A Melhoria Pessoal Contínua
Por Carlos Alberto de Faria
18/06/2007
"Um homem do departamento pessoal abraçando
um empregado é o mesmo que o tesoureiro com
as mãos na caixa registradora."
Robert Townsend,
autor do imperdível "Dane-se A Organização!"
RESUMO:
"A melhoria pessoal, a melhoria dos relacionamentos, a melhoria da
auto, da hetero-percepção e do conhecimento, e a melhoria das
interdependências dentro da empresa, na família e fora delas.
Chegamos então à melhoria pessoal contínua."
As empresas só acessam a era do conhecimento, quando e se tiverem
implantado os princípios da qualidade em toda a organização, e estes
princípios estiverem operacionais, já colhendo frutos. O que é raro,
mas perfeitamente possível.
Por que podemos fazer tal afirmação?
A solução de problemas, tão bem documentada e exposta em livros e
manuais de qualidade, com as famosas ferramentas da qualidade, é uma
peça chave na implantação da qualidade. Um dos preceitos é a
gerência baseada em fatos e dados.
- "Confiamos em Deus, o restante traga-me dados.", - dizia um
discípulo de Deming.
A aplicação contínua destas ferramentas da melhoria contínua ensina
as pessoas que suposições devem ser confrontadas com os dados,
experiências devem ser feitas, controlando-se variáveis, sempre no
sentido de manter sob controle aquilo que se quer produzir melhor,
mais rápido e com menor custo.
Este aprendizado contínuo conduz as pessoas à humildade, pois todas
ficam, são e estão subordinadas aos fatos e dados. Desaparece o tão
famoso:
- "Eu acho que... "
Este tipo de afirmação é substituído por debates abertos,
confrontação de idéias e experiências que submetem os "achismos" do
grupo às condições da realidade, à experimentação.
Então, o que é melhor, é aprovado; o que é pior, abandonado; e o
principal de tudo: tudo fica documentado. A experiência vivida por
cada um dos empregados é insubstituível e compõe o seu acervo, a sua
experiência, e como escrita e documentada, torna-se também o legado
da equipe.
É esta humildade que propicia a base para o segundo ciclo do
aprendizado pessoal, que traz a empresa para iniciar o ciclo das
organizações que aprendem.
Na medida em que os problemas dos processos produtivos escasseiam,
verifica-se que a solução dos problemas nem sempre se localiza mais
nos processos de produção e administrativos, no ambiente externo de
cada pessoa. Os problemas que surgem estão relacionados às pessoas e
em seus relacionamentos.
Muitos problemas estão no âmbito interno de cada pessoa. É, então
chegada a hora, do segundo ciclo da melhoria contínua: a melhoria
pessoal e intransferível dos comportamentos e atitudes de cada
empregado, melhoria essa que se reflete nos seus relacionamentos
pessoais e, por tabela, na produtividade empresarial.
Quando defrontadas com este tipo de problemas, as empresas procuram
um tipo de solução "varinha de condão":
- "Vamos dar um curso de motivação!"
Lembre-se:
"Motivação é uma porta que só abre por dentro de cada pessoa."
Há pessoas, inclusive, que perderam a chave da porta da motivação, e
só com muita terapia podem vir a abrir essa porta.
O próximo passo na direção da qualidade é que cada empregado coloque
o seu próprio desempenho na direção da melhoria contínua. Estamos
falando, com todas as letras, que após a melhoria dos processos da
empresa, só resta melhorar os empregados, chegando-se à melhoria
pessoal contínua.
Por empregados aqui se entenda os ditos empregados do chão da
fábrica, os supervisores, os gerentes intermediários, os
fornecedores e parceiros, chegando à alta gerência. Todos!
RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Quando confrontados com seu próprio desempenho, e os relacionamentos
decorrentes das diversas e necessárias atividades empresariais, é
usual cada um colocar o problema para longe de si: o outro é o
culpado. Aqui entram as relações interpessoais.
Nas relações interpessoais ficam evidentes dois conceitos, a
princípio opostos, mas complementares em se tratando de relações
humanas: a independência e a interdependência.
RELAÇÕES INTERPESSOAIS: Independência
A independência obriga-se a vir acompanhada da palavra
responsabilidade, ou seja, uma independência responsável, pois todos
fazemos parte de uma equipe que cresce junto e responde
solidariamente pelos resultados.
A independência tem que ser responsável pela representação da equipe
por uma única pessoa "independente", mas atuando como membro
autorizado informalmente pela equipe e respaldada pelo conhecimento
compartilhado.
A independência faculta ao membro da equipe agir sozinho, quando
julgar necessário, perguntando-se:
- "O que a equipe faria no meu lugar?"
RELAÇÕES INTERPESSOAIS: Interdependência
Já a interdependência não pode criar dependência, pois somos
responsáveis por resultados, portanto a necessária interdependência
tem que ser eficaz.
