrentam as
diferenças de maneira valente, pois sofrem justamente por essa
contradição, já que só há privilégios, prestígios, recursos,
condições e dinheiro no futebol masculino. Se é verdade que o
futebol proporciona à sociedade brasileira a experiência de
igualdade e de justiça social, algo precisa ser feito pelo e para o
futebol feminino para reparar esse erro.
A falta de apoio e de visibilidade não corresponde ao desempenho,
pois o futebol feminino obteve resultados expressivos em campeonatos
internacionais, como a medalha de bronze conquistada na Copa do
Mundo (1999), o 3o. lugar no Mundial Sub-20 (2006) e a medalha de
ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.
Elas sabem que para garantir esse espaço precisam superar esse
preconceito, lutar por melhores condições e pela garantia de
realização e satisfação dentro dessa atividade esportiva e dependem
dessa conquista para manter sua opção profissional.
Legítimas guerreiras que escolheram o caminho mais difícil ao
preferir esse esporte a outro mais ‘feminino’, como o vôlei, a
ginástica e a dança, fazem desse ambiente uma forma de se fortalecer
e mostram a força de sua feminilidade através de seus comportamentos
e mecanismos psicossociais!
O batom, o perfume, o creme e o gel no cabelo delicadamente arrumado
só intensificam o que elas são: determinadas, sensíveis, dedicadas,
corajosas e batalhadoras! Assim, sem anular ou ignorar as diferenças
entre o masculino e o feminino, devemos questionar o absolutismo
desses conceitos e buscar captar uma versão atualizada da
feminilidade, refletindo sobre uma nova concepção de masculino e
feminino num contexto de liberdade, igualdade e participação.
Luciane de Andrade Barreto é Graduada em Psicologia pela
Universidade Paulista (2000) e em Educação Física pela Universidade
de Santo Amaro (1990). Atualmente é psicóloga e pesquisadora da
Universidade Federal de São Paulo, desenvolvendo diversos projetos
na área de Distúrbios do Sono e Atendimento Ambulatorial junto à
equipe interdisciplinar do Ambulatório Neuro-Sono. Atua em
Psicologia Clínica no setor público e privado, incluindo avaliações
e atendimento a atletas, esportistas e pacientes com transtornos
alimentares e psiquiátricos. Especialista em Psicoterapia
Ambulatorial (UNIFESP/2003), Psicologia do Esporte (2004) e
Distúrbios do Sono (UNIFESP/2005). Participação e apresentação de
trabalhos em diversos congressos nacionais e internacionais de
variadas áreas do conhecimento (Ciências do Esporte, Distúrbios do
Sono, Psicologia, entre outras).