Individualidade e Egoísmo... é a mesma coisa?
Por Sirley Bittú
09/09/2002
É especialmente comum a confusão entre individualidade e egoísmo.
Porque essas coisas se misturam tanto? Como desenvolvemos nossa
individualidade e nossa capacidade de nos relacionarmos intimamente?
Onde aprendemos qual sentimento é feio ou bonito?
Somos educados para os outros, para o social ...diga obrigado quando
receber algo de alguém- principalmente de estranhos . Não é
esquisito isso?? A intimidade implica em desrespeito, então? Em
desvalor? Quantas vezes ouvimos: V. é de casa mesmo... não tem
problema... ele(a) espera ... ou aquela velha e conhecida frase: ...
primeiro as visitas!
Dificilmente nos dizem: ... aprenda a se respeitar!... Seja grato ao
que recebe, mas não se torne por isso, um eterno devedor ... ou o
inverso ...doe apenas o que tem senão estará correndo o risco de se
tornar um eterno credor... Saboreie suas vitórias valorizando também
sua capacidade e seu potencial que o ajudou em suas conquistas ...e
não apenas ofereça os créditos aos outros, ou ao acaso... ou a
eterna sorte .
Ouvi certa vez, uma definição interessante: sorte é o encontro do
talento com a oportunidade!, é dessa interação: eu (talento) – mundo
(oportunidade) que estou falando.
Sou psicoterapeuta a mais de 10 anos e posso contar nos dedos de uma
mão, o numero de pessoas que conheci que foram educadas a se
respeitar em primeiro lugar. E a culpa? E a dúvida... será que isso
não é egoísmo ou falta de educação?
Nascemos emocionalmente misturados com o meio, enquanto bebês nossas
sensações, desejos, e percepções ainda não são sentidas como nossas,
fazemos parte de um todo confuso e complexo. Fantasia e realidade
ainda estão indiferenciados. Nesse momento somos naturalmente
egoístas, não existe o outro, tudo é eu.
A nossa percepção, nossa forma de entender, sentir e encarar a
realidade nasce daquilo que aprendemos e descobrimos durante esse
processo de formação da identidade, através de nossas relações.
Nossas crenças, nossos valores, nossa fé nas mais diferentes coisas
emergem da substancia da ilusão compartilhada em parte pela
humanidade e em parte pelo crivo de nossa família e das pessoas que
ajudaram a construir nossa matriz de identidade.
Todas as vivências e experiências pelas quais passamos, são
filtradas pelos nossos parâmetros, que influenciam o nosso olhar.
Portanto não existe uma única realidade, existem inúmeras formas de
entender e compreender a mesma situação. Como diz o jargão popular:
depende do ponto de vista.
A individualidade poderia ser vista como essa forma particular de
sentir, perceber e decodificar o mundo que nos cerca. Para podermos
exercitá-la e desenvolve-la é necessário respeito. Estou definindo
como respeito a capacidade de permitir ao outro ser, expressar suas
particularidades, suas características genuínas, seu potencial
criativo e espontâneo; trata-se da aceitação do outro como ele é.
Para isso precisamos de coragem e humildade, para perceber que
existem várias verdades e em diferentes ordens hierárquicas, ou
seja, o que é importante para você pode ser importante para mim, não
necessariamente na mesma ordem, ou pode simplesmente não ser; por se
tratar de valores ou visões diferentes. As pessoas não são feitas à
nossa imagem e semelhança, são diferentes, pois são resultado de sua
própria história, e de suas singularidades. Quem te disse que o seu
certo é o certo?
O egoísta só se relaciona consigo mesmo, não percebe o outro, porque
seu olhar esta confuso, perdido na própria imagem.
O auto-respeito é diferente do egoísmo. Desenvolvemos nossa
capacidade de nos relacionar de forma saudável, no difícil
aprendizado de assumir gradativamente a responsabilidade por nossa
própria vida, por nossas escolhas e por nossas características boas
ou não. Paralelamente descobrimos a importância do outro em nosso
desenvolvimento e sua influência em nosso crescimento emocional.
A pessoa que respeita a própria individualidade percebe que existe
independente do outro, ela é mas ao mesmo tempo torna-se
interdependente do meio, numa relação de troca, numa dança delicada
e prazerosa.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br