O Líder e seu papel como gestor de mudanças
Por Rogerio Martins
01/04/2008
Há um tema no meio corporativo que sempre rende exaustivas análises,
comentários e elucubrações: mudanças!
Por mais que se escreva, fale e teorize sobre o tema há quem ainda
não consiga lidar de forma positiva com as mudanças. O fato é que no
mundo dos negócios, mais do que nunca, é necessário possuir um
grande poder de adaptação às mudanças. Historicamente sabemos que o
homem é um ser em transição. Vivia nômade em busca de alimento e
abrigo. Parece que nos dias atuais ele vem resgatando sua essência e
proporcionando, para o desespero de muitos, grandes transformações
na forma de pensar, agir e interagir com o próprio meio.
Se a mudança é inevitável e já faz parte da história humana, porque,
ainda assim, há quem tenha tanto medo? Tenho certeza que você já se
fez esta pergunta diversas vezes. Sei também que já ouviu e leu
outras tantas. A resposta, no entanto, é simples e complexa.
Confundi? Pois é isso mesmo que os processos de mudança causam em
nossas vidas: uma sensação de dualidade. Tudo isso porque o que está
envolvido são nossas emoções. Por mais racional e lógica que seja a
pessoa ela sentirá medo e receio daquilo que desconhece. Para alguns
isso é um estímulo e por isso arriscam mais. Para muitos isto
paralisa. Parece um anestésico. O medo se apodera e faz com que suas
reações sejam de resistência.
O resultado mais comum no mundo corporativo é visto naquelas pessoas
que só interagem com os colegas do próprio departamento. O receio de
não ser aceito impede a socialização. Esse processo de encasulamento
vai tomando uma proporção cada vez maior e se complica ainda mais
quando atinge a área de recursos humanos. Em minha história
profissional conheci mais pessoas resistentes a mudanças dentro
deste departamento. Parece incongruente... e é. As pessoas que
deveriam ser verdadeiros agentes de mudanças em muitas empresas
fazem o oposto. Impedem o desenvolvimento de novos valores
corporativos. Distanciam-se das pessoas. Agem de forma contrária ao
progresso da organização. É óbvio que não são unanimidade. Ainda
bem! Lembro-me de trabalhar com um profissional que era exatamente o
oposto. Ativo, cheio de idéias e com muita vontade de transformar. O
primeiro impacto após sua contratação foi de pânico. Ele mexia no
status quo. Alterava aquela sensação de equilíbrio conquistada por
um longo período. Muitos torceram por sua demissão, mas acabaram
demitidos.
No mundo corporativo nos deparamos com tantas histórias semelhantes.
Perguntamos a nós mesmos como fazer para evitar danos à cultura
organizacional. Mudar é preciso. Isto é mais do que um fato, uma
necessidade. O que faz a diferença é a forma com que se introduz
este tema na organização. Destaco a seguir duas ações fundamentais
para que o impacto das mudanças e sua eventual resistência sejam
minimizados ou até mesmo excluídos.
O primeiro passo é promover uma reflexão junto aos funcionários
sobre o assunto. Culturalmente, um dos maiores receios das pessoas
está relacionado a segurança. Por mais criativo que seja o nosso
povo para encontrar meios de subsistência, perder o emprego ainda
está no topo da lista das grandes ameaças. Quando surgem rumores de
que a empresa fará algum tipo de mudança, pronto... lá vem demissão!
Mesmo que isso não seja verdadeiro, a desconfiança já se
estabeleceu, e esse é o primeiro passo para a queda na
produtividade. A organização que estabelece um processo de
comunicação interna efetivo entre diretoria e funcionários tem
grandes chances de minimizar o impacto dos boatos. Portanto,
comunicar é preciso! Use de todas as formas para tornar claros os
rumos da organização, os projetos em andamento, a visão.
É preciso envolver as pessoas. Esta é a outra ação fundamental para
o gerenciamento das mudanças. Lembro da história de uma empresa que
precisava implantar o uso de uniforme em todas as unidades. No
passado ocorreram algumas experiências negativas, pois os
funcionários sentiam-se obrigados a usar e simplesmente “esqueciam”.
Com base nesta experiência desastrosa analisaram onde haviam falhado
e tentaram de uma nova maneira. Um dia o presidente convocou uma
reunião com a diretoria e ao final dela todos os diretores saíram
trajando os novos uniformes. E assim vestiram-se todos os dias, por
duas semanas. Nova reunião, agora com os gerentes e mesma coisa:
todos vestindo uniformes. Outra reunião, desta vez com os
supervisores, e mais algumas semanas quando presidência, diretoria,
gerência e supervisão estavam devidamente uniformizados. Passado
pouco mais de um mês os funcionários sentiram-se “afrontados” e
solicitaram uma reunião com o presidente, que prontamente aceitou.
Os funcionários alegavam que se sentiam excluídos, pois só a chefia
tinha direito a usar uniforme. Eles reivindicavam o uso de uniforme
para todos os funcionários da empresa. Foi o que ocorreu!
A moral desta história é que qualquer mudança na estrutura de uma
organização altera a forma de ação das pessoas. Essas mudanças podem
estar relacionadas a implantação de nova tecnologia, de processos,
de máquinas, de relações internas, ao cardápio do restaurante ou ao
sistema de alimentação, com o estacionamento, ao local da empresa e
vai por ai afora. Isso tudo implica na forma como as pessoas deverão
ser geridas. Assim, a capacitação dos gestores para lidar em um
mundo de mudanças é fundamental para o sucesso organizacional. Se o
próprio gestor não lida positivamente com a transição como ele
poderá estimular seus colaboradores? É fato que não se conquista
esta habilidade da noite para o dia. É preciso tempo. Mas tempo é o
que primeiro se esvai quando falamos em mudanças. Tudo está cada vez
mais rápido, dinâmico e urgente. Por isso mesmo é crucial o trabalho
preventivo junto ao grupo gerencial e posteriormente ao grupo de
funcionários.
É preciso entender que os motivos que levam as pessoas a resistirem
às mudanças são muitos e não estão apenas relacionados a algo que
pode prejudicá-las. As pessoas resistem também a mudanças que podem
beneficiá-las a longo prazo. Este é o grande desafio dos líderes e
gestores. Suplantar suas próprias resistências e promover um
ambiente favorável ao desenvolvimento de novas atitudes, ações e
transformações.
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria & Eventos. Autor do livro "Reflexões do Mundo
Corporativo". Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).
Contato: artigos@personaconsultoria.com.br /
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