Gravidez na Adolescência
Por Eliane Pisani Leite
31/07/2007


As meninas brasileiras estão menstruando e iniciando sua vida sexual cada vez mais cedo. Vários fatores, desde o clima tropical e a alimentação do mundo industrializado até a erotização provocada pela permissividade dos programas de televisão contribuem a mudanças internas que promovem o amadurecimento antecipado dos elementos ligados ao desejo sexual e ao aparelho reprodutivo dos púberes.

Na sociedade moderna, onde os pais trabalham fora e a escola é insuficiente para acompanhar o desenvolvimento da sexualidade dos adolescentes, o problema torna-se preocupante, pois, por falta de informações, suas relações sexuais, sem proteção, podem resultar em gravidez indesejada, além de doenças sexualmente transmissíveis.

Dados estatísticos estão preocupando pais, educadores e médicos, pois o índice de gravidez de adolescentes cresceu 150% em relação às duas últimas décadas. No Brasil, uma entre cada cinco jovens entre 15 a 19 anos já tiveram filho, descontadas aquelas que praticaram aborto. No ano de 1999, segundo o Ministério da Saúde, foram realizados 700.000 (setecentos mil) partos, De cada cinco, um era de adolescente com menos de 19 anos.

Cerca de 20% das crianças que nascem a cada ano no Brasil são filhas de adolescentes. Comparado à década de 70, três vezes mais garotas com menos de 15 anos engravidam hoje em dia. A maioria não tem condições financeiras nem emocionais para assumir essa maturidade. Acontece em todas as classes sociais, mas a incidência é maior e mais grave em populações mais carentes. O rigor religioso e os tabus morais internos à família, a ausência de alternativas de lazer e de orientação sexual específica contribuem para aumentar o problema

A adolescência é uma espécie de preparação para assumir o papel de adulto, que é definido principalmente por ter um trabalho que garanta a sobrevivência de um lar.

Para a jovem mulher esse processo é mais difícil por causa de condicionamentos culturais, que limitam sua autonomia na elaboração de projetos de vida, quase sempre exigindo que se mantenha nos limites do núcleo familiar. Se além da dificuldade de construir sua identidade, administrar emoções e entender as mudanças que acontecem com seu corpo, houve uma sobrecarga de necessidades fisiológicas e psicológicas, a adolescência pode se caracterizar como um processo de ruptura, inviabilizando a formação de um adulto saudável, equilibrado, consciente de seus direitos. No caso das mulheres, vítimas do preconceito sexual, uma ruptura decorrente de uma gravidez precoce pode acarretar o que se chama de risco psicossocial. E a comunidade tem alertado que as conseqüências de uma gravidez na adolescência não se resumem apenas aos fatores psicológicos ou sociais.

Os fatores que agravam o crescimento de gravidez na adolescência são: a liberalização da sexualidade, a desinformação sobre o tema, a desagregação familiar, a urbanização acelerada, as precariedades das condições de vida e a influência dos meios de comunicação.

O Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde, é o país onde mais se pratica aborto (10% dos abortos mundiais), sendo que para cada criança que nasce, duas são abortadas. São 13.090 abortos por dia, 570 por hora, 0,5 por minuto. Como conseqüência do aborto praticado por parteiras e curiosas, ou por médicos em lugares sem a mínima condição de higiene, são muitos os casos em que a mulher sofre seqüelas graves.

As conseqüências de uma gravidez precoce podem trazer transtornos irremediáveis a longo prazo na vida de uma adolescente, sem contar que no dia a dia, depois que a criança estiver maior e já tenha passado da fase das gracinhas de bebê, o que irá sobrar serão as responsabilidades emocionais e financeiras para proporcionar uma vida pelo menos digna para esse filho crescer e se estruturar, sem passar necessidades.


Eliane Pisani Leite - Autora do livro: Pais EducAtivos

Pisicologia Acupuntura Psicopedagogia - pisani.leite@terra.com.br