Gestores de Instrumentos ou de Pessoas ?
Por Bruno Soalheiro
10/06/2008
Vira e mexe, em alguns trabalhos de consultoria encontro gestores de
pessoas que, por estarem excessivamente preocupados em “fazer tudo
direitinho” segundo a cartilha, acabam gastando tanto tempo e
energia em busca de executar os procedimentos e utilizar as
ferramentas da área, que terminam por tornar sua atuação contra
producente.
Estas pessoas costumam ficar tão vidradas na burocracia dos
procedimentos e na “maravilha dos instrumentos”, que o uso adequado
das ferramentas, em vez de ser um meio, passa a ser um fim em si
mesmo. E pior, este excesso de cuidado costuma absorver um tempo tão
grande do gestor que acaba prejudicando que ela faça a parte mais
importante de sua tarefa: conhecer as pessoas que está gerindo!
Algo muito relevante para os profissionais de RH entenderem é que as
técnicas servem às pessoas, e não o contrário. A área inclusive tem
passado por uma revisão interessante de conceitos procedimentos, em
que alguns pensadores contemporâneos questionam o excesso de
complicação nas políticas de RH.
Uma descrição de cargo, um organograma, uma ficha de ocorrência e um
documento sobre políticas de premiação são muito úteis desde que
utilizados a serviço do gestor, e não o contrário. Já vi pessoas
gastarem dias elaborando descrições minuciosas de cargos para depois
simplesmente engavetá-las. Ora, seria muito melhor uma descrição
simples e informal que realmente fosse utilizada. Isto quando não se
marcam treinamentos com a afirmação de que: “não fazemos um
treinamento há muito tempo, precisamos fazer algum”!
É claro que os procedimentos, as fichas, os modelos e as ferramentas
são muito úteis e devem ser utilizados, mas deve-se ter o cuidado de
não deixar que eles monopolizem a atenção do gestor de modo que ele
esqueça que o que realmente importa é entender as pessoas e o que as
motiva!
Isto não se consegue apenas com medições e ferramentas, e sim com
contato, conversas, observação e sentimento. É preciso andar pelos
corredores e “sentir” o clima, falar com os colaboradores, ouvir o
que eles têm a dizer, entender o que os inspira ou os amedronta.
Muitos homens que souberam gerir pessoas e formar equipes memoráveis
sequer freqüentaram qualquer aula sobre gestão de RH.
Não existe técnica ou instrumento de gestão que elimine
completamente a importância do “feeling” e da percepção humana no
que diz respeito a pessoas. Números, por mais que possam ser
utilizados para quantificar muitas coisas, jamais darão contas das
nuances sutis do comportamento humano.
O gestor de pessoas moderno e eficaz deve sim, ter o conhecimento
técnico suficiente para aplicar todos os instrumentos e ferramentas
disponíveis na área, mas deve, mais do que isso, se fazer presente
como “pessoa entre pessoas” em sua organização, buscando um nível de
percepção tal que o permita saber o que usar, quando usar, e até
mesmo se realmente “é preciso usar”!
Vamos pensar sobre isto!
Bruno Soalheiro é Psicólogo, palestrante e consultor em
desenvolvimento humano.