A interdependência tem que ser eficaz no sentido do comprometimento
mútuo e coletivo para alcançar os objetivos.
A interdependência faculta ao membro da equipe, no caso de incerteza
e dúvida, trazer o assunto à equipe e perguntar:
- "Pessoal, nesta situação, o que fazer?"
O SEGUNDO CICLO DA MELHORIA PESSOAL CONTÍNUA
Normalmente, antes de se entrar nesse ciclo de aprendizagem,
ouvem-se os seguintes comentários:
- "Eles têm que ser abertos à mudança."
- "Eles têm que querer aprender."
- "Deixa 'eles' lá, um dia eles aprendem."
O "eles" aí podem ser: clientes, colegas de trabalho de outro setor,
empregados terceirizados. Ou seja, os "outros" podem ser quaisquer
outras "tribos", desde que não seja a nossa a assumir a "culpa" ou a
responsabilidade pela mudança necessária, mas tão dolorosa.
Colocar nas costas dos outros os problemas é evitar a solução, pois
o problema não é enfrentado, é fugir do compromisso da
interdependência, é o famoso auto-engano.
O "outro" não é o problema, quando sou eu não partilho com ele
minhas percepções, minhas dúvidas, minhas expectativas e os nossos
resultados, pois afinal estamos todos no mesmo barco, não é mesmo
[Name]?
E por não partilhar, pois, inconscientemente, eu quero justificar
uma falha minha, eu coloco nos ombros do próximo a minha
incompetência na busca proativa de soluções.
Esta é uma atitude puramente defensiva. É negar a responsabilidade
pela sua ação no sentido de fazer parte ou conduzir uma mudança,
colocando a responsabilidade longe de si, inevitavelmente nas costas
alheias e próximas, mas nos pertencentes a outra "tribo", jamais a
nossa ( o "eu" ou o nosso grupo de "perfeitos").
A MINHA CONTRIBUIÇÃO
O segundo ciclo da melhoria pessoal contínua exige que cada
empregado faça-se a seguinte pergunta:
- "Qual é a minha contribuição?"
Então:
- como assumir a responsabilidade pela minha própria mudança de
atitude?
- como não ter uma postura defensiva?
- como eliminar a culpa dos outros, ampliando e facilitando a
mudança?
A sua resposta é obtida através de você mesmo, respondendo às
seguintes perguntas:
- "O que eu preciso fazer, ou mudar, para que isto ou aquilo
aconteça?"
- "O que eu posso fazer para que eu enxergue o que o outro está
enxergando e ele perceba o que eu estou querendo mostrar?"
- "Como posso compartilhar expectativas, visões e percepções
diferentes?"
- "Como eu posso facilitar para os outros a compreensão daquilo que
eu estou querendo passar?"
- "Como eu posso conduzir um processo de aprendizagem onde eu
facilite a percepção de que a mudança, que necessita ser feita, é
boa para todos nós?"
- "Como eu posso aumentar a minha percepção para entender as
dificuldades que eles estão tendo?"
- "Como eu posso mostrar e demonstrar o meu ponto de vista, de tal
forma que eles percebam o que eu estou querendo transmitir?"
- "Como poderemos chegar a um ponto de negociação onde os lados
saiam satisfeitos e comprometidos com uma solução de consenso?"
- "Como eu vou fazer para tirar essa barreira ou ultrapassá-la
visando promover a mudança necessária?"
- "Como eu coloco os meus esforços no sentido de fazer que
caminhemos todos o mesmo caminho, ajudando-nos uns aos outros?"
Estes são os tipos de perguntas que o segundo ciclo da melhoria
pessoal contínua permite. Esta é uma etapa da implantação da
qualidade pessoal, da qualidade de cada pessoa, a etapa seguinte ao
domínio das ferramentas para solução de problemas externos
(processos).
Estas perguntas também permitem atingir o patamar das empresas que
aprendem, pois a empresa só muda para melhor quando seus empregados
aprendem continuamente a serem cada vez melhores, como resultado de
desempenhos melhores, como resultado de pessoas cada vez melhores...
Esta nova etapa é a da solução dos problemas internos (pessoais e de
relacionamento) que começam a aflorar, encontrando seus ajustes
continuamente. A partir deste momento a única constante na vida da
empresa é a mudança, já que o mercado muda pela própria mudança da
empresa, num ciclo de interdependência contínua.
É nesta etapa e neste processo de mudança dos empregados, como um
todo, que a empresa se habilita à mudança contínua: o segundo ciclo
da melhoria pessoal contínua, onde o foco das melhorias está nos
comportamentos e nas atitudes de cada empregado.
Carlos Alberto de Faria é sócio diretor da Merkatus - Fonte:
Merkatus