Memória e Trauma
Por Sirley Bittú
22/03/2007
Nossa história pessoal é uma seqüência de memórias resultantes de
nossas vivências internas e externas. Muitas vezes nos lembramos de
pequenos detalhes como um perfume, um som, uma cena, uma palavra, um
gesto, escolhas muito particulares e muitas vezes inexplicáveis que
funcionam como referências em nossa vida.
Para entender como um trauma se instala em nosso sistema de
informações, precisamos primeiramente entender um pouco sobre
memória. Nosso cérebro tem a capacidade de guardar toda informação a
que temos acesso, de forma direta ou indireta, digo de forma
indireta, porque temos a capacidade de guardar informações até mesmo
sem consciência disso.
As memórias podem ser compostas de imagens, sons, nomes, partes do
corpo, sentimentos e sensações vivenciadas, cheiros, sabores,
texturas, temperatura, lugares, clima emocional etc., tanto podemos
ter várias dessas informações sobre um determinado evento, ou apenas
uma delas guardadas na memória.
O ser humano é extremamente rico em sua forma de se relacionar com o
mundo, experimenta uma gama enorme de sentimentos, emoções e
percepções em suas vivências, que são decodificadas pelo crivo de
suas crenças culturais e elaboradas pelo viés de sua maturidade
emocional. Uma criança, por exemplo, pode assistir a uma briga dos
pais e sentir-se culpada por entender que é ela a causa daquele
desentendimento, porque, pela sua perspectiva emocional, o mundo
ainda está muito centrado em seus desejos. A mesma briga pode ser
entendida pelos pais como uma busca de entendimento entre o casal
devido a uma divergência de opiniões, não estando em nada
relacionado com a criança.
Nosso cérebro busca processar todas as nossas vivências durante o
estágio mais profundo de nosso sono, caracterizado por movimentos
oculares rápidos (Rapid Eye Movements - sono REM), traduzindo-as
para nosso entendimento como fonte de informação e experiência,
confirmando ou não valores e crenças sobre nós mesmos e sobre o
mundo que nos cerca. Quando a vivência traz consigo uma carga
emocional muito forte, como uma situação de estresse intensa, o
cérebro pode não conseguir elaborar de forma apropriada aquela
situação, e a informação adquirida no momento do evento - incluindo
imagens, sons, afeto e sensações físicas - é mantida
neurologicamente em seu estado perturbador causando o que chamamos
de nó neurológico. Desta forma este conteúdo traumático continua a
ser deflagrado por uma variedade de estímulos internos e externos,
expressando-se de diferentes formas, como, sonhos repetitivos,
pesadelos, flashbacks e pensamentos intrusivos - os assim chamados
sintomas positivos do TEPT - Transtorno do Estresse Pós-Traumático,
dificuldades para relacionar-se afetivamente e profissionalmente,
fobias etc.
O que define se o cérebro conseguirá ou não processar aquela
informação é a carga emocional da situação e a capacidade do
indivíduo em lidar com esta carga.
Esta informação que foi guardada de forma disfuncional, passa a
interferir na vida do indivíduo, trazendo sofrimento, limitando seus
relacionamentos e capacidade de lidar com as mais diversas situações
em sua vida.
Uma proposta de tratamento para o trauma emocional é o EMDR – Eye
Movement Desensitization and Reprocessing - que busca, através dos
movimentos bilaterais, ativar o sistema de processamento de
informação, permitindo que aquela memória traumática possa ser
acessada e elaborada.
A hipótese é de que os movimentos bilaterais utilizados no EMDR
deflagram um mecanismo fisiológico que ativa o sistema de
processamento de informações, atingindo a rede de memória que guarda
a informação disfuncional, desta forma o trauma pode ser processado
e liberado, a memória continua, mas a perturbação não.
O modelo do processamento acelerado de informações oferecido pelo
EMDR é uma hipótese neurofisiológica de trabalho, pois o
conhecimento atual da fisiologia cerebral é ainda insuficiente para
que seja verificada sua precisão. Um dos princípios básicos do EMDR
é a noção da existência de uma tendência dinâmica do nosso cérebro
em direção á saúde mental. Da mesma forma que nosso corpo tem
capacidade de cicatrizar uma ferida física, tem também a capacidade
de cicatrizar feridas emocionais. O EMDR ajuda neste processo. O que
sabemos é que a resolução do trauma é alcançada pela estimulação dos
processos inerentes de autocura do cliente.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br