Gestalt
Gestalt é um termo intraduzível do alemão, utilizado para abarcar a
teoria da percepção visual baseada na psicologia da forma.
Origem da psicologia da forma
Durante o século XIX e até o início do século XX, a Psicologia havia
se consolidado como um ramo da Filosofia, e limitava-se a estudar
tanto o comportamento como as emoções e a percepção. Nessa época, os
estudos sobre a percepção humana da forma tinham em comum a análise
atomista, ou seja, que procurava o conjunto a partir de seus
elementos. Sob esse ponto de vista, o homem tenderia a somente
perceber uma imagem através de suas partes componentes,
compreendendo-as por associações de experiências passadas
(associacionismo). Em oposição direta a isto, surgiu a Teoria da
Gestalt (ou “configuração”) no início do século XX, com as idéias de
psicólogos alemães e austríacos, como Christian von Ehrenfels, Felix
Krüger, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. Inicialmente voltada apenas
para o estudo da psicologia e dos fenômenos psíquicos, a Gestalt
acabou ampliando seu campo de aplicação e se tornou uma verdadeira
corrente de pensamento filosófico. A Teoria da Gestalt afirma que
não se pode ter conhecimento do todo através das partes, e sim das
partes através do todo; que os conjuntos possuem leis próprias e
estas regem seus elementos (e não o contrário, como se pensava
antes); e que só através da percepção da totalidade é que o cérebro
pode de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um
conceito. Mas sobre esse pensamento já se formulavam concepções
distintas. A chamada “corrente dualista”, da escola de Graz, na
Áustria, identificou dois processos distintos na percepção
sensorial: um, a sensação, corresponde à pura percepção física dos
elementos de uma configuração (o formato de uma imagem ou as notas
de uma música), que é particular do objeto percebido; e o outro, a
representação, que seria um processo “extra-sensorial” através do
qual os elementos, agrupados, excitam a percepção e adquirem sentido
(a forma visual ou a melodia da música), que já é particular do
trabalho mental do homem. A outra concepção, divergente do
“dualismo”, era a chamada “corrente monista” (de mono, único),
defendida pelos alemães. Pelo ponto de vista monista, tanto sensação
como representação se dariam simultaneamente, e não em separado. A
forma, ou seja, a compreensão que os dualistas chamaram de
“extra-sensorial”, não pode ser dissociada da sensação do objeto
material. Por ocorrerem ao mesmo tempo, percepção sensorial e
representativa vão se completando até finalizarem o processo de
percepção visual. Só quando uma é concluída que a outra pode ser
concluída também.
A teoria da forma
O psicólogo austríaco Christian von Ehrenfels (1859-1932) lançou, em
1890, as bases do que viriam, mais tarde, a ser os estudos da
Psicologia da Forma (originalmente, Gestaltpsychologie). Sua
primeira constatação foi a divisão de duas espécies de “qualidades
da forma”: as sensíveis, próprias do objeto, e as formais, próprias
da nossa concepção. São as primeiras agrupadas de acordo com as
últimas que formam o conjunto e possibilitam a percepção (como vimos
antes no debate entre “dualistas” e “monistas”). Mas Ehrenfels não
foi capaz, em suas pesquisas, de resolver a questão dos “excitantes”
das qualidades formais: o que levaria à compreensão partes também
estabelecem correlações equilibradas. Pois, para a Gestalt, o todo é
um elemento próprio, mas refere-se sempre às correlações entre suas
partes
“Entre os princípios da Gestalt, destaca-se como fundamental
referência para as composições gráficas, o seguinte conceito: "o
todo é mais do que a soma das partes". Isto equivale a dizer que "A
+ B" não é simplesmente "(A+B)", mas sim um terceiro elemento "C"
que possui características próprias.”
MOURA, Ana Clara Mourão e RIBEIRO, Rosemary Campos MOURA ([1])
Leis gestaltistas da organização
A Teoria da Gestalt, em suas análises estruturais, descobriu certas
leis que regem a percepção humana das formas, facilitando a
compreensão das imagens e idéias. Essas leis são nada menos que
conclusões sobre o comportamento natural do cérebro, quando age no
processo de percepção. Os elementos constitutivos são agrupados de
acordo com as características que possuem entre si, como semelhança,
proximidade e outras que veremos a seguir. O fato de o cérebro agir
em concordância com os princípios Gestálticos já poderia ser
considerado a evidência fundamental de que a Lei da Pregnância é
verdadeira. São estas, resumidamente, as Leis da Gestalt:
SEMELHANÇA: Ou “similaridade”, possivelmente a lei mais óbvia, que
define que os objetos similares tendem a se agrupar. A similaridade
pode acontecer na cor dos objetos, na textura e na sensação de massa
dos elementos. Estas características podem ser exploradas quando
desejamos criar relações ou agrupar elementos na composição de uma
figura. Por outro lado, o mau uso da similaridade pode dificultar a
percepção visual como, por exemplo, o uso de texturas semelhantes em
elementos do “fundo” e em elementos do primeiro plano.
