Identidade do Psicólogo no Meio Hospitalar
Por Susana Alamy
Quando falamos em identidade do psicólogo no meio hospitalar devemos
ter em conta algumas considerações, como a inserção do psicólogo na
instituição e sua atuação nas clínicas.
I. INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO MEIO HOSPITALAR
A inserção do psicólogo no meio hospitalar se deve a resistências
por parte da instituição, dos médicos e dos próprios pacientes,
suscitadas por:
- medo da subjetividade suscitada, trazida à tona pelo psicólogo.
Medo da leitura do não-dito, que permeia muitas das relações, pondo
em jogo as verdades;
- onipotência do médico - que detém o discurso do saber;
- onipotência do psicólogo - que em sua leitura própria do sujeito
encontra todas as respostas, "psicologizando" todas as manifestações
orgânicas;
- diversidades de técnicas de atendimento psicológico (que variam de
acordo com as necessidades do paciente e princípios do
psicoterapeuta, indo desde uma escuta analítica até uma intervenção
direta e auxiliar como relaxamento);
- vulgarização da psicologia pelos próprios profissionais (quando os
profissionais de psicologia trazem respostas prontas e simplistas,
colocando em dúvida a veracidade das mesmas).
A necessidade de se ter o psicólogo na instituição hospitalar é
reconhecida quando:
- apenas os fatores anatômicos, físicos e químicos não são
suficientes para justificar e tratar determinadas patologias;
- são reconhecidos os fatores inconscientes atuantes em diversas
patologias, como nas doenças psicossomáticas;
- através da psicoterapia é possível ao paciente trazer à tona a
causa dos seus sofrimentos, possibilitando ao mesmo elaborá-los;
- há o reconhecimento do conceito de saúde emitido pela O.M.S.
(Organização Mundial de Saúde): "Saúde é o total bem-estar
biopsicossocial do homem e não somente a ausência da doença".
- os resultados práticos do atendimento psicológico repercutem na
alta hospitalar do paciente. Como exemplo, podemos pensar no
paciente deprimido e no que não está deprimido. O paciente não
deprimido responderá melhor e mais eficientemente ao tratamento
médico;
- há diminuição de ansiedades pré-cirúrgicas possibilitando ao
médico melhor comunicação com o paciente;
- o sujeito doente sofre desequilíbrio em uma das instâncias
bio-psico-social e através da psicoterapia é possível restabelecer
seu equilíbrio anteriormente existente. Quando falamos de psicologia
hospitalar, falamos do atendimento prestado àquele paciente que tem
como "foco" a causa da sua internação, da sua doença, portanto
motivo este do atendimento.
II. ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NAS CLÍNICAS
A atuação da psicologia nas clínicas se faz considerando a
especificidade de cada uma delas e de seus pacientes, onde temos
sempre em conta a "simbologia dos órgãos" afetados, dos órgãos
doentes. Um paciente cardíaco terá fantasias relacionadas à
importância do coração, aos mitos referentes a este.
A atuação pode se dar em ambulatório, enfermaria, CTI e apartamento,
onde a reação do paciente frente a estes lugares se dará de modo
específico e singular. Com certeza um CTI amedronta muito mais a um
paciente do que um apartamento. Não podemos desconsiderar as
fantasias suscitadas em cada um destes lugares. Podendo o paciente
ser trabalhado individualmente ou em grupo, em situações de cirurgia
(psicoprofilaxia cirúrgica ou somente em preparação psicológica para
cirurgia), tratamento clínico da doença e/ou hospitalização -
situação em que por si mesma é geradora de ansiedades e angustias,
de stress, podendo desencadear problemas psicoafetivos.
Na nossa atuação objetivamos:
- o processamento de informações, ou seja, a forma como o paciente
está processando as informações trazidas pelos médicos, pela
enfermagem, pelos familiares, etc.;
- a elaboração da situação vivenciada pelo paciente, trabalhando-o
nos níveis psicodinâmicos (inconsciente e consciente), observando
sua compreensão e insight do que se passa, observando seus limites;
- a diminuição dos medos básicos, da ansiedade e da angústia em
níveis tolerados pelo paciente - quando se trata de situações de
cirurgia ou não. Muitas vezes o stress provocado por uma doença
poderá ser o momento oportuno de reflexões para o paciente, sendo,
então, positivo;
- evitar que as "intervenções técnicas" (as cirurgias e os exames
complementares) possam dar lugar a uma organização de
características psicopatológicas na personalidade do paciente,
quando começam a aparecer sintomas que estavam ocultos e não remetem
à clínica, aos sintomas clínicos em questão;
- priorizar ou relativizar as dificuldades do paciente. Um paciente
que irá se submeter a uma cirurgia poderá estar ansioso por medo da
anestesia, da morte etc., cabe ao psicólogo escutar e analisar sua
demanda mais imediata.
Atuando de forma interagida e dinâmica junto ao médico, obteremos
melhores resultados no tratamento, porque assim estaremos
objetivando a melhora do paciente enquanto um todo.
É importante que o psicólogo esteja atento à sua onipotência e ter
capacidade de trabalhar conjunta e interagidamente com o médico, bem
como com toda a equipe de saúde. Trabalhar conjuntamente implica em
respeitar a ciência de cada um e seus limites e ter espaço para
serem colocadas todas as opiniões, divergências, para que se possa
chegar a um denominador comum em relação ao paciente.
A atuação conjunta com o médico é muito rica quando possibilita ao
paciente ser atendido em seus aspectos subjetivos e concretos, sem
que seja fragmentada por cada profissional, oferecendo a ele também
uma outra escuta para seus sofrimentos.
Muitas vezes, por desconhecimento de outros profissionais da saúde e
da própria instituição, o psicólogo é confundido com o assistente
social, terapeuta ocupacional (quando atendendo crianças) e outros.
Neste momento é importante demarcar o seu lugar, esclarecendo as
dúvidas que originaram tal concepção errônea. É um dos momentos
oportunos para o psicólogo falar do seu trabalho e o tornar claro
aos outros.
Lembrando que sempre cabem as reflexões sobre as demandas
existentes, se são elas dos médicos, do paciente, etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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- FREUD, Sigmund. As Resistências à Psicanálise. Edição Standard das
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Susana Alamy é Psicóloga Clínica e Hospitalar . E-mail para contato:
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