Intuição, Essa nossa voz interior
Por Maria Inês Felippe
14/07/2008
Tenho observado e trabalhado muito com criatividade e nesse caminho
constato, cada vez mais, que ser criativo exige muito mais
transpiração do que inspiração.
Todos sabem da divisão do cérebro (razão x emoção) e o processo
criativo envolve sua utilização como um todo; é preciso sentir,
imaginar, criar, pensar. Sinto que é pensar com a cabeça na lua,
porém com os pés no chão, trazer para a realidade o que foi sonhado.
Só que nesse espaço entre criar e realizar há uma lacuna que deve
ser preenchida e que envolve mais ainda a criatividade, porque nem
sempre o que criamos é compatível com a realidade, pois envolve
custos, por exemplo, além de outros fatores concretos.
Mas não devemos deixar de ter em mente o pensar e agir de forma
inovadora, o que, por vezes, causa uma certa revolução. Uma coisa é
certa, repito, criar envolve muito mais transpiração do que
inspiração, como já foi dito por diversos autores, mas exige também
boa dose de disciplina. Isso pode parecer exagero, mas a
sistematização, o seguir a cartilha no processo de criação é tão
importante quanto a ato de criar em si.
Esse processo consiste de etapas distintas, que exigem pessoas de
perfis diferentes. Entretanto, podemos encontrar também pessoas que
se diferenciam por possuir as duas competências, a de criar e a de
fazer acontecer. É claro que falar em criatividade sem resultados
práticos é pura "balela".
Percebemos que geralmente a necessidade é a mãe da invenção e que
esta surge também diante de situações que envolvam competitividade,
ameaça a valores básicos, assim como diante da busca de
auto-realização, ou frente à colocação: "não gosto disso", ou ainda"
"temos que melhorar", " não sei se inventei algo".
O que podemos afirmar é que a inovação abre novos caminhos, novas
perspectivas, abre a cabeça e favorece a transformação pessoal e
social, não se restringindo, portanto, somente ao lançamento de
produtos e serviços. Ou ainda, buscar fazer mais barato sem perder a
qualidade, fazer mais rápido, agregar valor, fazer mais com menos.
Criar é repensar, é reavaliar a tomada de decisões, observar se não
estão sendo repetitivas e até, em alguns casos, é deixar de fazer. É
preciso investigar, é importante ver a criatividade não somente como
estratégia de sobrevivência ou crescimento, como também de
transformação. A disciplina entra exatamente na hora de transformar
a idéia em ação, transformar a ilusão em atitudes.
Até então estamos falando de assuntos de fácil entendimento, mas e a
intuição?
Ah! a intuição, esse ingrediente tão difícil de explicar. Vamos
começar explicando o que é uma pessoa intuitiva.
As pessoas intuitivas são:
* Pessoas de idéias
* Aptas a lidar com assuntos intangíveis
* Possuem os famosos " clics", também difíceis de explicar
* Lidar com possibilidades é seu grande desafio motivacional
* São experimentais e imaginativas
* São idealistas, às vezes "desligadas"
* Vêem conexões e amarrações, por vezes desenvolvem fórmulas
complexas.
* São pouco práticas
* Pulam de um assunto para o outro
* Desenvolvem idéias originais que geram mudanças no conceito
global.
* Às vezes sentem dificuldade de expressar suas idéias, o que as
coloca em desvantagem numa roda de conversa, principalmente de
negócios.
* São aquelas com quem que nem todas as pessoas têm paciência para
lidar.
Doris J. Salcross, professora da Universidade de Massachusetts-USA e
da Universidade de Santiago de Compostela - Espanha, ressalta que a
intuição é muito mais veloz que o nosso pensamento comum. Você intui
algo e depois, pensando bem ou pesquisando, constata que estava com
um certo feeling.
Deve ser entendida como sentimento interior, visceral, acerca de
quaisquer situações e se alimenta da nossa profunda sabedoria e
verdades pessoais.
Refere-se a uma resposta involuntária, não racionalizada, opondo-se
às respostas pensadas. Eclode espontaneamente, tal como o
pressentimento. O pressentimento, o estado de humor, seus flashes ou
suas imagens mentais, podem ser considerados como intuições ou
insights.
Ela favorece captar antecipadamente possibilidades futuras,
inventivas e por vezes engenhosas.
A intuição não esta diretamente ligada aos gênios, nem tão pouco aos
"diplomados". Sabemos de inúmeros casos em que a solução de
problemas foi trazida por pessoas mais simples do ponto de vista
intelectual. Sabe aquela história em que estão reunidos vários
engenheiros, especialistas, todos em torno de um projeto, de um
problema, à procura da solução e vem o funcionário, o operário, na
maior parte das vezes aquela pessoa em quem ninguém botava fé e diz:
porque os senhores não fazem assim... A cada treinamento que dirijo,
há sempre um participante que conta um caso. Será que teve aí
observações, experiência, insight. O será que houve nesta cena?
Tenho percebido também nos grupos em que trabalho, situações que
envolvem tempo para criar como também a criação sob pressão e
questiono: qual é o melhor momento para criar.?Alguns dizem que
quando estão relaxados sentem que conseguem ter mais intuição e
criar, outros, entretanto, somente criam sob pressão. Diria que o
brasileiro possui esta competência de trabalhar sob pressão. Muitas
vezes criamos jogos que eu diria pesados para o processo criativo e
os participantes respondem de maneira bastante satisfatória,
trabalhando somente com ginástica cerebral e exercícios
estratégicos.
Percebemos que a criação é fruto de observação, investigação e que a
resposta poderá eclodir através da intuição da famosa expressão:
Eureca!!!
Agora pergunto, é possível desenvolver a intuição? Claro que sim, há
técnicas ativadoras, tais como exercícios de Relaxamento Plástico
Criativo, Mandalas, Analogias Inusuais, Imagem Guiada, atividades
com figuras, formas, música, dança, exercícios sobre a arte de fazer
perguntas, criação de metáforas, ferramentas de coaching e
mentoring. Meditação e várias outras técnicas.
Afinal, você já pensou como está a sua voz interior?
Explicitar qual o caminho que imaginamos para a nossa organização é,
hoje,
um antídoto contra a intranqüilidade e as incertezas que teremos".
*Maria Inês Felippe é consultora e palestrante, especialista em
Criatividade, Inovação e Gestão, e autora do livro 4 C’s para
Competir com Criatividade e Inovação, pela Editora Qualitymark -
www.mariainesfelippe.com.br