PROXIMIDADE: Os elementos são agrupados de acordo com a distância a
que se encontram uns dos outros. Logicamente, elementos que estão
mais perto de outros numa região tendem a ser percebidos como um
grupo, mais do que se estiverem distante de seus similares.
BOA CONTINUIDADE: Está relacionada à coincidência de direções, ou
alinhamento, das formas dispostas. Se vários elementos de um quadro
apontam para o mesmo canto, por exemplo, o resultado final “fluirá”
mais naturalmente. Isso logicamente facilita a compreensão. Os
elementos harmônicos produzem um conjunto harmônico. O conceito de
boa continuidade está ligado ao alinhamento, pois dois elementos
alinhados passam a impressão de estarem relacionados.
PREGNÂNCIA: A mais importante de todas, possivelmente, ou pelo menos
a mais sintética. Diz que todas as formas tendem a ser percebidas em
seu caráter mais simples: uma espada e um escudo podem tornar-se uma
reta e um círculo, e um homem pode ser um aglomerado de formas
geométricas. É o princípio da simplificação natural da percepção.
Quanto mais simples, mais facilmente é assimilada: desta forma, a
parte mais facilmente compreendida em um desenho é a mais regular,
que requer menos simplificação.
CLAUSURA: Ou “fechamento”, o princípio de que a boa forma se
completa, se fecha sobre si mesma, formando uma figura delimitada. O
conceito de clausura relaciona-se ao fechamento visual, como se
completássemos visualmente um objeto incompleto. Ocorre geralmente
quando o desenho do elemento sugere alguma extensão lógica, como um
arco de quase 360º sugere um círculo.
EXPERIÊNCIA PASSADA: Esta última se relaciona com o pensamento
pré-Gestáltico, que via nas associações o processo fundamental da
percepção da forma. A associação aqui, sim, é imprescindível, pois
certas formas só podem ser compreendidas se já a conhecermos, ou se
tivermos consciência prévia de sua existência. Da mesma forma, a
experiência passada favorece a compreensão metonímica: se já
tivermos visto a forma inteira de um elemento, ao visualizarmos
somente uma parte dele reproduziremos esta forma inteira na memória.
Análise das imagens
Para se fazer uma análise sintática de uma imagem, é preciso,
necessariamente, identificar os principais elementos da composição.
E tratar a imagem não como a semiótica, que faz a análise da ligação
e significado das partes que a compõem, mas sim do ponto de vista da
percepção do olho humano, do modo de estruturar naturalmente os seus
elementos gráficos em nossa mente. Foi justamente para estudar essa
percepção que se desenvolveu a Teoria da Gestalt. Propõe essa
teoria, entre outras regras, que o cérebro humano tende
automaticamente a desmembrar a imagem em diferentes partes,
organizá-las de acordo com semelhanças de forma, tamanho, cor,
textura etc., que por sua vez serão reagrupadas de novo num conjunto
gráfico que possibilita a compreensão do significado exposto. A
Gestalt estabelece sete relações através das quais as partes da
imagem são agrupadas na percepção visual: proximidade, semelhança,
direção, pregnância, boa continuidade, fechamento e experiência
passada. Esse dom natural de “arrumar” as informações passadas em
seu cérebro possibilita ao homem assimilar esses dados com maior
facilidade e rapidez. Na Arte figurativa, em geral, a preocupação na
organização e disposição dos elementos utiliza-se dos mesmos
princípios posteriormente estudados pela Gestalt, desde os estudos
de Leonardo DaVinci e Alberti sobre a perspectiva e a hierarquização
dos componentes, podendo os valorizar, dar-lhes destaque ou
relegando-os a segundo plano, tendo como resultado na obra final um
papel principal e destacado, logo percebido pelo espectador, ou
secundário no entendimento da cena. Em Gestalt, explicamos esse
“fenômeno da percepção” através da decomposição e imediata
recomposição das partes em relação ao todo. Não é muito diferente
com a imagem comunicativa. Os mesmos elementos da figura artística
se aplicam à comunicação visual, inclusive a retórica. Uma imagem é
capaz de ter a mesma eloqüência que um discurso falado ou mesmo que
um livro. Tudo depende da ordem e da intensidade em que são
organizados: a sua configuração ou Gestalt. Seja texto ou imagem,
estamos lidando com discursos da propaganda, e daí devemos perseguir
sempre os elementos fundamentais desses objetos de análise..
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Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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conteúdo enciclopédico. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gestalt&oldid=4974910>.
Acesso em: 17 Fev 2007
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