Mimar os filhos. Um ato de amor?
Por Sirley Bittú
06/06/2007
Na maioria das vezes, a simples perspectiva de gerar um filho já
enche os futuros pais de alegria e amor. Esses pais passam a
cultivar a idéia de serem os provedores e guardiões deste pequeno
ser. Para aqueles que decidem investir nesta empreitada, é difícil
imaginar alguém que não pense logo em cobrir o futuro herdeiro de
agrados e de mimos, tentando satisfazer todas as suas vontades.
Muitas vezes trata-se do primeiro filho que foi muito esperado e
desejado, ou o primeiro menino, ou a primeira menina, ou mesmo
aquele filho varão vindo inesperadamente tirar a família de certo
acomodamento já existente. De qualquer forma o comportamento mais
comum é tentar oferecer ao pequeno tudo aquilo que estiver ao seu
alcance (e algumas vezes até o que não está), para vê-lo feliz.
Toda vez que iniciamos o desenvolvimento de um novo papel social,
nos remetemos a nossas memórias, aos modelos que tivemos e às nossas
avaliações e julgamentos desses comportamentos e atitudes. Nosso
papel de pais é naturalmente formado por esses modelos, percepções e
crenças do que é certo ou errado e do que acreditamos que teria sido
melhor para nós. Tentamos sempre evoluir na tentativa de superar os
erros que nossos pais cometeram.
Com a necessidade de trabalhar o dia todo, os pais são obrigados a
deixar seus pequenos tesouros com babás, em creches ou em
escolinhas, provocando culpa - muitas vezes inconsciente -, e uma
conseqüente necessidade de recompensar seus filhos.
A inexperiência em educar, natural de todo pai de primeira viagem e
as inseguranças que surgem no desempenho de um papel tão novo e tão
cheio de responsabilidade, são apenas mais alguns dos inúmeros
fatores que interferem na forma como os pais estarão demonstrando
todo esse amor a seus filhos.
Daqui podemos ter uma idéia de como o mimar surge nas famílias.
Entendemos mimar os filhos como oferecer todo amor, sem medida,
protegendo-os, cobrindo-os de cuidados e agrados.
O problema na verdade está no entendimento do que é amor. Amar
também é frustrar é oferecer ao outro a possibilidade dele perceber
que têm limites. É justamente essa noção que ajuda a desenvolver a
percepção de individualidade e singularidade. Quando se descobre o
que está fora de si e o que não está sob o nosso controle, nos damos
conta de quem somos e, mais à frente em nosso desenvolvimento, de
até aonde podemos chegar.
Desenvolvemos daí a noção de respeito.
Uma criança mimada, na verdade é alguém que se sente muito amado,
tanto amado, que passa a acreditar que o outro não conta e que
apenas seus desejos devem ser realizados. Torna-se egocêntrica, pois
espelha o que sempre viveu em sua vida tendendo a ver a realidade
por essa perspectiva.
A sensação de ser muito amado, sempre positiva no desenvolvimento
humano, torna-se questionável pela própria criança, pois receber
muito sem ter de retribuir nada, traz consigo a sensação de não ser
real de não ser verdadeiro. Sabemos intuitivamente que nas relações
reais existe sempre uma troca.
A questão central não é amar demais, mas, aprender que a frustração
faz parte de nossas vidas e do amor, e serve para nos fortalecer. Se
não vivenciamos a frustração, não conseguimos entender quais são
nossos limites e por isso não temos a possibilidade de superá-los.
Em conseqüência, também não conhecemos o limite dos outros e,
portanto, temos mais dificuldade em respeitá-los.
Quem ama frustra, coloca limites e dá parâmetros.
Então, mimar os filhos pode ser um ato de amor se incluímos nesse
conjunto de atitudes alguns parâmetros, como noções de
individualidade, respeito a si próprio e ao outro, responsabilidade
pessoal, moral, social e ética. Os parâmetros ajudam a dar sentido e
realidade àqueles que cuidamos, preparando-os para viver e se
relacionar.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
Consultório (11) 5083-9533 - Visite seu Site
Email: sirley.regina@terra.com.br